Opinião
Temer e o regime golpista não podem nem devem continuar
Por José Reinaldo Carvalho (*)
Como todo regime golpista, este que se encontra em vigência no país desde a deposição da presidenta Dilma Rousseff, veio para ficar. A luta sem tréguas e ininterrupta contra ele sintetiza as aspirações das forças democráticas e progressistas.
O governo agoniza. Desmoralizado, desacreditado, rechaçado pelo povo brasileiro, é, na falta de alternativa imediata, a trincheira política que as forças dominantes pretendem manter para tentar uma transição eleitoral que leve a um novo arranjo de forças, assegurando que o golpismo permaneça intacto com sua nefasta agenda: a política antidemocrática e antipopular, o entreguismo e o alinhamento externo com potências imperialistas.
Em nome da transição eleitoral formou-se um consenso entre forças políticas as mais díspares em torno da tese de manter, como se vivo fora, o cadáver insepulto do governo Temer. O problema é que a pestilência pode levar todos juntos. A instabilidade política do Brasil não autoriza ninguém a fazer previsões certeiras. Num quadro assim, está longe, muito longe, o 1º de janeiro de 2019.
Em tais condições, permanece atual e pertinente a bandeira popularizada como “Fora, Temer!”. Muito mais que a expressão de um imediatismo e longe de ser uma aventura, é a palavra de ordem emblemática da luta contra o regime.
Em termos práticos, Temer já não governa efetivamente. É um poder de jure, um espectro que habita de dia o Planalto, de noite o Jaburu. O poder de facto é exercido em palácio pelo general Etchegoyen e à distância, por tuitadas e outras mensagens codificadas, pelo general Vilas Boas.
O sentimento nacional, manifestado em sondagens de opinião pública e durante o episódio da greve dos caminhoneiros é que Temer tem de sair.
É algo que corresponde à lógica mais elementar. Não pode nem deve continuar um regime que massacra o povo com os cortes que promoveu na despesa pública, na subtração de financiamento aos programas sociais, na adoção de uma política macroeconômica que favorece o capital financeiro e aniquila as forças produtivas do país, com PIB inexpressivo e desemprego subindo em flexa.
Não pode nem deve continuar um governo entreguista, que aliena o patrimônio nacional, prepara as condições para a privatização da mais brasileira das estatais, a Petrobras, leva a leilão as jazidas do pré-sal, põe à venda o setor elétrico e ataca a economia popular com uma irracional política de preços de combustíveis voltada unicamente para beneficiar o capital acionário.
Não pode nem deve continuar um governo que trata a ferro e fogo os movimentos dos trabalhadores, investe com fúria contra greves e manifestações, acionando a corte do Trabalho para intimidar a classe operária e seus representantes com medidas arbitrárias e repressivas.
Não pode nem deve continuar um governo que na política externa comporta-se como capataz do imperialismo, movimentando um arsenal nada diplomático de ações agressivas contra países soberanos. Um contraste com a Constituição e uma ofensa às tradições da Casa de Rio Branco.
Não é a postulação de dar fim ao governo ilegítimo e golpista que instabiliza o país e põe em risco a realização das eleições. A permanência do regime golpista é que viola em toda a linha o marco legal e democrático nacional.
Sob o regime golpista e enquanto permanecer encarcerado o principal líder popular, o representante legítimo da oposição democrática e progressista e seu candidato natural à Presidência da República, é um escárnio pretender que as eleições de outubro, se ocorrerem, poderão conduzir o país à restauração da democracia.
(*) Jornalista, editor do Resistência, membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do PCdoB