Militares

O nome do golpe

14/01/2019

Por Manuel Domingos Neto (*)

Quem pensa em poder, ou pensa na força ou devaneia. Estado é força que se exerce sobre a sociedade.

O militar sempre foi peça chave aqui ou em qualquer lugar.

No Brasil, a força está essencialmente no Exército. O restante do aparato o acompanha, nem sempre concordando com tudo.

Assim, na República, o cargo decisivo é o de comandante do Exército.

Ao longo dos anos, Villas Bôas afirmou “ad nauseam”: a intervenção do militar na política não fez bem ao Brasil nem à Corporação; fomos impelidos pela “guerra fria”, guerra que não era nossa.

Respirei aliviado quando esse homem assumiu o comando do Exército. O fato de Leal Ferreira assumir o comando da Marinha seria uma garantia extra.

Estaríamos livres de aventuras de homens armados, pagos pela sociedade, majoritariamente conservadores e sempre apavorados com o espectro do comunista: seriam reprimidos e a Constituição respeitada.

Quando, no primeiro semestre de 2018, surgiram indícios de que líderes militares “assessoravam” Bolsonaro, fiquei na ilusão de que Villas Bôas daria um “deixa disso”.

Ledo engano, o democrata ajuizado sumira como que por encanto. Sua ordem fora: “prossigam”.

Só aí compreendi o antigo cuidado do Comandante em acompanhar de perto o Supremo até o ponto de tê-lo sob as mãos. E, também, o fato de nunca tomar como ofensa os apelos de golpistas por uma “intervenção militar”. Mais ainda, o fato de não prender generais que perdiam a compostura.

Caí na real quando Villas Bôas reativou as comemorações da “Intentona Comunista”.

Hoje, analistas de espírito democrático tentam encontrar designações para o golpe. A mais comum talvez seja “golpe jurídico-midiático”.

Quando tivermos o devido distanciamento histórico e os fatos forem melhor vasculhados, a ruptura do processo democrático poderá ser designada como “golpe militar travestido”.

Leal Ferreira e Rossato, ao deixarem os comandos da Marinha e da Aeronáutica, agradeceram à Dilma suas nomeações. Villas Bôas também obedeceu ao protocolo. Mas, de fato, não via ninguém acima de si mesmo. Não tinha a quem agradecer de coração.

Bolsonaro é quem assumiu a presidência agradecendo publicamente a Villas Bôas.

Hoje, o arquejante general, quem sabe, tenha que agradecer mesmo a alguém. Mostrando sua dimensão moral, terminou de pegar uma boquinha: a de “consultor” de Augusto Heleno, no GSI, bem pertinho do gabinete presidencial.

(*) Doutor em História pela Universidade de Paris

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