Opinião

O Foro de Lula e Fidel 

12/07/2018
Lula e Fidel, exemplos de ética e dignidade

Cuba socialista sediará de 15 a 17 de julho a 24ª reunião do Foro de São Paulo, que contará com a presença de mais de uma centena de partidos políticos e movimentos políticos e sociais de esquerda e progressistas da América Latina e Caribe e dezenas de organizações da Europa, Ásia, África e da América do Norte.

Por José Reinaldo Carvalho *  

Esta 24ª edição do Foro de São Paulo terá como dois principais protagonistas -embora fisicamente ausentes – seus dois principais fundadores: Luiz Inácio Lula da Silva e Fidel Castro.

A reunião abordará, entre outros temas, o combate ao regime golpista do Brasil. Erguerá bem alto a bandeira da libertação do presidente Lula da prisão política a que está submetido há mais de cem dias e por seu direito a ser candidato a presidente da República.

A libertação de Lula e sua candidatura correspondem às mais sentidas aspirações do povo brasileiro. O Partido dos Trabalhadores e o Partido Comunista do Brasil, forças integrantes do Grupo de Trabalho do Foro de São Paulo, levarão aos partidos irmãos da América Latina e do mundo em Havana a contundente denúncia da fraude que está sendo tramada no Brasil, o intento de realizar eleições de cartas marcadas, excluindo o maior líder popular e progressista do gigante do Cruzeiro do Sul. Não há dúvida de que calará fundo entre as forças de esquerda e progressistas que se reunirão em Havana a ideia de que as eleições sem Lula serão uma fraude.

Uma das principais sessões de trabalho da 24ª reunião do Foro de São Paulo será dedicada ao pensamento e à obra do comandante da Revolução cubana, Fidel Castro, a maior liderança das forças de esquerda e progressistas latino-americanas e caribenhas do século 20 e inícios do século 21. Sendo o espaço da unidade das forças progressistas e de esquerda da América Latina e Caribe e da luta por transformações políticas e sociais profundas, o Foro de São Paulo é a materialização do pensamento e da ação de Fidel.

Criado em julho de 1990, numa reunião em São Paulo, por inspiração e orientação de Fidel e Lula, então presidente do Partido dos Trabalhadores, o Foro de São Paulo é uma articulação das forças progressistas e de esquerda de toda a América Latina e do Caribe, que atrai e mobiliza as atenções de toda a esquerda mundial.

Quando o Foro de São Paulo foi fundado, o mundo vivia o auge da contrarrevolução que resultou na derrocada dos países socialistas, e quando estava a pleno vapor a ofensiva do imperialismo estadunidense e da reação mundial contra a democracia, os direitos populares e a soberania nacional.

Ao longo destes quase 30 anos, o Foro de São Paulo afiançou-se como a maior e mais duradoura articulação de forças de esquerda do mundo. Vincou seu caráter de força propulsora da luta anti-imperialista, dinamizou a luta contra o neoliberalismo, a democracia, os direitos dos povos, a soberania nacional, a integração regional, a paz mundial e o socialismo, nas condições peculiares da época e resguardadas as situações nacionais específicas.

A existência deste Foro há quase 30 anos reflete a luta pela unidade das esquerdas e forças progressistas, como condição indispensável para levar adiante estes combates no plano regional, em articulação com a esquerda no plano internacional.

A reunião de Havana decerto ratificará a condição do Foro de São Paulo como ferramenta da esquerda latino-americana na luta contra o neoliberalismo, de fiador da unidade, um espaço em que se encontram partidos políticos e movimentos sociais, num ambiente de diversidade política e ideológica, de intercâmbio e debate, de luta de ideias e formulação de plataformas capazes de desatar a energia criadora das massas populares nas lutas pela emancipação nacional e social dos trabalhadores, povos e nações da região.

Todas as vitórias políticas alcançadas na América Latina e Caribe nos últimos anos, desde 1998, quando pela primeira vez o comandante Hugo Chavez se elegeu presidente da Venezuela, inaugurando a Revolução Bolivariana, passando pela eleição do presidente Lula no Brasil em 2002 e as subsequentes vitórias das forças progressistas brasileiras, assim como a instauração de governos progressistas em mais de uma dezena de países latino-americanos e caribenhos, trazem a marca indelével das formulações programáticas e ação prática dos partidos membros do Foro de São Paulo.

No atual momento, a esquerda encontra-se diante de grandes desafios, tendo sempre presente o pressuposto da unidade. A humanidade está sob uma escalada de ameaças, do uso da força, golpes de novo tipo, militarização, corrida armamentista, proliferação de bases militares e intervenções.

Na região, está em curso uma onda contrarrevolucionária cujo escopo é a derrocada dos governos progressistas. A América Latina se encontra hoje submetida a uma intensa contraofensiva imperialista, que tem como objetivos mais específicos derrocar os governos da Venezuela, Nicarágua e Bolívia, além da tentativa de sufocar a Revolução cubana através do bloqueio. