Opinião
O “nó tático” de Kim
Por José Reinaldo Carvalho (*)
A República Popular Democrática da Coreia (RPDC, Norte) e a República da Coreia (Sul) decidiram que suas delegações esportivas vão desfilar juntas sob uma bandeira única na abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno que se realizarão em fevereiro na capital sul-coreana, Seul.
É mais um passo adiante, fruto do diálogo entre as duas partes, que decidiram também formar uma equipe única de hóquei feminino no gelo. A Coreia Popular enviará ao Sul uma delegação de 550 pessoas, incluindo 230 animadores de torcida, 140 artistas e 30 atletas de taekwondo para uma demonstração, além de participantes nos jogos paralímpicos.
O diálogo entre os dois paises resulta de uma proposta do presidente da República Popular Democrática da Coreia (RPDC), Kim Jong Un, em sua mensagem de Ano Novo, em 1º de Janeiro.
Foi uma sinalização de que a Coreia Popular está disposta – ao contrário do que dizem seus detratores – ao diálogo, às conversações de alto nível, à distensão e à paz. Uma reafirmação de que a República fundada por Kim Il Sung almeja um acordo definitivo de paz com o Sul e não apenas o armistício, como o assinado em julho de 1953, na mesma Panmunjong em que se desenrolam os atuais diálogos. Uma paz necessária à manutenção da soberania nacional e do direito a construir a sociedade socialista consoante a peculiaridade da nação coreana e seu nível de desenvolvimento.
Contudo, as reações no campo imperialista variam entre o constrangimento e a surpresa. Pasmada e balbuciante, a mídia dá, contrafeita, a notícia do avanço do diálogo, mas aproveita a ocasião para enxovalhar o governo da RPDC com as acusações de sempre. O Japão, sempre provocador quando o tema é a Coreia, adverte que, apesar do início do diálogo, é necessário continuar pressionando e sancionando o “país das manhãs serenas”. Os Estados Unidos convocaram para Vancouver (Canadá) uma reunião na última terça-feira (16), cujo fim era aumentar as pressões sobre a Coreia Popular. A China rechaçou a manobra.
Na verdade, o governo de Kim Jong Il deu um “nó tático” no imperialismo estadunidense e seus aliados, como se diz em linguagem esportiva. Demonstrou que sabe mover-se no complexo tabuleiro da geopolítica e da diplomacia. Quer a paz, mas não se submete a pressões, chantagens e agressões. O “nó tático” de Kim perturbou também alguns espíritos fracos e provocou vertigens naqueles que, entre as forças de esquerda, destilam veneno contra a Coreia Popular e cedem à pressão ideológica do imperialismo. O cosmopolitismo neocolonizado que antes deblaterava contra o “excesso” de informação sobre a Coreia Popular nos veículos de comunicação comunistas, porque seria mais importante noticiar a luta de classes na Suiça, Suécia, Canadá ou Estados Unidos, também gagueja ante a evidência de que os conflitos na Ásia, África, Oriente Médio e América Latina, ocupam obrigatoriamente, pela força dos fatos, lugar de proeminência nos noticiários das agências internacionais.
Os revolucionários, as forças solidárias e amantes da paz, saúdam o diálogo intercoreano. Afinal, quando, de ambos os lados da Península, a população entoa os versos e acordes da canção folclórica “Arirang”, homenagem à pátria comum, abre-se a possibilidade da distensão e da paz.
(*) José Reinaldo Carvalho é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB e editor do Resistência