Internacionalismo
PCdoB: Acordo de paz na Colômbia seria impossível sem a valentia e o descortino político das Farc-Ep
O Partido Comunista do Brasil está participando, na condição de convidado, do Congresso Fundacional da nova organização política que está surgindo das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (Farc-EP). O evento teve início neste domingo (27), no Centro de Convenções Gonzalo Jiménez de Quesada, em Bogotá. Representando o PCdoB a camarada Socorro Gomes, membro do Comitê Central do Partido e presidenta do Conselho Mundial da Paz, levou uma mensagem de saudação dos comunistas brasileiros aos camaradas das Farc-EP. Leia abaixo o texto.
São Paulo, 24 de agosto de 2017
À Direção das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (Farc-EP)
Queridos e queridas camaradas,
Enviamos o caloroso abraço solidário do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) por ocasião do Congresso de Fundação do novo partido político oriundo das Farc-Ep. É grande a confiança e o entusiasmo com que assistimos ao passo decisivo para a constituição de um instrumento capaz de encarnar, ao lado de outras organizações populares, os sonhos e as esperanças revolucionárias do povo colombiano.
Os comunistas brasileiros, durante estes mais de 50 anos de heroico combate conduzido pelas Farc-EP, sempre estivemos, em nosso país, ao lado de vocês, rechaçando a torrente de calúnias e difamações com que os inimigos dos povos tentavam soterrar esta brilhante saga, ao mesmo tempo em que denunciávamos o recurso ao terrorismo político das oligarquias e seus aliados imperialistas. Movia-nos, além do internacionalismo proletário, além da convicção de que o lado das Farc-EP era o lado da justiça, uma intensa admiração pela coragem e abnegação de seus combatentes.
Durante estas cinco décadas, as Farc-EP foram atacadas violentamente por forças poderosas da oligarquia, treinadas, financiadas e armadas pelo imperialismo estadunidense. Sua eliminação foi várias vezes prometida e prazos para isso eram constantemente anunciados. Uma gigantesca campanha midiática caluniava os combatentes revolucionários.
Tudo isso foi incapaz de derrotar a insurgência, que escreveu – na história da luta popular – páginas gloriosas.
Jamais serão esquecidos nomes como Jorge Eliecer Gaitán, Manuel Marulanda, Jacobo Arenas, Bernardo Jaramillo, Alfonso Cano, Raúl Reyes e tantos outros que tombaram na luta por justiça e liberdade.
Em 2012, de forma digna e altiva, as Farc-EP aceitaram entabular negociações com o governo. Quatro anos de intenso diálogo, que conheceu momentos de recuos e tensões. O cartel das armas e da guerra patrocinou movimentos audaciosos da ultradireita na busca por sabotar a paz. Mas o objetivo foi alcançado, e resultou em um acordo que traz em seu bojo diversos mecanismos institucionais visando a garantir ao movimento social e popular colombiano o direito à expressão e organização e compromete o governo com o desmantelamento das criminosas gangues paramilitares, em um reconhecimento implícito das justas razões que levaram ao surgimento das Farc-EP.
De fato, lembramos que há quase um ano, no dia 17 de setembro de 2016, acompanhávamos com atenção, desde o Brasil, a 10ª Conferência Guerrilheira, quando o coletivo da Farc-EP aprovou o plano de paz. Na abertura daquele histórico evento, declarou o comandante Timoleón “Timochenko” Jiménez: “Aqueles que desconhecem a natureza das Farc não conseguem explicar como os 48 camponeses passaram a ser milhares de homens e mulheres que compõem a formidável organização que nos tornamos depois de décadas de luta e, portanto, procuram explicar o prodigioso fato histórico com teorias aventureiras, sempre voltadas a ignorar a poderosa força criativa da consciência e organização popular. Um povo unido e devidamente organizado é uma força invencível. As Farc não só resistiram à maior e mais violenta investida lançada pelo imperialismo e seus aliados do capital nacional e pelo latifúndio, contra um exército guerrilheiro e um povo que se declarou em rebelião, mas conseguimos sentar em uma mesa de negociação com eles para levar adiante um Acordo Final de Término do Conflito, que deixa definitivamente claro que nesta guerra não há vencedores ou vencidos, enquanto os nossos adversários são forçados a reconhecer nossos direitos de pleno exercício político com as mais amplas garantias.”
Assim, para o PCdoB, o acordo de paz foi uma vitória do povo colombiano antes de tudo, mas seria impensável esta vitória sem o destemor, a valentia e o descortino político das Farc-Ep.
Segundo a opinião unânime das forças progressistas colombianas, com as quais nos congratulamos também por esta vitória em que todos foram construtores importantes, o acordo abre uma nova época para as lutas sociais com grandes possibilidades para avanços no campo da democracia e da justiça social.
Isto é ainda mais significativo quando, neste exato momento, a América Latina sofre uma feroz ofensiva do imperialismo, que ameaça a soberania de toda a região e chega a brandir contra a República Bolivariana da Venezuela a ameaça de uma intervenção militar.
A presença das Farc-EP na luta política aberta deve ser, desta forma, saudada como uma grande notícia para os povos da América Latina e Caribe.
O PCdoB expressa seus votos para que prospere igualmente de maneira exitosa o já iniciado processo de negociação com o Exército de Libertação Nacional (ELN).
Queremos registrar que, recentemente, o PCdoB participou do 22º Congresso do Partido Comunista Colombiano, que contou com uma importante delegação das Farc-Ep, e proclamamos nossa alegria ao ouvir, tanto dos camaradas do PCC quanto das Farc-Ep, que iria ser iniciado o caminho para a reunificação da família comunista colombiana, o que nos deixa ainda mais confiantes nas vitórias vindouras.
Sabemos que o acordo de paz é apenas uma etapa da luta, etapa esta que ainda deve ser concluída, com o governo colombiano cumprindo totalmente as obrigações assumidas, entre elas, e em primeiro lugar, a de libertar todos os presos e presas políticas que ainda estão nos cárceres.
Estimados camaradas,
As longas negociações de paz tiveram como sede a capital de Cuba socialista, Havana. Não poderia haver lugar melhor para cobrir de bons presságios esta nova fase da vida política colombiana. Por isso nos permitirmos fechar esta saudação com uma citação do inesquecível comandante Fidel Castro Rúz: “A conquista da paz será a esperança para milhões de pessoas no planeta, cuja principal preocupação segue sendo a sobrevivência em um mundo convulsionado pela violência e pela guerra. A paz não é uma utopia, é o direito legítimo dos seres humanos e uma condição indispensável para que se respeite os direitos humanos, em particular, o direito à vida”.
Viva as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – EP
Viva o Congresso de Fundação!
Viva a nossa América Latina que se levanta e luta!
Viva a democracia, o progresso social, o socialismo e o comunismo!
O Comitê Central do Partido Comunista do Brasil