Opinião
Em meio a protestos, Trump assume com discurso ultranacionalista: Uma ameaça ao mundo
Em meio a protestos que aconteceram por toda Washington, Donald Trump, 70 anos, assumiu nesta sexta-feira (20), a presidência dos Estados Unidos da América. O discurso de posse teve como marca principal o ultranacionalismo.
Por Wevergton Brito Lima*
Mas também teve uma boa dose de populismo de direita. Segundo Trump, seu país é protegido pelas armas e por Deus: “Estamos protegidos e estaremos sempre protegidos pelas forças da lei, dos militares, e o mais importante, seremos protegidos por Deus.”
E esta proteção estará a serviço de “varrer o terrorismo da face da Terra” e “recuperar a grandeza” dos Estados Unidos: “Os Estados Unidos vão começar a vencer de novo. Vamos trazer de volta nossos empregos, nossas riquezas e os nossos sonhos (…) vamos preservar nossos interesses”, afirmou.
Logo depois do discurso, a Casa Branca divulgou um comunicado oficializando a concretização de uma das promessas de campanha de Trump: a saída do Acordo de Parceria Transpacífico (TPP – tratado assinado em outubro de 2016 por 12 países que visavam criar a maior zona de livre comércio do mundo) e o anúncio da “renegociação do Nafta (tratado de livre comércio com México e Canadá)”.
“A proteção vai nos fazer fortes. Eu vou lutar por vocês e jamais vou desapontar vocês. Os Estados Unidos vão voltar a vencer de novo, como nunca antes (…) A proteção nos guiará rumo à grande prosperidade”, disse Trump.
Dois erros devem ser evitados na apreciação deste discurso: o primeiro é considerar que ele expressa “uma visão pessoal” do novo presidente estadunidense. Seu conteúdo, na verdade, revela como parte importante e poderosa do establishment americano pretende enfrentar a crise do capitalismo. Este setor, que agora assume o governo, delineou claramente as linhas gerais do seu programa através do discurso do bilionário que colocaram na Casa Branca.
O segundo erro é achar que este ultranacionalismo fará com que Trump “olhe mais para dentro” e abandone políticas intervencionistas. Esta é uma vã esperança que não encontra respaldo na história e não resiste ao próprio discurso do novo presidente que falou abertamente em usar a força (econômica e/ou militar) para impor ao mundo os “interesses americanos” a partir de uma visão que privilegia ainda mais o unilateralismo. Tanto assim que, no comunicado que já mencionamos, a Casa Branca também anuncia que a nova administração está disposta a usar “todos os instrumentos contra os países que considerar violadores de acordos comerciais”.
Trump terminou sua prédica mencionando seu slogan de campanha:
“Vamos tornar a América forte novamente. Vamos tornar a América rica novamente. Vamos fazer a América orgulhosa novamente. E sim, juntos, vamos tornar a América grandiosa novamente.”
Os Estados Unidos, em termos financeiros e militares, é a nação mais poderosa do mundo. Mas o capitalismo enfrenta uma grave crise há anos e no cenário geopolítico o mundo caminha para a multipolaridade. A fala de Trump, de “recuperar a grandeza perdida” deve ser traduzida por: “defender a ferro e fogo, deixando de lado quaisquer outras considerações, os interesses e a hegemonia dos EUA”.
Mais do que uma promessa ao povo americano – que em várias partes do país protestou contra a posse do novo presidente – esta fala é uma ameaça direta à paz e à soberania das nações.
* Jornalista, membro da Comissão de Política e Relações Internacionais do PCdoB