Opinião
Umberto Martins: O legado de Lênin
Por Umberto Martins (*)
Há 150 anos, no dia 22 de abril de 1870, nascia Vladimir Ilitch Lênin, o grande teórico e comandante da revolução soviética. Lênin revolucionou a ideologia marxista, promovendo ao mesmo tempo uma ruptura com o marxismo oficial ou hegemônico da época, liderado pelo alemão Karl Kaustky, e o resgate e a continuidade do espírito revolucionário da doutrina formulada por Marx e Engels.
Enaltecendo a originalidade e ousadia do pensamento leninista, o filósofo italiano Antonio Gramsci escreveu, em 1917, um artigo sugestivamente intitulado “A revolução contra O capital”. As previsões usuais entre os marxistas era de que um acontecimento do gênero (revolução socialista) só seria possível nos países capitalistas mais avançados, o que não era o caso da Rússia.
O leninismo operou um corte asiático no pensamento proletário, entrelaçando as contradições de classes com a chamada questão nacional, que ganhou força com a emergência do imperialismo. Este corrompeu a consciência operária na Inglaterra e em outros centros capitalistas mais desenvolvidos e deslocou o espírito revolucionário que sacudiu a Europa no século 19 para a Ásia e a “periferia” do capitalismo no século seguinte.
Lênin e o Partido Bolchevique conferiram centralidade à classe trabalhadora na luta política e inspiraram personalidades como Ho Chi Minh, no Vietnã, e Mao Tsé-Tung na China. Sem a teoria revolucionária desenvolvida por Lênin não existiria o movimento que concretizou a revolução socialista na Rússia e, na sequência, em outros países. A história da humanidade não seria a mesma.
China e geopolítica
A revolução soviética eclodiu quando o mundo encenava a tragédia da Primeira Guerra (um rebento típico do imperialismo), mudou radicalmente o rumo das coisas e inspirou muitas outras revoluções. Merece destaque a conquista do poder pelo Partido Comunista da China em 1949, que ao longo dos anos logrou transformar o gigante asiático na maior economia do mundo e hoje disputa abertamente com um decadente e a cada dia mais desmoralizado EUA a liderança da geopolítica global.
É bom notar que, a despeito da forte pressão ideológica proveniente do chamado Ocidente, os comunistas chineses não renegaram a bandeira nem os ideias e o glorioso símbolo do Partido Comunista. Orientam-se pela teoria formulada por Marx e Engels e desenvolvida por Lênin e outros dirigentes comunistas, entre eles Mao e Deng Xiaoping.
A leitura crítica dos fatos sugere que a história não acabou com o fim da URSS, como alguns imaginaram. Tampouco foi encerrada a contradição entre capitalismo e socialismo. A China socialista integra o legado revolucionário de Lênin.
“Lênin ainda está mais vivo do que os vivos”, observou Maiakovsky no célebre poema sobre o grande revolucionário russo, cujo livro sobre o imperialismo ainda é leitura obrigatório para quem desejar compreender as contradições em curso no mundo nesses dias sombrios marcados por uma turbulenta transição geopolítica, exacerbada agora pelo coronavírus, que geralmente desemboca em guerras.
(*) Jornalista e escritor, autor de O Golpe do Capital contra o Trabalho