Brasil
Zillah Branco: Não ao golpe no Brasil
O Juiz do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello, afirmou: “O Judiciário é a última trincheira da cidadania. E pode ter um questionamento para demonstrar que não há fato jurídico, muito embora haja fato político, suficiente ao impedimento. E não interessa de início ao Brasil apear esse ou aquele chefe Executivo nacional ou estadual. Porque, a meu ver, isso gera até mesmo muita insegurança. O ideal seria o entendimento entre os dois poderes, como preconizado pela Constituição Federal para combater-se a crise que afeta o trabalhador, a mesa do trabalhador, que é a crise econômico-financeira. Por que não se sentam à mesa para discutir as medidas indispensáveis nesse momento? Por que insistem em inviabilizar a governança pátria? Nós não sabemos.”
E a provocação de um golpe, como foi constatado com a proposta de impeachement sem prova de crime, pelo PMDB e outros partidos, Eduardo Cunha e outros, juizes que nada entendem de ética, não é crime suficiente para ser punido com o afastamento de cargos públicos? Pode o Brasil depender da vontade irresponsável de quem perturbe a ordem nacional e provoque clamores internacionais, como até o Papa e o Secretário Geral da ONU registraram?
O mundo sofre os efeitos da crise cíclica do sistema capitalista e a elite dominante tudo faz para que os mais pobres, que constituem a maioria da população, pague as dívidas criadas pelo esbanjamento em que os ricos vivem. Isto só não ocorre quando os governantes impõem o respeito pela democracia que equilibra a distribuição de renda para que todos tenham condições de vida e desenvolvimento.
A Europa sofre as consequências das guerras que ajudaram o imperialismo a promover no Oriente Médio e Norte da Africa; a Africa sofre a fome herdada do peso colonialista que ainda carrega; o Brasil, graças ao Governo Lula em 2002, criou condições para eliminar a fome de 50 milhões de brasileiros e desenvolveu programas de saúde, ensino, criação de empregos, construção de infra-estruturas para levar energia e água às populações de todos os Estados nacionais.
Foi pouco o que se alcançou no Brasil? Comparado com o resto do planeta foi muito, mas os ambiciosos da burguesia brasileira sentiram-se prejudicados porque a democracia não favorece o poder de uma elite privilegiada. Por isso a idéia de golpe e a enxurrada de formas de corrupção que atingiu os egoistas novos ricos. Mas houve um outro tipo de corrupção, o da quebra dos valores éticos, que atingiu a mídia e muitos altos funcionários do Estado além de personalidades com poder político, econômico e social – juizes, presidente da Câmara de Deputados Federais, responsáveis por partidos políticos, e arrastou uma parte da população que tem os olhos fechados pelo egoísmo individualista e se deixa enganar.
A preocupação em salvar o Brasil das garras dos abutres, para que seja possível prosseguir os programas sociais pioneiros deste mundo em crise, é do povo brasileiro todo, dos responsáveis políticos e profissionais que defendem a democracia, dos altos dirigentes internacionais como o Papa e o Secretário Geral da ONU e de todos os que estão empenhados em colaborar com a humanidade em busca de um caminho de vida saudável.
A punição dos promotores do golpe não é uma vingança popular, é um dever ético do sistema judicial brasileiro. A depuração de golpistas nos partidos democráticos é uma necessidade dos seus militantes que preservam a história de luta democrática pela qual muitos deram a sua vida. Se algum brio existe na consciência do vice-presidente da República, Michel Temer, ele deve apresentar a sua demissão do governo. Só então poderá ser encetada uma revisão dos problemas reais no Brasil para evitar as consequências da crise financeira e desenvolver a produção nacional e o Estado social no país.
Este será um passo revolucionário com a participação de todos os que defendem a pátria unificada em torno de princípios elevados e sem discriminação.
Zillah Branco é cientista social, militante comunista residente em Portugal e integrante do Conselho do Cebrapaz