Mídia
Venezuela viu nascer o golpe de Estado midiático, assegura Ramonet
O reconhecido jornalista espanhol, Ignacio Ramonet, destacou que o primeiro golpe de Estado midiático da história, foi produzido na Venezuela, o que nos obriga a refletir sobre como utilizar os meios de comunicação.
Um dia como hoje, há 14 anos, tentou-se derrubar o então presidente Hugo Chávez, o que só foi possível, sobretudo, graças ao papel jogado pelos meios de comunicação, declarou Ramonet à Prensa Latina, por ocasião do evento “Venezuela na Encruzilhada”, organizado pela Rede de Intelectuais e Artistas em Defesa da Humanidade.
O diretor da versão em espanhol da publicação Le Monde Diplomatique acrescentou que precisamente por esse feito a Venezuela é também o país onde mais se refletiu sobre como os meios dominantes têm manipulado a população .
A comunicação de massas tem inegável importância, entretanto sob a condição de que se trabalhe bem a mensagem; não basta contar com muitos meios para ser eficaz, uma vez que quando um sistema repete demasiadamente o mesmo, é possível que produza o resultado contrário ao que se busca, o seja, a rejeição por parte da audiência, explicou.
Ramonet exemplificou com o caso da Argentina, onde Nestor Kichner chegou à presidência, apesar dos meios de comunicação dominantes serem privados, com o grupo Clarín à frente.
Desde então, na última década, nessa nação existem meios públicos muito importantes, significativas redes comunitárias foram criadas e, apesar de tudo isso, paradoxalmente, a direita se impôs nas últimas eleições presidenciais, apontou.
O analista explicou que a razão está provavelmente na elaboração da mensagem: relaxamos na ideia de alcançaremos nosso o objetivo porque temos muitos meios. Porém, essa não é a fórmula, é necessário difundir um discurso bem elaborado, agregou.
O jornalista alertou, dizendo que o que a direita está fazendo nestes últimos meses é aproveitar-se da crise econômica mundial para regressar com métodos diferentes.
É o que estamos observando no Brasil, onde se tenta dar um golpe de Estado judiciário contra o governo de Dilma Rousseff; ou aqui na Venezuela, onde a maioria opositora na Assembleia Nacional tenta impor leis que na realidade não estão previstas na Constituição, ressaltou Ramonet.
Ou seja, tratam de criar debates que já não são tão frontais como os de 11 de abril de 2002, mas que, na realidade, têm o mesmo objetivo: deter a experiência progressista, porque ela vai contra os grandes interesses das oligarquias, acrescentou.
O autor de “Cem horas com Fidel (Castro)” recordou o líder da Revolução Cubana, que – em sua opinião – tinha muito clara a importância de trabalhar corretamente as mensagens dirigidas às massas.
Há alguns anos, em Havana, Fidel alertava um grupo de intelectuais, do qual fazia parte: “o importante é conseguir tornar pública a nossa verdade”, e essa reflexão deve ser retomada por nós atualmente com muita força, os meios são apenas uma parte, a diferença está nos conteúdos, concluiu.
Fonte: Prensa Latina
Tradução: Maria Helena D’Eugênio para o Resistência