Opinião
Sobre a eleição de Donald Trump
Parecer à Direção Nacional do PCdoB sobre o significado da eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos
1 – Proponho que o PCdoB oriente sua posição política sobre a eleição de Donald Trump à presidência dos EUA a partir da compreensão de que este fato aumenta o reacionarismo do império. e abre era de novas lutas dos povos
Apesar do ufanismo de Trump, a “era de ouro” está cada vez mais distante para o imperialismo.
2 – É necessário também destacar que as eleições nos Estados Unidos estão distantes do que são eleições democráticas, assim como o sistema político do país é o próprio oposto do que seja uma democracia genuína. A democracia americana é um mito. As eleições deste ano, como todas as demais desde há muitas décadas, revelam, porém, que a chamada “maior democracia do mundo” está longe de ser verdadeiramente democrática. O sistema eleitoral e partidário dos Estados Unidos está repleto de elementos que favorecem os interesses econômicos e ideológicos das elites, marginalizando as massas populares.
O sistema bipartidário dos Estados Unidos, em que apenas duas facções – o Partido Democrata e o Partido Republicano – têm chance real de vitória, limita a participação e a representatividade popular e marginaliza as correntes progressistas. Embora esses partidos se diferenciem em aspectos das políticas internas, sociais, econômicas e externa, ambos representam essencialmente os interesses do grande capital financeiro e lutam pela manutenção do país como superpotência imperialista.
Ambos os partidos apoiam intervenções militares e políticas externas em nome da primazia dos interesses americanos. Em essência, a política externa imperialista é uma constante no cenário americano, e nem republicanos nem democratas defendem o multilateralismo genuíno, a verdadeira cooperação global, ou a soberania e autodeterminação dos povos e nações que esse mesmo imperialismo persiste em oprimir e espoliar.
Outro aspecto a atestar as limitações democráticas do sistema político estadunidense é que a eleição é indireta.
Duas outras características peculiares determinam o tipo da democracia americana e condicionam as disputas eleitorais. Sendo um sistema plutocrático, as eleições são dominadas por uma corrida desenfreada ao dinheiro. Bilhões de dólares irrigam os cofres das campanhas e dos partidos. A outra característica é a guerra de informação, hoje magnificada pela manipulação midiática, a indústria de notícias falsas, na era da revolução tecnológica, controlada por poderosos monopólios. O exemplo mais saliente foi a interferência de Elon Musk na campanha eleitoral.
3 – A vitória de Trump marca o fortalecimento da extrema-direita nos Estados Unidos e sinaliza uma agenda agressiva em termos de políticas internas e externas. Trump declarou que seu segundo mandato será focado em “colocar a América em primeiro lugar” e “restaurar a ordem”, o que inclui uma abordagem mais rígida sobre a imigração, a redução de regulamentações trabalhistas e uma política de segurança pública mais punitiva.
Para Trump, “colocar a América em primeiro lugar” é a senha para reforçar o nacionalismo de potência imperialista, o que a qualquer momento pode expressar-se por meio de atos de intervenção e agressão pelo mundo, o exercício de uma política externa unilateralista e a exacerbação de rivalidade com a China, a partir da intensificação da guerra comercial, da oposição ao BRICS,o que afetará também os interesses da Rússia. Pode ocorrer também o agravamento de contradições interimperialistas com os setores hegemônicos da União Europeia e parceiros da Otan.
Na América Latina, a vitória de Trump implica riscos acrescidos de aumento da hostilidade a países dirigidos por forças revolucionárias, anti-imperialistas e socialistas, como Cuba, Venezuela e Nicarágua. Isto é um sinal de alerta também para outros governos, que mesmo não sendo anti-imperialista, e tendentes à conciliação com os Estados Unidos, como Brasil e Colômbia, não se dispõem ao alinhamento com as posições de Trump.
4 – Trump promete começar uma “nova era de ouro”. Esta se encontra cada vez mais distante. Os EUA já não podem deter a multipolaridade e a ascensão de outras potências rivais. Quanto à força política de Trump constituir o “maior movimento político de todos os tempos”, fica claro o propósito de soerguer uma poderosa força de direita. O inevitável efeito disso é a polarização com as forças da resistência e da luta dos trabalhadores e povos, o que em perspectiva pode ensejar o surgimento de um também poderoso movimento político progressista e revolucionário, anti-imperialista e voltado para o socialismo, o que abrirá nova era da luta pela libertação nacional e social dos povos do mundo.
Maria do Socorro Gomes Coelho