O jornal comunista francês L´Humanité publicou nesta terça-feira (19) ampla reportagem sobre o golpe de Estado em curso no Brasil. Na quarta-feira (13) da semana passada, o jornal publicou um comunicado do Partido Comunista Francês (PCF), sobre a votação na comissão especial do relatório apresentado pelo deputado Jovair Arantes. Na nota, o PCF manifesta solidariedade com a esquerda brasileira. Leia a íntegra.
Com a decisão tomada por uma comissão parlamentar dominada pela direita, foi lançado o procedimento em favor da destituição da presidenta Dilma Rousseff foi. Trata-se de uma nova etapa na ofensiva desencadeada pela direita com o apoio das grandes organizações patronais do agronegócio e da indústria, desde o primeiro momento após a reeleição da presidenta brasileira.
Desta vez, Dilma Rousseff está ameaçada de destituição sob o pretexto de ter manipulado as contas do orçamento. Na realidade, ela nada vez senão assegurar a continuidade dos programas sociais que beneficiam milhões de pessoas com ajudas financeiras e o acesso à saúde e à educação.
Dilma Rousseff é acusada por aqueles que sempre se opuseram a essas políticas de combate à pobreza, de “pôr em risco o equilíbrio das contas públicas e a saúde financeira do país”.
Aqueles que agem em favor da destituição da presidenta brasileira são os mesmos que se opuseram às medidas propostas pela esquerda para reformar o sistema político e pôr fim ao financiamento dos partidos e das campanhas eleitorais pelas empresas privadas.
A direita, que foi derrotada nas eleições presidenciais de 2014, saiu fortalecida nas eleições legislativas. Ela conseguiu votar medidas que reforçam a terceirização e a precarização. Impôs limites à política de combate ao trabalho forçado desenvolvida pela esquerda. A direita atacou os direitos das mulheres e tomou iniciativas homofóbicas. É esta mesma direita que tenta de tudo para derrubar Dilma Rousseff que representa um grande obstáculo a seus projetos de restauração conservadora.
O PCF denuncia o caráter político do processo iniciado contra a presidenta Dilma Rousseff por uma oposição que não tem legitimidade para acusá-la de corrupção. O presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, que demandou a destituição da presidenta, é ele próprio acusado de ter feito desvio de dinheiro para cinco contas na Suíça e seu nome é invocado nos negócios dos “Panamá papers”. Mais da metade dos membros da comissão especial que votou a favor do procedimento de destituição é também suspeita ou investigada por casos de corrupção, assim como dezenas de deputados que pretendem julgar a presidenta brasileira.
A atitude da mídia, que faz desses fatos um espetáculo deplorável, também é condenável, como é também o comportamento de boa parte do aparato judiciário que tem por alvo de maneira seletiva os militantes da esquerda.
O PCF, solidário com os militantes do Partido dos Trabalhadores e do conjunto da esquerda brasileira, condena a tentativa em curso de realizar um verdadeiro golpe de Estado, que não se assume como tal.
Hoje a direita utiliza no Brasil os mesmos procedimentos que levaram aos golpes de Estado institucionais contra o presidente Fernando Lugo no Paraguai em 2012, e contra José Manuel Zelaya em Honduras em 2009.
L´Humanité; tradução da redação de Resistência
[:fr]Avec la décision prise par une commission parlementaire dominée par la droite, la procédure en faveur d’une destitution de la présidente Dilma Rousseff est lancée. Il s’agit d’une nouvelle étape dans l’offensive lancée par la droite avec le soutien des grandes organisations patronales de l’agro-business et de l’industrie, dès les premières heures qui ont suivi la réélection de la présidente brésilienne.
Cette fois-ci, Dilma Rousseff est menacée de destitution sous prétexte d’avoir manipulé les comptes du budget. En réalité, elle n’a fait que s’assurer de la continuité des programmes sociaux qui bénéficient à des millions de personnes par des aides financières et l’accès à la santé et à l’éducation.
Dilma Rousseff est accusée, par ceux qui se sont toujours opposés à ces politiques de combat contre la pauvreté, de « mettre en danger l’équilibre des comptes publics et la santé financière du pays ».
Ceux qui agissent en faveur de la destitution de la présidente brésilienne sont les mêmes qui se sont opposés aux mesures proposées par la gauche pour réformer le système politique et pour mettre fin au financement des partis et des campagnes électorales par les entreprises privées.
La droite qui a été battue aux présidentielles de 2014 a pu se renforcer aux législatives. Ellea pu faire voter des mesures qui renforcent le recours à la sous-traitance et à la précarisation. Elle a imposé des limites à la politique de lutte contre le travail forcé menée par la gauche. Elle s’est attaquée aux droits des femmes et a pris des initiatives homophobes. C’est elle, cette même droite qui tente tout pour faire tomber Dilma Rousseff qui représente un obstacle majeur à ses projets de restauration conservatrice.
Le PCF dénonce le caractère politique du procès entamé contre la présidente Dilma Rousseff par une opposition illégitime pour l’accuser de corruption. Le président de la Chambre Eduardo Cunha, qui a demandé la destitution de la présidente, est lui même accusé d’avoir fait des placements dans cinq comptes en Suisse et son nom est évoqué dans l’affaire des « Panama papers ». Plus de la moitié des membres de la commission spéciale qui vient de voter en faveur de la procédure de destitution est aussi soupçonnée ou poursuivie pour des cas de corruption ainsi que des dizaines des députés qui prétendent juger la présidente brésilienne.
L’attitude des médias qui font de ces affaires un spectacle déplorable est aussi condamnable comme l’est le comportement d’une bonne partie de l’appareil judiciaire qui cible de manière sélective les militants de la gauche.
Le PCF, solidaire des militants du Parti des travailleurs et de l’ensemble de la gauche brésilienne condamne la tentative en cours de mise en place d’un véritable coup d’État qui ne dit pas son nom.
La droite utilise aujourd’hui au Brésil les mêmes procédés qui ont conduit aux coups d’État institutionnels contre le président Fernando Lugo au Paraguay en 2012, et contre José Manuel Celaya en Honduras en 2009.
L´Humanité
