Opinião

Três preocupações e compromissos legítimos dos comunistas

28/11/2018

Por José Reinaldo Carvalho (*)

Há grande expectativa nas fileiras comunistas sobre os destinos da luta do povo brasileiro por democracia, soberania nacional, progresso social, a realização do plano nacional de desenvolvimento – bandeiras amplas de luta constantes do programa do Partido Comunista do Brasil.

A vitória eleitoral da extrema-direita nas eleições presidenciais, legislativas e estaduais deste ano abre um novo ciclo político, em que se torna mais complexa e difícil a luta do povo brasileiro e das forças consequentes da esquerda por esses objetivos estratégicos e táticos.

Na nova situação, a resistência e a luta globais, plenas, consequentes são as posturas que se espera das forças políticas de esquerda e centro-esquerda. A etapa que se abre com a eleição de um governo reacionário e entreguista é imprópria ao titubeio, à vacilação, menos ainda à propensão a conciliar com inimigos tão figadais do povo e da nação. Será sempre estranho na crônica histórica o registro de que alguma força política se resguardou do confronto e decidiu fazer oposição apenas “pontual” e até se dispôs a “apoiar”, “votar a favor” de medidas propostas pelo governo Bolsonaro que sejam do “interesse nacional e popular”. Nunca, jamais, em qualquer circunstância este governo merecerá a complacência e o acordo das forças consequentemente oposicionistas.

Para além de qualquer teorização, a oposição plena e firme ao governo da extrema-direita é o critério definidor do caráter da frente a ser constituída entre as forças democráticas, populares e patrióticas. Aqui não deve haver lugar a dúvidas. As ameaças que pairam sobre o povo e a nação são tão graves que justificam os esfoços para unir todas as forças suscetíveis de serem unidas no combate à extrema-direita no poder. A única condição é que façam oposição frontal e plena ao governo Bolsonaro. É esdrúxula a expectativa de que seria possível contar com a aliança de forças que concordam com o programa entreguista de Guedes, mas discordam da política antidemocrática e o reacionarismo civilizacional do clã da Barra da Tijuca e seus ministros das áreas social e política.

São também esdrúxulas e incompatíveis com a amplitude e a firmeza necessárias ao bom combate contra o governo Bolsonaro as discriminações e posturas preconceituosas e divisionistas de setores que se pretendem “professores de amplitude”. Estranho o decreto de que para ser ampla a frente precisa contar com a hegemonia da centro-esquerda e excluir o PT, ou mesmo ser antipetista.

Para ser consequente e verdadeiramente ampla, a frente deve incorporar a esquerda (PT, PCdoB, PSOL) e a centro-esquerda (PSB, PDT, personalidades independentes etc.) e ter como sólida base de apoio a Frente Brasil Popular, onde se reúnem as organizações do movimento sindical e popular. Pode ser que temporariamente convivam em paralelo diversas frentes oposicionistas. Em algum momento se encontrarão e convergirão para o mesmo rumo. O quanto antes, porém, seria edificante superar a mentalidade de criar “bolhas” de esquerda, uma hegemonizada por Ciro Gomes e antipetista e outra que seria o próprio PT.

Defesa da democracia, dos direitos sociais, da soberania nacional, combate ao entreguismo e à política de submissão do Brasil aos desígnios do imperialismo estadunidense são bandeiras que podem unir a maioria do povo brasileiro na oposição ao governo Bolsonaro. Indissociável de tudo isto é a luta pela libertação do presidente Lula da prisão política a que foi injustamente condenado. Estranhamente, há setores na esquerda que rechaçam esta bandeira de luta e outros que ainda hoje reiteram a conduta deletéria de defesa da prisão de Lula, de criminalização do PT, de apoio direto ou indireto à Operação Lava Jato e de respaldo ao golpe que afastou do governo a presidenta Dilma Rousseff. E ainda hoje fazem coro com a tese de que o PT deve fazer um ato de contrição, proclamando-se culpado de delitos de corrupção.

A rejeição à luta pela libertação de Lula e qualquer apoio à sua permanência na prisão por parte de algum partido que se reivindica de esquerda ou centro-esquerda é objetivamente uma posição de direita e uma traição à esquerda, às forças progressistas e ao povo brasileiro.

Em meio aos esforços para organizar a oposição ao governo da extrema-direita e pela união de amplas forças políticas numa frente democrática, popular e patriótica, uma inquietação adicional percorre as fileiras comunistas. Todos os comunistas se empenham na defesa do seu partido e na criação de condições para que atue abertamente, em contato com as massas e plenas condições de realizar atividade polítca e institucional.

Não é verdade, porém, como os inimigos do Partido Comunista do Brasil procuram difundir por meio de comentários jocosos nos veículos da mídia, que ao não atingir a cláusula de barreira na última eleição a existência do Partido Comunista do Brasil está ameaçada. Foi um revés eleitoral circunstancial que acarretará novas dificuldades à atividade dos comunistas. Nem mesmo a permanência e participação ativa dos comunistas na vida institucional do país será extinta por não ter atingido a citada cláusula. O PCdoB elegeu nove ou 10 deputados federais (um mandato está pendente de decisão do Tribunal Eleitoral), atua intensamente nos movimentos operário, popular, sindical, juvenil, feminino, intelectual. Tem atividade de agitação e propaganda e ideológica. Orienta-se pela teoria marxista-leninista e um programa revolucionário de luta pelo socialismo no Brasil. É internacionalista e exerce importante atividade no seio do movimento comunista e anti-imperialista mundial. Tem condições de sobreviver e crescer em meio às adversidades. Isto depende apenas de sua direção e de seus militantes manterem os princípios, a estratégia e tática de um partido de combate, a ação convergente e unitária e a ligação com as massas.

(*) Jornalista, editor de Resistência, membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do PCdoB

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