Colômbia
Timochenko e Manuel Santos assinam acordo de Paz: “Uma segunda oportunidade sobre a terra” para a Colômbia
“A guerra acabou, estamos começando a construir a paz, bem-vinda esta segunda oportunidade sobre a terra”, assim concluiu seu discurso na tarde desta segunda-feira (26) o comandante das Farc-EP, Timoleón Jiménez, conhecido como Timochenko, na cerimônia de assinatura do acordo de paz negociado nos últimos quatro anos entre guerrilha e governo. Ao mencionar a “segunda oportunidade sobre a terra”, Jiménez fazia uma citação da frase final do romance de Gabriel García Márques, “Cem Anos de Solidão”. Logo depois discursou o presidente Juan Manuel Santos, que também fez referência ao escritor e citou igualmente a frase. Santos lembrou que Cartagena das Índias, local da cerimônia, é o lugar onde está sepultado o colombiano prêmio Nobel de Literatura, “grande ausente deste dia, artífice na sombra de muitas tentativas para dar a Colômbia uma segunda oportunidade sobre a terra “.
A cerimônia foi acompanhada por dezenas de líderes mundiais, e marca uma das etapas finais do processo de paz iniciado em 2012 em Havana, Cuba, e que deverá ser referendado pela população colombiana em um plebiscito que será realizado neste domingo (02). A cerimônia promoveu o voto “sim” no referendo popular, que levará à entrada em vigor do acordo de paz entre a guerrilha e o governo.
Timochenko foi o primeiro a assinar o acordo, seguido pelo presidente, Santos. Os dois líderes utilizaram o “balígrafo”, uma caneta feita a partir de uma bala de fuzil, que representa a transição de um país em guerra para um país que promoverá a educação e o diálogo político entre grupos opositores.
Entre os líderes presentes no palco durante a cerimônia estavam Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, Michelle Bachelet (Chile), Nicolás Maduro (Venezuela), Raúl Castro (Cuba), Rafael Correa (Equador), Enrique Peña Nieto (México), Mauricio Macri (Argentina), Salvador Sánchez Cerén (El Salvador) e Pedro Pablo Kuczynski (Peru), todos usando roupas exclusivamente brancas.
Após a assinatura do acordo, aviões da Esquadrilha da Fumaça desenharam as cores da bandeira da Colômbia – vermelho, azul e amarelo – no céu de Cartagena.
“Que ninguém duvide que nos desarmamos nas mentes e nos corações”, afirmou Timochenko em discurso. “O processo de paz na Colômbia é já uma referência para o mundo”, disse o líder das FARC, citando a ocupação israelense da Palestina e guerra na Síria como crises humanitárias que podem se beneficiar do modelo estabelecido em seu país.
O processo de paz “é uma vitória da sociedade colombiana como um todo e da comunidade internacional”, afirmou Jiménez, agradecendo diferentes setores da população da Colômbia pelo apoio às negociações entre o governo e a guerrilha, “sobretudo às vítimas do conflito”.
Jiménez classificou o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, como “um interlocutor valoroso”, que superou o lobby das armas e da guerra no país. O líder das Farc também agradeceu a Fidel e Raúl Castro e ao povo cubano, anfitriões das negociações de paz nos últimos quatro anos; ao governo norueguês, que participou como mediador dos diálogos; Hugo Chávez e Nicolás Maduro e ao “povo irmão” da Venezuela, além do Chile e da ONU, que também ajudaram a mediar as negociações entre guerrilha e governo.
“Ninguém renunciou a suas ideias. Confrontaremo-nas politicamente, sem violência”, afirmou Jiménez sobre a transição da guerrilha para força política, que participará do processo democrático e eletivo da Colômbia a partir de 2018. A recém encerrada 10ª Conferência Nacional Guerrilheira decidiu que um novo partido político será criado no máximo até maio de 2017.
“Este é um acordo que fortalecerá nossa democracia e nosso processo político, assim como a luta contra o narcotráfico”, afirmou Santos. “Esta é a libertação que nos dá o perdão, uma libertação não só a quem perdoamos, mas sobretudo a quem perdoa”, seguiu o presidente.
Santos também convocou a população a votar “sim” no plebiscito do dia 2 de outubro, que deve referendar o acordo de paz, escolhendo assim “entre o sofrimento do passado e a esperança do futuro, entre a pobreza que deixa a guerra e as oportunidades que traz a paz”.
“A região e o planeta celebram porque há uma guerra a menos no mundo”, disse Santos. “Nos restam muitos temas a trabalhar e muitos desafios a vencer, mas o faremos muito melhor sem o obstáculo de uma guerra absurda que consumia nossos recursos”, se dirigiu o presidente à população colombiana. “A Colômbia se prepara para explorar seu potencial máximo, e essa tarefa será de todos, não só do governo.”
O presidente colombiano finalizou com uma citação ao hino nacional do país: “Cessou a horrível noite. Abramos nossos corações ao novo dia, ao amanhecer da paz, ao amanhecer da vida.”
Da Redação do Resistência com Opera Mundi e Granma