Opinião
Putin reforça alianças estratégicas com países socialistas asiáticos
Putin manda mensagem clara às potência hostis: não está sozinho e aumenta seu poder defensivo, explica o dirigente comunista José Reinaldo Carvalho
Por José Reinaldo Carvalho (*) – O presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, iniciou o seu quinto mandato com iniciativas diplomáticas ousadas, que têm despertado reações negativas por parte do seu principal inimigo da atualidade – o imperialismo estadunidense. Depois de ter realizado uma visita de Estado à China, em maio último, o líder russo esteve esta semana na República Popular Democrática da Coreia (RPDC) e na República Socialista do Vietnã.
Na Coreia do Norte, Putin criticou severamente os Estados Unidos pelas pressões e exigências “obviamente inaceitáveis” contra o país peninsular. Ao contrário do que se afirma sobre o governo de Pyongyang, acusado de ser um fator de instabilidade na Península Coreana, ele ressaltou que a Coreia do Norte tem demonstrado a intenção de resolver pacificamente todas as divergências existentes, em contraste com o que ele descreveu como a postura agressiva dos Estados Unidos.
“A Rússia tem incessantemente apoiado e continuará a apoiar a RPDC e o heroico povo coreano em sua luta contra o inimigo traiçoeiro, perigoso e agressivo, em sua luta pela independência, identidade e pelo direito de escolher livremente seu caminho de desenvolvimento”, enfatizou Putin. Este posicionamento reforça a aliança histórica e estratégica entre os dois países, num momento em que as tensões geopolíticas na região estão em alta. A reafirmação do apoio russo à Coreia do Norte por parte de Putin é um sinal claro de que a Rússia está disposta a neutralizar a política intervencionista dos Estados Unidos na região asiática. À medida que as tensões geopolíticas aumentam, a parceria estratégica entre Rússia e Coreia do Norte poderá ter um impacto significativo na dinâmica de poder regional.
A proclamação da amizade renovada entre a Rússia e a Coreia do Norte ocorre num contexto de intensificação das tensões entre o bloco dos países imperialistas liderado pelos Estados Unidos e os países que, construindo a multipolaridade, se opõem ao hegemonismo norte-americano. Inscreve-se também no quadro de uma estratégia russa oposta à dos EUA de estender seu poderio ao conjunto da Ásia, uma resposta às tentativas dos Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul de formar uma espécie de “Otan asiática”, o que também afeta os interesses da China, que silenciosamente vê com simpatia a aproximação da Rússia com os velhos amigos asiáticos.
Moscou, Pyongyang e Pequim são objetivamente levadas a fortalecer uma coalizão de nações para enfrentar as ameaças comuns. Este é o pano de fundo para a assinatura do tratado de parceria estratégica abrangente Rússia-Coreia do Norte, um passo concreto avançado na consolidação desta aliança. O tratado é uma resposta política e militar às mudanças profundas no cenário global e, ainda que o documento não tenha como alvo países terceiros e assuma um caráter defensivo, mostra como a República Popular Democrática da Coreia e a Federação Russa estão alinhadas e em prontidão para qualquer eventualidade, uma vez que o acordo estipula assistência mútua em caso de agressão contra os signatários.
Putin foi claro ao caracterizar o tratado como uma base consistente para relações de longo prazo entre os dois países, com olhos postos também no prolongamento do conflito que mantém com as potências ocidentais na Ucrânia. Uma cartada adicional e fundamental, em meio às manobras de tática política e diplomática e às ações militares no terreno. Ao estabelecer um pacto de defesa mútua com um país militarmente forte, Putin se torna mais capaz de enfrentar a agressividade dos seus contendores na Otan.
Ao promover laços com Pyongyang, Moscou está emitindo um sinal aos EUA e aos seus aliados de que a Rússia não tem medo de um conflito prolongado, porque não está sozinha.
A recíproca é válida para o “país das manhãs serenas”, assediado, cercado, ameaçado e indexado como possível alvo de um ataque nuclear dos Estados Unidos. A mensagem é clara: a Coreia do Norte também não está sozinha e conta com um aliado poderoso, e temido pelas potências imperialistas ocidentais e o Japão.
Kim Jong Un deixou claro para o chefe do Kremlin a sua lealdade. Respondeu ao apoio de Putin aos esforços norte-coreanos na defesa de sua independência e integridade com uma posição explícita de “total apoio e solidariedade ao governo, ao exército e ao povo russo na realização da operação militar especial na Ucrânia para proteger a soberania, os interesses de segurança e a integridade territorial”, disse o líder da RPDC.
A relação entre a Rússia e a Coreia do Norte é marcada por uma longa história de cooperação e solidariedade. Desde a ajuda soviética durante a Guerra de Libertação da Pátria (1950-1953) até o rápido reconhecimento da RPDC e a assinatura do Acordo de Cooperação Econômica e Cultural em 1949, Moscou tem sido um aliado consistente de Pyongyang.
Os dois países compartilham uma memória comum de luta contra o militarismo japonês e celebram as tradições de fraternidade no combate. Este legado histórico fortalece os laços atuais e fornece uma base sólida para a cooperação futura.
A evolução desta parceria estratégica poderá redefinir o equilíbrio de poder na região, influenciando diretamente as políticas de segurança e defesa de todos os países envolvidos.
Em outra movimentação também audaciosa, o presidente russo fez uma visita de Estado ao Vietnã. Na pauta, a intensificação da cooperação mútua nas áreas comercial e econômica, científica, tecnológica e humanitária e o afinamento de pontos de vista sobre questões-chave da agenda internacional e regional.
Os dois países também concordaram que a região da Ásia-Pacífico precisa de uma arquitetura de segurança confiável sem blocos militares, uma noção que conquista cada vez mais as mentes dos amantes da paz no Sul Global, que clamam pela segurança coletiva genuína, que significa uma segurança de jure e de facto para todos, não a segurança de uns em detrimento da dos demais.
Os imperialistas estadunidenses reagiram. “Nenhum país deveria dar a Putin uma plataforma para promover sua guerra de agressão”, disse um porta-voz da embaixada dos EUA em Hanói.
A reação americana é mais um tento marcado por Putin com esta viagem aos dois países asiáticos. Evidenciou que os Estados Unidos manifestam nervosismo com sua perda de influência, expressão do seu incontornável declínio.
As alianças da Rússia com a Coreia do Norte e o Vietnã reforçam a construção do mundo multipolar.
(*) Jornalista, editor do Resistência, membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do Partido Comunista do Brasil, onde coordena o setor de Solidariedade e Paz. É presidente do Cebrapaz (Centrro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz)