Piada de brasileiro em Portugal

23/04/2015

Foi absolutamente correta a decisão da presidenta Dilma de atribuir ao PMDB e ao vice-presidente da República, Michel Temer, responsabilidades maiores na articulação política. Aqui mesmo neste espaço já escrevi notas e artigos elogiando a participação desse partido no esforço para assegurar a governabilidade, defender a democracia e a legitimidade do mandato constitucional da presidenta.

Por José Reinaldo Carvalho, editor do Portal Vermelho

Esforço, aliás, que já vem dando resultados. Temer combateu com judiciosos argumentos políticos e jurídicos, brilhante constitucionalista que é, a estapafúrdia tese do impeachment e, com a habilidade que lhe é peculiar, deve ter até mesmo desempenhado um papel no convencimento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que, temeroso do desgaste do PSDB, conotado como golpista, acabou passando uma descompostura nos seus pares pelo açodamento em derrocar o governo e recomendou outro roteiro aos seus correligionários tucanos.

É também justo o esforço da mandatária para manter uma relação institucional de elevado nível com Eduardo Cunha e Renan Calheiros, ambos peemedebistas, respectivamente presidentes da Câmara e do Senado. Uma louvável atitude de grandeza, considerando a ação oposicionista do presidente da Câmara e os entrechoques com o presidente do Senado.

Mas, falando francamente, seria de bom alvitre que os aliados, mesmo quando investidos de autoridade, circunscrevessem as suas declarações ao que está acordado e à realidade dos fatos. Compreende-se que uma autoridade de Estado e governo, em nome da boa educação, da imagem do país que representa e das corretas relações diplomáticas, não critique as medidas do governo do país em que está de visita. Mas tampouco pode, para se sentir mais cômodo, elogiar aquilo que corresponde a uma brutal opressão ao povo do lugar.

Tal é o caso da política de arrocho do governo direitista português, serviçal do FMI, da União Europeia e do Banco Central Europeu, que pode levar o país irmão à ruína, como já ocorreu com a Grécia. Outrossim, não tem amparo na realidade a comparação, que veio com o elogio, entre esta política e o ajuste fiscal proposto pela presidenta Dilma. São políticas distintas, com origens e fins distintos.

A solidariedade ao povo português e nosso engajamento na luta para que o Brasil supere as dificuldades momentâneas e percorra os caminhos do desenvolvimento nacional e do progresso social, levam-nos a fazer este registro crítico. Quanto mais não seja, para evitar que do outro lado do Atlântico pegue a moda de fazer “piada de brasileiro”.

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