Opinião
Unidade contra a perseguição aos líderes sociais e pela paz na Colômbia
Consternadas, mas decididas a deter o retrocesso na Colômbia, as forças da paz denunciam a perseguição às lideranças sociais ameaçadas e assassinadas no país. Mais de 445 vidas foram tomadas de janeiro de 2016 a julho de 2018. O fim do paramilitarismo há décadas vitimando líderes comunitários e dirigentes partidários foi um compromisso assumido no processo de paz. Mas com o retorno do uribismo na eleição de Iván Duque Márquez para a Presidência, ainda é preciso unir forças para evitar o retrocesso.
Por Socorro Gomes*
Reitere-se que a paz da Colômbia é a paz da América Latina. Durante as negociações em Havana, ao longo de quatro anos, entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP) e o governo de Juan Manuel Santos, esse foi o mote que apelou à unidade na luta pela paz em toda a região.
O uribismo —referência ao ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010), hoje senador—representa a militarização da política na Colômbia e a deslegitimação da luta popular pelo fim dos privilégios da oligarquia concentradora de terras do país, servidora fiel do imperialismo estadunidense.
Tratando as FARC-EP como ameaça nacional, como “terroristas”, Uribe via nas operações militares a única forma de dissolver o grupo —e enterrar suas reivindicações. A aparente maior segurança que alguns creditam a esta política tem o nome de terrorismo de estado, para outros. Incontáveis civis foram mortos neste período e, através dos “falsos positivos”, foram feitos passar por guerrilheiros, como se tal manobra justificasse seu assassinato.
Décadas de uma militarização ferrenha da política de segurança, sobretudo plasmada no Plan Colombia esboçado nos EUA como sua grande porta de entrada e desestabilização regional —juntamente com dezenas de bases militares esparramadas pela Colômbia e o Peru, entre outros— não puderam proteger a população colombiana. O fracasso da política é evidente. Mas seu objetivo real era o de impor a desmobilização da guerrilha através da força e não da diplomacia. Com este empenho e a continuidade do paramilitarismo, o cidadão em geral e as lideranças sociais em particular são as principais vítimas.
Aliado fiel do imperialismo estadunidense, ademais, Uribe não se inibiu ao carregar constantemente contra os presidentes venezuelanos Hugo Chávez e Nicolás Maduro —taxando a Venezuela de “refúgio do terrorismo colombiano” e os seus governos de ditaduras—, contra o presidente Lula e contra outros líderes progressistas que se recusam a prestar o mesmo papel de serviçal da política externa ofensiva dos Estados Unidos.
Ainda que tenha servido como ministro da Defesa de Uribe, assim que assumiu a Presidência Santos decidiu sentar-se à mesa com as FARC. A alvissareira assinatura dos acordos de paz de 2016, entretanto, foi combatida a ferro e fogo pelo uribismo, que inculcou na população uma perspectiva militarizada de um conflito que só podia acabar com a derrota —ou liquidação— das FARC. Mais: a transformação das FARC em partido disposto a integrar a política formal foi apresentada pela oposição como concessão e derrota do governo.
Contra a ameaça à paz, a solidariedade à resistência do povo colombiano
O fim do paramilitarismo, que infiltra o Parlamento colombiano, ficou longe de ser alcançado e dele se servem as oligarquias. O processo de paz foi mantido sob a sua mira.
Em luta por justiça social, rejeitando a substituição da letra escrita do acordo pela realização demandada da “construção de um país que proteja os direitos e o bem-estar de suas comunidades”, como coloca a Marcha Patriótica em nota da segunda-feira (16), as forças progressistas mobilizadas são consideradas ameaças.
Por isso, em toda a região e no mundo, as entidades sociais devem se mobilizar em repúdio contundente das ameaças ao processo de paz anunciadas por Duque, pelas forças conservadoras, reacionárias e fiéis ao imperialismo estadunidense. Também deve denunciar com veemência a intensificação da intimidação, das desaparições e dos assassinatos dos e das valentes líderes sociais que enfrentam o risco de sofrer represálias por seguir resistindo.
Na luta pela paz da Colômbia e da América Latina, a unidade dos movimentos sociais e forças progressistas é também urgente, contra o retrocesso e pela superação de mais de cinco décadas de conflito, em solidariedade resoluta com o povo colombiano na resistência e na construção da justiça social!
*Socorro Gomes é a presidenta do Conselho Mundial da Paz