Luta pela paz
Unidade de ação contra a militarização da América Latina e a entrega das soberanias nacionais
Cerca de 250 convidados de 32 países reuniram-se em Guantánamo, Cuba, no 5º Seminário Internacional pela Paz e a Abolição das Bases Militares Estrangeiras, para reforçar a unidade anti-imperialista. Com 865 bases militares esparramadas pelo mundo (quase a totalidade das existentes) e outros mecanismos de projeção do seu poderio, os EUA sustentam uma ofensiva generalizada, embora seus pretextos sejam os da “segurança” e “defesa”, no quadro de uma militarização intensificada.
Por Moara Crivelente*, na pagina do Cebrapaz
O contexto é de reforço da mobilização internacional contra as principais expressões da militarização do planeta acompanhando a política imperialista dos EUA e aliados (França, Reino Unido, União Europeia e outras forças regionais). É o caso das bases militares, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a disseminação e modernização das armas nucleares, os exercícios militares conjuntos, o incremento dos gastos militares e, claro, intervenções, agressões e a continuidade do apoio a golpes de Estado ou “mudanças de regime”.
Promovido pelo Movimento Cubano pela Paz e a Soberania dos Povos (MovPaz), o Instituto Cubano de Amizade com os Povos (ICAP), o Conselho Mundial da Paz (CMP) e entidades amigas, o encontro levou à quinta edição o compromisso com a continuidade e a abrangência desta luta, ali reforçada de forma desafiante, desde o território cubano de Guantánamo.
Enquadrando o seminário num momento de ofensiva imperialista contra governos progressistas na América Latina, o presidente do MovPaz Silvio Platero (foto) e os delegados presentes também pontuaram a questão cubana. No processo de normalização das relações entre Cuba e Estados Unidos, as entidades nacionais e internacionais reafirmam a demanda pelo fim do bloqueio econômico, comercial e financeiro que os EUA impõem a Cuba há mais de meio século e a devolução dos 117 km2 do território ocupado pela base naval estadunidense desde 1903.
Para a presidenta do CMP, Socorro Gomes, “a grande questão do encontro é o avanço na construção de ações unitárias, a compreensão de que as bases militares agridem as soberanias nacionais e são uma ameaça à paz em todo o mundo.” Por isso, continua, “os movimentos populares e pacifistas de todos os continentes precisam construir uma unidade capaz de deter os desígnios guerreiristas dos EUA e da OTAN.”
Socorro ressaltou “a demonstração contundente de solidariedade ao povo venezuelano em sua resistência e luta contra as agressões imperialistas, em aliança com as oligarquias do país.” Para a presidenta do CMP, esta e outras frentes são expressões da urgência de uma coalização entre as forças da paz em todo o mundo para a contenção do retrocesso imposto à humanidade pelas políticas hegemonistas e belicosas.
Também participando do seminário, o presidente do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) Antônio Barreto afirmou a importância da discussão e partilha de informações entre os movimentos dos diversos países, proporcionando uma riqueza de ideias para o fortalecimento da mobilização em todos os continentes.
Mobilização no Brasil
A disseminação de informações no Brasil deve promover a melhor compreensão do impacto destas políticas sobre os povos de todo o mundo, com base na solidariedade internacional, mas também sobre os brasileiros e brasileiras, mergulhados na conjuntura de um golpe de Estado reacionário pronto para vender a soberania nacional.
Por exemplo, Socorro Gomes e Antônio Barreto ressaltaram a urgência da atenção aos avanços estadunidenses na América Latina (onde já há quase 80 bases militares estrangeiras, principalmente dos EUA, mas também do Reino Unido, da França e da OTAN).
A Argentina de Maurício Macri recentemente assinou um acordo para o uso de duas bases militares pelos EUA — uma delas, na tríplice fronteira com o Paraguai e o Brasil, próxima ao Aquífero Guarani — e o governo ilegítimo de Michel Temer pretende negociar o uso da base espacial de Alcântara (MA) pelos EUA, o que significaria permitir a entrada da presença militar estadunidense, ceder a soberania sobre a base e vender a autonomia nacional sobre um programa tão estratégico quanto o espacial.
Além disso, notícias das preparações para um exercício militar conjunto em novembro, no Amazonas, entre o Peru, a Colômbia (os dois países com mais bases militares estadunidenses da região), o Brasil e, pela primeira vez de forma direta, os Estados Unidos, também têm exigido a atenção dos defensores da soberania e da paz na região.
Sintomático é que o exercício deste ano, intitulado AmazonLog (com foco para questões logísticas e promovido sob o pretexto do combate ao crime transnacional, como o tráfico de drogas e o “terrorismo”), tenha sido elaborado após um encontro da OTAN em que o Brasil participou como observador. Além disso, o convite para a participação dos EUA teria surgido do Exército brasileiro, segundo oficiais citados pela Folha de S.Paulo e a BBC Brasil nesta semana, supostamente como forma de “reaproximar” os dois países, numa crítica nem tão velada à postura altiva e soberana sustentada pelos governos progressistas dos últimos anos.
Por isso, na mobilização contra as bases na América Latina e no mundo, a entrega de Alcântara e a presença militar estadunidense no Brasil, com a renovada atenção para a situação na Amazônia, o Cebrapaz continua somando-se a diversos movimentos internacionais. No âmbito do CMP e além, deve seguir dicando-se ao combate à militarização regional e do mundo em que se assentam os cálculos geoestratégicos e geopolíticos imperialistas já conhecidos, travestidos de “intervenções humanitárias”, de “combate ao crime transnacional” e ao “terrorismo” até a suposta promoção da “segurança” ou de uma democracia liberal cada vez mais mal-disfarçada.
*Moara Crivelente é cientista política e jornalista, diretora de Comunicação do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz)