Discurso do embaixador da Venezuela em Roma, Julian Isaias Rodriguez Dias, por ocasião da posse do presidente Nicolás Maduro.
Por ocasião da posse do presidente legítimo e constitucional da Venezuela, Nicolás Maduro, a embaixada do país sul-americana em Roma recebeu partidos políticos e movimentos sociais italianos. Entre estes estava uma delegação do Partido Comunista Italiano, na qual se encontrava presente o intelectual comunista brasileiro Marco Aurélio da Silva, que enviou o texto à redação da Página da Resistência
O mandato presidencial que inicia hoje, com a posse do Presidente Nicolás Maduro Moros, é o resultado da escolha expressa pala maioria do povo com as eleições de 20 de maio de 2018.
- Tomaram parte desta eleição 9.389.056 eleitores. 5.823.728 venezuelanos votaram para o presidente Maduro (67,8% dos votos). Das eleições participaram quatro candidatos representando mais de 50 partidos políticos e movimentos.
- Um setor da oposição venezuelana não participou das eleições com o objetivo de deslegitimar o seu resultado e, não obstante isso, o processo se desenvolveu em um clima civil e pacífico. Entre os que se abstiveram a maioria era representada pelos partidos que se reagrupavam em torno da MUD (Mesa de La Unidad Democrática), aliança de oposição que depois se extinguiu na sequência de sucessivas derrotas.
- As organizações internacionais que acompanharam o processo eleitoral certificaram que a eleição se desenvolveu em conformidade com as leis que regem o sistema eleitoral venezuelano. Os peritos eleitorais aprovaram os resultados por meio de relatórios técnicos.
- As eleições de 20 de maio é o 19o processo eleitoral desde 2004 (quando foi implementado o voto eletrônico na Venezuela). Satisfaz todos os modelos internacionais, é confiável, transparente e um dos sistemas mais seguros do mundo. Não obstante, o governo dos Estados Unidos, juntamente com um grupo de países da região (13 entre 36) e outros governos europeus, apoiados pelo secretário geral da OEA, se recusam em reconhecer a vontade do povo venezuelano.
- Em 2018 os Estados Unidos iniciaram uma campanha política, midiática e diplomática para deslegitimar a convocação da Assembléia Nacional Constituinte. A primeira fase compreendia um feroz ataque midiático e político para pôr em discussão a Assembléia Nacional Constituinte. Os centros eleitorais foram tomados de assalto, funcionários e cidadãos agredidos, máquinas de votação incendiadas e foram bloqueadas estadas para impedir a passagem de eleitores.
- Não obstante, 8.089.320 eleitores votaram a favor da paz. A Assembléia Nacional Constituinte foi convocada em conformidade com a Constituição. A sua eleição deu origem à paz e a uma ordem institucional diante da violência que causou a morte de 120 pessoas em 2017. A segunda fase do ataque consistia no não reconhecimento dos resultados da Assembléia Nacional Constituinte.
- Na terceira fase foram adotadas uma série de ações diplomáticas, econômicas e políticas para desacreditar as autoridades venezuelanas através de medidas unilaterais. Foram inúmeras as acusações diante da Corte Penal Internacional, mas a tentativa de aplicar a Carta Democrática Interamericana faliu. Como também a criminalização do governo venezuelano por parte dos organismos multilaterais. Esta campanha hostil viola a Carta das Nações Unidas e os princípios do direito internacional.
- A estratégia dos Estados Unidos é aquela de produzir uma ruptura democrática para sustentar a ilegitimidade do presidente Maduro a partir de 10 de janeiro de 2019. Nesta campanha, incluíram a suposta crise humanitária que “obrigaria” a agir contra a Venezuela com o objetivo de “proteger os venezuelanos”.
- Atribuem a campanha a uma suposta comunidade internacional e é a mesma que com este nome foi usada para invadir e declarar guerras e crimes de lesa humanidade. Este plano persegue diversos objetivos:
– Não reconhecer o governo legítimo da Venezuela;
-Exercer pressões sobre os países membros das Nações Unidas para que se unam ao isolamento internacional;
– Retirada da representação diplomática ou ações bilaterais no campo político e econômico contra a Venezuela;
- Prepara-se um cenário para legitimar qualquer agressão contra a República Bolivariana da Venezuela e as suas instituições, autoridades, inclusive uma eventual operação militar, uma possibilidade avançada em mais de uma ocasião pelo presidente Trump. Ao mesmo tempo, o não reconhecimento do governo da Venezuela permitiria aos inimigos promover e financiar as ações de desestabilização interna que facilitam a derrubada do governo, entre elas a eliminação física do presidente como tentaram fazer em 4 de agosto de 2018.
