Revolução Bolivariana
Reeleição de Maduro, o triunfo de uma revolução popular
Por José Reinaldo Carvalho (*)
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, foi reeleito neste domingo (20) para mais um mandato de seis anos à frente da Revolução Bolivariana. Foi uma vitória retumbante, insofismável. Maduro alcançou 68% dos votos, 5.823.728 sufrágios, contra 1.820.552 do segundo colocado.
O triunfo da Frente Ampla da Pátria, coalizão que reúne o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), Partido Comunista (PCV), Pátria para Todos (PPT), Movimento Somos Venezuela e outras legendas é ainda mais avassalador no contexto do boicote eleitoral promovido pela direita, que convocou a abstenção, agressão econômica, que gera imensas dificuldades sociais, brutal cerco imperialista, ofensiva midiática, ameaças de golpe e intervenção externa – elementos de uma guerra de quarta geração que ameaça a Venezuela, como todo país que realize uma política revolucionária, democrática e progressista.
Em menos de um ano é a quarta vitória eleitoral do chavismo. Em julho de 2017, as forças de vanguarda da Revolução Bolivariana triunfaram, o que se repetiu nas eleições para governadores, em outubro, e prefeitos, em dezembro. É o 22º triunfo eleitoral do Chavismo, em 24 pleitos realizados desde o ano de 1999, uma demonstração a mais da solidez, amplitude e respaldo popular desta força política criada pelo líder revolucionário Hugo Chávez.
Em discurso perante a multidão que se reniu no centro de Caracas na mesma noite de domingo em que os resultados eleitorais foram anunciados, o presidente reeleito destacou que foi uma vitória da paz e da democracia e novamente estendeu a mão, como presidente de todos os venezuelanos, para a realização de diálogos, entendimentos e pactos que conduzam à reconciliação nacional, à retomada do desenvolvimento econômico-social e ao estabelecimento da paz e da normalidade no país.
As primeiras reações das forças de direita e do imperialismo foram, como era de se esperar, de intolerância e beligerância. Anunciaram que não reconhecem os resultados eleitorais, deixando entrevisto que voltarão a intentar o perigoso caminho da agressão externa e da tentativa de golpe por meios violentos como ocorreu em março-abril de 2017.
Atacam o sistema eleitoral do país, que progressivamente se aperfeiçoou desde 1999, cuja transparência, formato democrático e mecanismos de verificação – elogiados pelo ex-presidente estadunidense Jimmy Carter e o ex-chefe do governo espanhol, José Luís Zapatero, este último integrante da delegação de acompanhantes internacionais das eleições deste domingo – beneficiaram a própria oposição em duas ocasiões em que esta venceu: em 2007, no referendo sobre reforma constitucional, e 2015, nas eleições legislativas para a Assembleia Nacional (parlamento). É sintomático que em ambas as ocasiões não houve denúncias de fraude nem ameaças de desconhecer os resultados. Fica patente que são ataques da direita para justificar derrotas nas urnas, é a fraude cantada antes do voto, em editoriais mundo afora e também nos veículos da mídia empresarial brasileira, o anúncio antecipado de não legitimação dos resultados, a contrariedade e postura antidemocrática perante a realidade dos fatos, a expressão da vontade do povo, livre e soberano através do sufrágio.
Nova etapa
A reeleição de Nicolás Maduro é o marco inicial de mais uma etapa da Revolução Bolivariana. Há reformas importantes a fazer, a consolidação política e institucional da revolução, o aprofundamento das reformas estruturais de caráter democrático, popular e anti-imperialista, a construção do modelo econômico e social, a busca do rumo socialista. Maduro se dispôs ao diálogo e ao mesmo tempo reafirmou a determinação de seguir adiante no caminho revolucionário, anti-imperialista e socialista desbravado por Hugo Chávez.
Será necessário fortalecer ainda mais a unidade do povo venezuelano, o papel da liderança, a frente dos partidos revolucionários, a ampliação da base política para enfrentar a ofensiva do imperialismo estadunidense, seus aliados latino-americanos e as forças da direita venezuelana, ofensiva que se prenuncia mais intensa e perigosa. Já deixaram claro que não renunciam nem renunciarão ao propósito de derrocar o governo legítimo, democrático e constitucional e liquidar a Revolução Bolivariana.
O “segredo” da vitória
A vitória de Nicolás Maduro nas eleições deste domingo é a concretização mais uma vez de um princípio do fundador da República Bolivariana, Hugo Chávez, que sempre teve clareza da necessidade de construir um projeto político baseado nos sentimentos e anseios do povo, no protagonismo popular. Esta vitória pavimenta o caminho para a ampliação e o aprofundamento da democracia, o reforço da unidade popular, o estímulo à participação política, tanto por meio da democracia participativa como da representativa, o exercício pleno da cidadania, da inclusão política e social, o diálogo e o protagonismo popular através dos movimentos sociais.
Mais uma vez, cria-se uma oportunidade para construir – como queria Chávez – um projeto político baseado nos sentimentos e anseios do povo, no protagonismo popular. Chávez vislumbrou o sentido histórico da pulsão popular, que em determinados momentos agudos da luta de classes sintetiza sentimentos e anseios profundos e irrompe numa torrente transformadora imparável. Este é o “segredo” da Revolução Bolivariana, lastreada na construção de sujeitos políticos e orgânicos ligados, fundidos com o movimento popular, a história popular, as raízes populares e dedicada ao soerguimento de um projeto político popular, dotado de instituições próprias, antagônicas às das classes dominantes. Este foi o sentido do processo constituinte desencadeado por Chávez ainda no início da Revolução, como é o sentido do processo constituinte atual que segue em curso, no calor da análise crítica e do combate às oligarquias, à direita e ao imperialismo, sentido que está presente na experiência venezuelana desde a insurreição cívico-militar de 4 de fevereiro de 1992.
Esta pulsão popular é um fator diferencial, peculiar da Revolução Bolivariana, que não está escrito em nenhum manual, nem se assemelha a qualquer outra experiência revolucionária precedente. A Revolução Bolivariana é uma experiência original produzida pela luta popular em defesa da soberania nacional e do socialismo, nas condições concretas, históricas e culturais da nação venezuelana e deste início de século. Assume abertamente o seu caráter transformador e proclama sem temor nem vacilação, como um objetivo estratégico, construir o “socialismo do século 21”.
Nestes 19 anos, esta Revolução promoveu reformas estruturais, distribuiu renda, aprofundou a democracia, buscou elevar o nível de consciência política e ideológica das massas e jogou papel proeminente no processo de integração soberana da América Latina e do Caribe. Reside nestes êxitos o “segredo” da sua vitória, como também é a razão da brutal reação imperialista e das classes dominantes.
Num quadro de golpes, retrocessos e ameaças na América Latina, o triunfo eleitoral das forças democráticas, populares e patrióticas na Venezuela é um alento para a luta pela democracia, a soberania nacional e a integração dos povos.
(*) Jornalista, editor do Resistência, membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do PCdoB