Portugal
Portugal: Derrotada moção de censura contra governo do Partido Socialista
A moção de censura do CDS-PP foi derrubada, como esperado. O documento que ignora as responsabilidades do anterior governo pelos cortes na defesa da floresta e no combate aos fogos florestais só teve o apoio do PSD.
O desfecho da moção de censura, apresentada pela ex-ministra das Florestas, tinha o destino traçado, particularmente pela forma como ilude a responsabilidade da própria, do seu partido e do PSD na situação atual. A teimosia em não desmarcar o debate quinzenal da semana passada, durante o período de luto nacional, contribuiu ainda mais para esvaziar o debate.
Com os votos a favor do CDS-PP e do PSD e os votos contra dos restantes deputados, a primeira moção de censura da atual legislatura foi derrotada na tarde de terça-feira (24), após mais de três horas de discussão no plenário da Assembleia da República.
O líder parlamentar do Partido Comunista Português (PCP) lembrou que a responsabilidade pela situação da floresta “não é do Estado em abstrato, mas de sucessivos governos do PS, do PSD e também do CDS-PP”. Afirmando que o atual Executivo também tem responsabilidades, João Oliveira afirmou que o PCP recusa contribuir para “um aproveitamento inqualificável por parte do CDS-PP”. Uma ideia repetida pelo deputado Jorge Costa (BE), que acusou o CDS-PP de aproveitar a morte de mais de 100 pessoas para “uma pequena disputa com o PSD”.
A direita no alvo
A abrir o debate da moção de censura que levou ao plenário, Assunção Cristas socorreu-se do discurso do Presidente da República, há uma semana, para dar amparo à iniciativa do CDS-PP. O Estado falhou na resposta aos incêndios e a consequência deve ser o derrube do Governo, defendeu.
O primeiro-ministro usou o seu tempo durante a fase inicial do debate para revisitar as medidas anunciadas após o Conselho de Ministros do passado sábado: uma longa lista, que passa pelo reforço dos meios de combate aos fogos florestais, apoios imediatos às populações, agricultores e empresas vitimadas, a criação de uma Estratégia Nacional de Proteção Civil Preventiva e de uma unidade de missão.
Aberta a discussão às bancadas parlamentares, as profundas responsabilidades políticas do PSD e do CDS-PP, especialmente da ex-ministra das Florestas Assunção Cristas, vieram à tona. A exceção, já previsível, veio da bancada do PSD e do seu novo líder parlamentar. Hugo Soares lamentou-se que não seja reconhecido o contributo do anterior governo para o “sucesso econômico” – fruto da recuperação de direitos e rendimentos cortados pelo governo de Passos e Cristas – e para as “contas públicas equilibradas”, que deixaram a dívida pública a roçar os 130% do Produto Interno Bruto (PIB).
A presidente do CDS-PP recorreu a dois argumentos essenciais para justificar a censura ao Governo: a floresta ardeu quando já não era ministra da tutela, por isso não tem nada a ver com isso; o primeiro-ministro não revelou comoção suficiente face à tragédia e por isso não tem condições para ocupar o lugar.
O outro lado do debate: medidas urgentes e valorização da floresta e do interior
Ao longo de quase três horas decorreram dois debates. Por um lado, a negação de responsabilidades do CDS-PP e do PSD. Por outro, o Governo foi confrontado pelo BE, pelo PCP, pelo PEV e pelo PAN com a necessidade de medidas estruturais na floresta portuguesa e no mundo rural. António Filipe (PCP), chamou ainda a atenção para a exigência de medidas urgentes de apoio às vítimas dos fogos, às unidades produtivas que foram destruídas e aos postos de trabalho ameaçados.
O deputado do PCP questionou ainda António Costa se irá surgir uma “nova troika” a exigir um freio na trajetória de recuperação de direitos e rendimentos, como tem sido pedido por alguns setores. O primeiro-ministro assumiu o compromisso de que “nenhuma das medidas do Orçamento do Estado de reposição de rendimentos e de alívio fiscal vai ser sacrificada para incorporar estas medidas de combate aos fogos”.
Fonte: AbrilAbril