Opinião
Troca de embaixadores não conserta a má reputação do fascista e mau governante
Por José Reinaldo Carvalho (*)
O governante de extrema-direita que ocupa eventualmente a Presidência da República anda muito queixoso ultimamente. Os arrogantes sempre agem assim. Fazem vítimas e se encondem posando com tais.
Em um café da manhã com jornalistas na quarta-feira (13), Bilsonaro anunciou que vai trocar 15 embaixadores que se encontram em postos-chave da diplomacia brasileira, entre eles os chefes das missões diplomáticas nos Estados Unidos e na França.
Em condições políticas e administrativas normais, a substituição de titulares de missões diplomáticas deveria ser encarada como ato de rotina, não despertaria necessariamente dúvida, celeuma ou oposição.
Ocorre que o governante de extrema-direita argumenta que procederá às mudanças porque sua imagem não está sendo corretamente veiculada no exterior. A principal queixa é a má reputação, pois é conhecido no exterior como ditador e racista, segundo seu próprio relato.
Ele não sabe da missa um terço. Há outros atributos pelos quais é conhecido. O ex-capitão é conotado como “parça” das piores figuras da política internacional com os quais cultiva relações próximas: o líder da extrema-direita húngara, Viktor Orban, cuja bancada está sendo expulsa até mesmo do bloco parlamentar direitista no Parlamento Europeu; o governante sionista, verdugo do povo palestino, Benjamin Netenyahu, aquele que quer fazer de Israel um Estado-nação apenas de judeus, por judeus e para judeus, ainda que pela via do genocídio, na mais grotesca violação dos princípios que regem o Direito Internacional. E, para cúmulo, Bolsonaro, seu clã e seu chanceler são estigmatizados no mundo como subordinados de Donald Trump, com quem compartilham valores e a quem pretendem submeter a política externa brasileira, de tantas tradições, desde Rio Branco, que rendem culto à autodeterminação das nações.
O filme bolsonariano é tão queimado que nem mesmo a líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, faz questão de sua companhia e esnobou os seus baixos padrões culturais e civilizacionais.
Porém, como mau governante, alheio aos mais elementares princípios que norteiam a liderança de um país como o nosso, ignorando as noções básicas da diplomacia, imerso em relacionamentos promíscuos com milícias homiziadas na Barra da Tijuca, o ex-capitão ilude-se. Acha que a troca de embaixadores poderá reparar os danos à sua imagem e promovê-lo como líder. Mas, não teve já a sua oportunidade, quando, em janeiro último, em Davos, revelou todo o fiasco da sua personalidade e postura?!
A troca de embaixadores será inócua para os fins desejados por Bolsonaro. O ex-capitão pode trocar todo o corpo diplomático no exterior, revolver o Itamaraty, mas não conseguirá mudar sua imagem, já vincada, até petrificada, de mau governante, defensor de valores civilizacionais retrógrados, autoritário, com pendores fascistas. Esta imagem é o reflexo de seu caráter. É da sua natureza. Não vai mudar.
Para além de tudo isso, a imagem de um governante, como a do país que lidera, constrói-se com uma política externa consistente. Mas, a política externa anunciada por seu exótico, messiânico e medíocre chanceler, Ernesto Araújo, já caracterizado como o pior chanceler do mundo, somente confirma esta imagem. Transforma o país soberano da política externa ativa e altiva de Lula, Dilma e Celso Amorim, numa mixórdia de enunciados pseudo-filosóficos funcionais à transformação do gigante do Cruzeiro do Sul num apêndice do imperialismo estadunidense.
Só lamentamos que o Brasil não vai melhorar a própria imagem nem tornará eficazes as suas relações com o mundo com uma política que se anuncia subordinada a esse imperialismo e rejeita parcerias estratégicas com países que hoje desempenham papel decisivo no mundo.
Esta imagem não melhorará tampouco rechaçando o multilateralismo e se associando às políticas de ingerência e golpistas dos Estados Unidos, como é o caso por exemplo da brutal ofensiva contra a Venezuela.
Desde 28 de outubro do ano passado, o Brasil caiu num abismo. A imagem de Bolsonaro afeta imensamente a do próprio país, que está gravemente enfermo, não apenas pela imagem, que também anda chamuscada, mas por uma patologia social e política grave, ao se tornar uma neocolônia do imperialismo estadunidense e submeter-se a um governo com vocação fascista.
(*) Jornalista, editor do Resistência, integrante do projeto Jornalistas pela Democracia