Rússia
Por que Vladimir Putin?
O Granma publicou este artigo, escrito por Rodolfo Bueno, pouco antes da divulgação dos resultados das eleições russas que terminaram com uma esmagadora vitória eleitoral e política de Vladimir Putin, reeleito com 76,65% dos votos em uma eleição com alto nível de comparecimento, para desespero e incompreensão da mídia hegemônica brasileira. Em segundo lugar ficou o candidato do Partido Comunista da Federação Russa (PCFR), que alcançou 12% do votos. O artigo de Rodolfo Bueno ajuda a entender o resultado.
Por que Vladimir Putin?
A resposta à pergunta inicial é simples: porque a Rússia e a China são a alternativa ao mundo unipolar criado pelos Estados Unidos, após a queda da União Soviética.
Seria possível que algum país, a França, por exemplo, se recusasse a seguir os passos que os EUA determinam? Não, nem mesmo se quisesse, mas isso seria possível se a hegemonia dos Estados Unidos fosse rompida.
Todo o país que pretenda ser soberano deve enfrentar o poder dos EUA, sabendo que terá suas asas quebradas, ao tentar alçar voo. Até agora, apenas poucos países do mundo conseguiram isso, alguns são admiráveis, como Cuba e o Vietnã. A Rússia fez isso porque foi sua única maneira de sobreviver, se não o tivesse feito, já não existiria.
No final, a perestroika consistiu em uma troca da soberania da União Soviética pela promessa de aproveitar o bem-estar que alguns países do Ocidente desfrutam, o que não passou de um embuste, um compromisso jamais cumprido. Por ouvir o canto da sereia, a URSS se desintegrou, surgiram quinze novas repúblicas, que seriam ainda mais pulverizadas. A Rússia, a maior e mais poderosa delas, permaneceu na expectativa do que viria. Desmembrá-la, como haviam feito com o campo socialista, a Iugoslávia e a União Soviética, era o principal objetivo do sistema unipolar recém-criado.
A desintegração da URSS foi acompanhada pela destruição de suas forças armadas, seu sistema de segurança social, o extermínio de sua indústria e o declínio do padrão de vida de que sua população desfrutara.
A sociedade russa tornou-se extremamente pobre, a mortalidade da Rússia cresceu tanto que em menos de dez anos sua população diminuiu em mais de dez milhões de habitantes. E não só isso, do dia para a noite, mais de 30 milhões de russos tornaram-se estrangeiros nos países da ex-URSS, onde haviam nascido ou ao menos vivido a maior parte de suas vidas. Estrangeiros esses que não podiam sequer se expressar em seu próprio idioma e, a partir de então, foram tratados como párias sem direitos, sem que nenhum organismo internacional, desses que abundam e reivindicam direitos humanos quando menos se espera, velassem por suas vidas, agora ameaçadas. Putin e seu time impediram a Rússia de desaparecer no vórtice criado e agora emerge como um Estado independente.
O núcleo do êxito de Putin consiste em ter alcançado o desenvolvimento sustentável na Rússia, tanto em nível político quanto econômico e social; em ser o estandarte da ideologia russa, que restaura os mais altos valores nacionais, morais, religiosos, culturais, artísticos e filosóficos, que sempre constituíram a civilização russa; e ao fortificar as forças armadas russas em defesa da soberania, riqueza, liberdade e independência da Rússia.
É isto que se pode destacar da mensagem anual do Presidente Putin para a Assembleia Federal da Rússia, na qual, além de lembrar as conquistas alcançadas no campo social, o presidente fez referência aos modelos de armas inovadores desenvolvidos por seu país, em resposta ao abandono unilateral do Tratado sobre Mísseis Antibalísticos (ABM), quando os Estados Unidos instalaram um sistema antimíssil, em torno da Rússia, que viola a paridade nuclear estratégica alcançada; para atender à nova doutrina nuclear dos EUA, que lhe permite o uso de armas nucleares sempre que desejar e contra quem bem entender, além da instalação de cerca de 400 bases militares à sua volta. Só então, a Rússia desenvolveu novos modelos de armas estratégicas.
Ocorre que a Rússia, herdeira da URSS, possuía a cultura, ciência e tecnologia, que não eram inferiores às dos EUA, mas, possivelmente, superiores.
Ninguém no mundo esperava esse incrível salto tecnológico russo.
Embora Putin tenha enfatizado que o poder militar da Rússia não ameaça ninguém, que existe apenas para garantir a proteção de sua soberania, já ameaçada, e que só será usado se seu país ou algum dos seus aliados forem atacados, espera-se que a reação de blocos agressores, como a OTAN, inicie uma campanha caluniosa contra Moscou.
Agora que a Rússia é tão poderosa, Putin expressou a esperança de ser ouvido. Amanhecerá e veremos.
Fonte: Granma, tradução de Maria Helena De Eugênio para o Resistência