Opinião
Sinais de unidade alentam a esquerda
Por José Reinaldo Carvalho (*)
Em meio a um nebuloso cenário político, há episódios que prenunciam ou mesmo provocam significativas mudanças.
Em dois dias (sexta e sábado últimos) as principais forças da esquerda do país – o PT e o PCdoB – fizeram movimentações e emitiram sinais que favorecem a acumulação de forças e a construção da unidade das esquerdas com perspectiva de ampliar os protagonistas na luta contra o regime do golpe.
Um desses episódios, momento apoteótico, foi o lançamento da pré-candidatura do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Preso político em Curitiba, em condição de “solitária”, como ele próprio expressou, Lula enviou uma comovente mensagem ao povo brasileiro, lida pela presidenta legítima do Brasil, Dilma Rousseff : “De onde me encontro, quero renovar a mensagem de fé no Brasil e em nosso povo”, proclama.
Cônscio das dificuldades que terá de enfrentar, mas acima de tudo, das responsabilidades que tem para com a nação, Lula expressou com limpidez e simplicidade a ligação intrínseca que há entre a luta por sua libertação e pelo direito a ser candidato, e o caráter estratégico da batalha eleitoral de 7 de outubro: “Tive muitas candidaturas em minha trajetória, mas esta é diferente: é o compromisso da minha vida”.
Ninguém pode de sã consciência, independentemente de ser partidário de outra pré-candidatura, contornar a evidência de que a luta pela libertação de Lula e a batalha pela realização de eleições livres, democráticas, legítimas e transparentes são uma e a mesma coisa. Afinal, a injusta prisão de Lula tem explícitas conotações políticas golpistas e foi perpetrada para assegurar as condições à continuidade das forças golpistas no poder.
Na sua mensagem Lula transmite a orientação fundamental que informa a estratégia e a tática das forças progressistas do país: “temos de unir as forças democráticas de todo o Brasil, respeitando a autonomia dos partidos e dos movimentos, mas sempre tendo como referência um projeto de País mais solidário e mais justo, que resgate a dignidade e a esperança da nossa gente sofrida. Tenho certeza de que estaremos juntos ao final da caminhada”. Nisto está o sentido da grande política das forças de esquerda, seu movimento fundamental, seu método essencial para garantir as condições da vitória. De novo, vem à tona o lema: a unidade é a bandeira da esperança.
No mesmo dia em que era lançada a pré-candidatura de Lula, o Partido Comunista do Brasil explcitava compreensão similar, em reunião da sua Comissão Política Nacional. Percebendo que na evolução do quadro político “emerge a efetiva possibilidade de vitória de uma candidatura de oposição, do campo democrático, popular, patriótico, sustentada por um arco amplo de forças”, os comunistas reiteraram sua mensagem de sempre: “para tal, a esquerda (…) terá de persistir na elaboração de uma plataforma convergente que aponte caminhos para o país superar a crise e sobre a qual seja possível um progressivo pacto de construção de uma estratégia comum para ganhar as eleições”. Referindo-se concretamente à campanha eleitoral, o documento aprovado na reunião da direção do PCdoB assinala que é necessário “intensificar e qualificar crescentemente o diálogo político, buscando progressivamente tecer uma estratégia eleitoral comum para vencer as eleições. O sentido de unir forças deve orientar a conduta política da esquerda tanto no primeiro turno quanto no segundo”.
No sábado, foi o PT que emitiu sinais de que está afinado com seu líder e disponível para a convergência de forças. A reunião de sua Executiva Nacional deliberou “construir uma coligação nacional para apoiar a candidatura Lula com PSB, PCdoB e outros partidos que venham a assumir este apoio”. De modo específico, o documento aponta que essa construção “passa pela indicação do candidato a vice-presidente em entendimento com os partidos aliados”.
Decerto, haverá controvérsias, porquanto a decisão não cogita a adesão do PT a outra candidatura, mas o inverso, o respaldo de outros partidos a Lula, questão que pode tornar-se aguda se o ex-presidente for impugnado. Por óbvio, sua candidatura será registrada e em qualquer circunstância Lula fará campanha. Seja como for, o espaço para discussão, convergência e composição está aberto. A predisposição à unidade se mostra reforçada a partir de outro recado do ex-presidente: fazer um pacto de não agressão com o candidato pedetista Ciro Gomes.
Estas posições são alentadoras, sinais promissores de que é possível construir a unidade das forças democráticas, progressistas e populares e preparar as condições para derrotar eleitoralmente o regime golpista.
(*) Jornalista, editor do Resistência