- O não reconhecimento do governo legítimo da Venezuela permitirá aos Estados Unidos aumentar as ações criminosas para bloquear e sabotar a economia venezuelana, através de medidas coercitivas unilaterais, qualificadas como “crimes de lesa humanidade”. O bloqueio econômico contra a Venezuela impede o normal abastecimento do país com alimentos, medicamentos, bens de primeira necessidade e fecha o acesso aos financiamentos internacionais através de uma política de perseguição financeira.
- Toda esta estratégia está baseada em querer justificar diante da comunidade internacional a proposta de uma “transição política na Venezuela”, que não está prevista na nossa Constituição e que revogaria a soberania política da República Bolivariana da Venezuela.
- Os Estados Unidos sabotaram as tentativas de diálogo e ordenaram a oposição para que se retirasse de todos os processos eleitorais convocados a partir de 2015. Se opõem a uma solução pacífica da situação venezuelana, a qualquer solução eleitoral, como demonstrado em fevereiro do ano passado, quando bloqueou a assinatura de um acordo alcançado entre os grupos e o governo venezuelano na República Dominicana.
- O objetivo dos Estados Unidos é o de provocar uma crise geral que leve a uma saída violenta com a conseqüente tomada de poder por parte das elites econômicas e políticas nacional e internacional.
- Disto resulta claramente o insólito comunicado adotado pelo Grupo de Lima em 4 de janeiro, o qual (ignorando os princípios do direito internacional) desafia o Estado venezuelano a reconhecer um órgão legislativo envolvido em processo jurídico diante da Suprema Corte.
- O conjunto de medidas e ações contra a Venezuela e a criação de situações de tensão nos limites ocidentais e meridionais da Venezuela são elementos que começam a exercer pressões e ameaam a paz e a integridade da vida nacional republicana. Nesse sentido, os atos previstos para 10 de janeiro de 20119 estão enquadrados nos seguintes princípios e disposições constitucionais:
– A soberania popular reside de maneira intransferível no povo;
– Nicolás Maduro foi eleito em 20 de maio de 2018 por 67,8% dos votantes e proclamado legalmente Presidente para o período 2019-2025;
– A Constituição Bolivariana da Venezuela estabelece que em 10 de janeiro do primeiro ano do mandato presidencial, o presidente eleito faça juramento diante da Assembléia Nacional e que, em caso contrário, o faça diante da Suprema Corte.
- A Assembléia Nacional se encontra em uma situação de “ultraje” por não ter respeitado as sentenças emitidas pela Suprema Corte que a puseram em uma situação de suspensão das suas funções enquanto não estiver de acordo com a lei. É este o motivo pelo qual o Presidente não poderá fazer o seu juramento diante da Assembléia Nacional. Nenhuma autoridade venezuelana está sujeita a ordens provenientes de uma potência estrangeira. Isto significaria supor um ato de cisão da soberania política e um desvio de fato da Constituição.
- As agressões contra a Venezuela constituem graves ameaças à paz continental e uma ação militar ou a derrubada do seu governo não só afundaria a Venezuela em uma situação política ingovernável, como teria efeito sobre a estabilidade do continente. A diplomacia bolivariana da paz estabelece os princípios de respeito da soberania, da autodeterminação dos povos e da não ingerência nos negócios internos dos Estados como pilares da nossa política externa. E não aceita, sob nenhum pretexto, qualquer interferência nos seus negócios internos.
- A Venezuela defenderá a sua dignidade, independência e soberania, e não cederá os direitos do seu povo ou os recursos do seu território a potências estrangeiras. A Venezuela está empenhada em abrir canais de diálogo com todos os setores políticos internos em respeito à Constituição e às leis da República. O governo bolivariano estabeleceu passos concretos na busca de um clima de convivência e normalização da vida política.
- Em outubro de 2018, o presidente Maduro deu início a um programa de retomada, crescimento e prosperidade econômica. O programa iniciou a dar os seus frutos ao controlar variáveis econômicas fortemente alteradas pela sabotagem. O programa inclui uma estratégia de atração de investimentos, abertura e diversificação econômica para recuperar a produção nacional e transformar o modelo rentista.
- A estabilidade política e a paz social são essenciais para a Venezuela superar os seus problemas econômicos. E é por isto que os inimigos do nosso país não desistem e buscam sabotar a normalização da vida política, impedem o diálogo e continuam a conspirar para atormentar o país com a violência e atacar a nossa economia. A Venezuela continuará a avançar.
Roma, 10/01/2019
Tradução do italiano de Marcos Aurélio da Silva, professor do Departamento de Geociência da UFSC e que esteve na embaixada venezuelana de Roma por ocasião da posse de Nicolás Maduro a convite de membros da direção do PCI.
