Opinião
Palestinos em Moscou, uma jogada de mestre do Sul Global
Por Paulino Cardoso (*)
A Rússia convidou 14 grupos políticos palestinos, incluindo o Hamas e a Jihad Islâmica, para uma conferência em Moscou entre 29 de fevereiro e 1 de março. A conferência, que é chamada de “diálogo interpalestino”, inclui conversações sobre a guerra entre Israel e palestinos e outros tópicos que dizem respeito à Ásia Ocidental, antigo Oriente Médio.
Tal e qual a ação da China que produziu, em Beijing, a aproximação diplomática entre o Irã e a Arábia Saudita, este evento evidenciou o peso geopolítico da Federação Russa como um mediador central para o enfrentamento de tensões em um mundo em guerra.
A declaração final, ao agradecer a Rússia e a África do Sul, dois países BRICS, indica o papel do Sul Global na resolução de conflitos. Liderança que o presidente Lula nesta semana exerceu nas tensões na América Latina, por meio do fortalecimento da CELAC, a Comunidade dos Estados Latinoamericanos e Caribenhos.
Sem dúvida, o encontro desmontou décadas de ações ocidentais, capitaneadas por Israel, para inviabilizar o Estado palestino.
O mais importante, o reconhecimento da OLP como única representante do povo palestino destruiu a farsa da divisão entre os palestinos e associação entre Resistência e Hamas, apenas.
É o que nos permite entender, por outro lado, a renúncia do primeiro-ministro palestino, Mohammad Shtayyeh, anunciada na segunda-feira (26/02), visando facilitar a formação de um amplo consenso entre os palestinos.
Segundo a Agência de Notícias TASS, os participantes da reunião intra-palestina em Moscou condenaram em seus comunicado conjuntos as tentativas de expulsar os habitantes de Gaza de suas terras e o uso da violência contra civis.
“Com base nos resultados de discussões de dois dias, realizadas numa atmosfera construtiva e amigável, os palestinos adotaram uma declaração final consensual. Os participantes da reunião condenaram o uso da violência contra a população civil na Faixa de Gaza e em outros territórios palestinos e instaram a fornecer assistência humanitária necessária a todos os necessitados”, afirmou o Ministério de Relações Exteriores da Federação Russa.
Além disso, o ministério destacou que o documento enfatiza que é inadmissível tentar expulsar os palestinos das suas terras e desligar a Faixa de Gaza de outros territórios palestinos.
Ao fortalecer a unidade política, resgatando o papel histórico da Organização de Libertação da Palestina, são removidos os obstáculos para a construção de um Estado soberano na Palestina Ocupada. O mundo não é mais o mesmo e a liderança de China e Rússia sobre o Sul Global é inequívoca, diferente dos países ocidentais que tem apoiado o genocídio do povo palestino.
(*)Paulino Cardoso é historiador, analista geopolítico e editor do Mundo Multipolar
Fontes:
TASS:https://tass.com/politics/1754543