Conjuntura nacional
Prisão de Lula, a Delenda Cartago de 2018
Por José Reinaldo Carvalho (*)
No momento que escrevo estas breves notas, apenas duas forças políticas se manifestaram sobre a decisão histórica do desembargador Rogério Favreto, do TRF-4, de conceder Habeas Corpus em favor do presidente Lula e determinar sua imediata soltura, ordem desobedecida em poucas horas pelo juiz de primeira instância Sérgio Moro e posteriormente pelo desembargador João Pedro Gebran, também ao arrepio da lei, pois apenas um órgão colegiado poderia revogar a decisão do desembargador Favreto.
As duas forças políticas que se manifestaram ainda na manhã deste domingo, 8 de julho, dia que marca o quarto aniversário da funesta goleada de um a sete sofrida pela seleção da CBF, foram o Partido dos Trabalhadores e o governo ilegítimo e golpista de Michel Temer. Para o PT, “finalmente foi reconhecido o direito do companheiro Lula defender-se em liberdade da sentença arbitrária e disputar a presidência da República em igualdade de condições com os demais candidatos”. A nota do PT assinalou ainda que “a liberdade de Lula é o restabelecimento do Estado de direito, é a liberdade do Brasil”. Quanto ao governo golpista, falou através do seu mais característico personagem, o ministro Marun, aliado de Eduardo Cunha e escudeiro, com os métodos que todos conhecem, do presidente ilegítimo. Mesmo dizendo que o Executivo não se pronunciava e que a matéria era de competêncvia exclusiva do Poder Judiciário, Marun enfatizou: “Lula não pode ser candidato”.
A frase sonora é a Delenda Cartago brasileira do século 21. Qual Catão, que em nome de Roma bradava que “Cartago deve ser destruída”, as forças reacionárias brasileiras repetem a plenos pulmões: “Lula deve manter-se preso”, “Lula não deve ser candidato”.
Os partidos da direita mantiveram-se em silêncio porque os seus porta-vozes (ou dirigentes), acantonados no principal meio de comunicação do país, a Globo, puseram em movimento sua usina de mentiras e venenosa agência de agitação e propaganda para dar a voz de comando contra a libertação do presidente, atribuindo às ilegais ações de Moro e Gebran a condição de expressões do direito natural, legitimando os torquemadas que diuturnamente, através de atos anticonstitucionais, mutilam a democracia e aprofundam o caráter excepcional do golpe.
As forças de direita esfregam as mãos enquanto sua emissora proclama as principais teses não só deste domingo mas de toda a fase política pré-eleitoral: 1) Lula está preso e tem que seguir preso; 2) Só será candidato quem está legalmente habilitado para isto e Lula não está. E, em terceiro lugar, felizmente, argumentam os articulistas da Globo, outros partidos de esquerda articulam outra candidatura, que não a do Lula, de centro-esquerda, com apoio de partidos de centro-direita.
A sentença vai além da prisão de Lula e da proibição de sua candidatura. Só terá efeito se alcançarem êxito as manobras legitimadoras da fraude. A esquerda não pode permitir-se cumprir este papel.
(*) Jornalista, editor do Resistência