Opinião
Xi Jinping e Joe Biden abrem caminho para diálogo e a cooperação
Na cúpula de São Francisco, ambas as partes examinaram seu complexo relacionamento e buscaram abrir caminhos para que os laços entre as duas maiores economias do mundo marchem sobre trilhos corretos, escreve o jornalista José Reinaldo Carvalho
Por José Reinaldo Carvalho (*) – O Presidente da China, Xi Jinping, e seu homólogo estadunidense, Joe Biden se reuniram nesta quarta-feira (15), à margem da cimeira da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), um encontro aguardado com grande expectativa em todo o mundo, o primeiro desde que ambos se entrevistaram em Bali, Indonésia, em novembro do ano passado.
O Presidente Xi fez uma apreciação sobre aspectos cruciais da situação mundial. Ele observou que um ano se passou desde sua última reunião em Bali, na Indonésia, e que muita coisa aconteceu desde então. “O mundo se livrou da pandemia de Covid, mas ainda está sob seus tremendos impactos”, disse.
Sobre a economia global, o líder chinês considerou que “está se recuperando, mas seu ímpeto continua lento; as cadeias industriais e de abastecimento continuam sob a ameaça de interrupção; e o protecionismo está a aumentar”. Na sua opinião, “tudo isto são problemas graves”.
Na cúpula de São Francisco, ambas as partes examinaram seu complexo relacionamento e buscaram abrir caminhos para que os laços entre as duas maiores economias do mundo marchem sobre trilhos corretos.
A China está convencida de que o caminho correto é definido pelo respeito mútuo, a convivência pacífica e a cooperação com benefícios recíprocos. Se ambos os países aderirem a esses princípios, serão capazes de desempenhar juntos um papel construtivo no mundo, algo que é de vital importância para ambos os lados e para o resto do globo. De acordo com o Presidente Xi, “o relacionamento China-EUA é a relação bilateral mais importante do mundo e deve ser ser percebido e vislumbrado no contexto amplo das transformações globais aceleradas nunca vistas em um século”.
O encontro de São Francisco foi uma oportunidade valiosa para estabilizar os laços bilaterais a fim de que correspondam às aspirações de seus povos e até mesmo à expectativa comum de toda a comunidade internacional. Nesse contexto, Xi enfatizou que os laços sino-americanos devem desenvolver-se “de uma forma que beneficiem os nossos dois povos e cumpram a nossa responsabilidade pelo progresso humano”.
De acordo com um comunicado da Rádio Internacional da China, o presidente Xi Jinping destacou que a relação China-EUA nunca foi tranquila nos últimos 50 anos e mais, e que sempre enfrenta problemas de um tipo ou de outro. No entanto, continuou avançando em meio a reviravoltas. “Para dois grandes países como China e Estados Unidos, virar as costas um para o outro não é uma opção. É irrealista que um lado remodele o outro. E o conflito e o confronto têm consequências insuportáveis para ambos os lados”.
A China deixou claro que aposta na coexistência e na cooperação, consciente de que ambas as partes podem sofrer prejuízos em caso de confrontação. Os tempos atuais são diferentes do período da guerra fria e uma mentalidade que preconize um novo tipo de guerra fria não é benéfica à convivência pacífica. Tal mentalidade é um anacronismo em plena terceira década do século 21. Nesse sentido, a diplomacia chinesa é sempre pedagógica ao assinalar que não fazem sentido os métodos de contenção à China, como outrora se fez com a antiga União Soviética. Os desafios do mundo atual só podem ser enfrentados com uma condução ponderada, racional e pragmática das relações sino-americanas. “A competição entre os grandes países não é a tendência predominante dos tempos atuais e não pode resolver os problemas enfrentados pela China e pelos Estados Unidos ou o mundo em geral”. O presidente Xi Jinping expressou sua firme confiança em um futuro promissor da relação bilateral. “Desde que se respeitem, coexistam em paz e busquem uma cooperação vantajosa para todos, serão plenamente capazes de superar as diferenças e encontrar o caminho certo para os dois principais países para se darem bem”.
A mentalidade de confrontação, a tentativa de conter o desenvolvimento e a ascensão da China, de cercá-la, de desconhecer o princípio de que no mundo existe apenas uma China ou de mudar o sistema socialista não correspondem às necessidades do bom relacionamento bilateral.
Há uma percepção aguda em todo o mundo de que nos cenários complexos e turbulentos pelos quais atravessa a situação internacional e em que os laços entre a China e os Estados Unidos têm vivido alguns impasses, o encontro entre os dois líderes é um marco para abrir uma nova etapa no relacionamento. A abertura para o diálogo demonstrada em São Francisco é, assim, um passo crucial na direção certa.
Durante a cúpula Xi-Biden de São Francisco ficou patente o desejo mútuo de estabilizar as relações bilaterais, ainda que subsistam problemas.
A cúpula bilateral evidenciou que a China e os EUA estão explorando maneiras de cooperar, mesmo diante de uma acirrada concorrência. Um exemplo disto é o documento emitido pelo Ministério da Ecologia e Ambiente da China (MEE) na quarta-feira (15), horas antes do encontro entre Xi e Biden. “A China e os EUA concordaram em enfrentar conjuntamente o aquecimento global e operacionalizar um grupo de trabalho centrado em áreas que incluem a transição energética, o metano, a economia circular e a eficiência de recursos, o desenvolvimento de baixo carbono e a desflorestação”, de acordo com o documento.
O encontro entre Xi Jinping e Joe Biden em São Francisco não foi apenas uma oportunidade de resolver diferenças, mas também de construir um terreno comum para a cooperação em áreas relevantes e enfrentar desafios comuns. Entre estes desafios está o de promover a recuperação econômica, enfrentar as mudanças climáticas, a proliferação nuclear e conflitos regionais agudos.
Após a reunião entre Xi e Biden, surge a expectativa em toda a comunidade internacional de que a disposição para o diálogo se reflita em ações concretas. À medida que os líderes dessas potências continuam a explorar oportunidades de colaboração e resolução de conflitos, o mundo aguarda ansiosamente para ver se esta mudança de tom é o prenúncio de uma era mais amistosa nas relações sino-americanas.
O estabelecimento de compromissos mútuos e a redução de barreiras comerciais podem criar um ambiente mais favorável para empresas e investidores de ambos os lados. Isso não apenas beneficia diretamente as economias chinesa e americana, mas também contribui para a estabilidade e prosperidade econômica global.
Essas expectativas se fortalecem se são levadas em consideração as observações do Presidente Xi sobre as pesadas responsabilidades que ele e o Presidente Biden carregam para com os dois povos e pelo mundo. Por isso, o líder chinês manifestou a esperança de um intercâmbio profundo de pontos de vista para alcançar novos entendimentos com o chefe de Estado estadunidense sobre questões estratégicas, abrangentes e críticas para a direção das relações China-EUA e sobre as principais questões que afetam a paz e o desenvolvimento mundiais.
(*) Jornalista, editor do Resistência, membro do Comite Central e da Comissão Política Nacional do Partido Comunista do Brasil, secretário-geral do Cebrapaz – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz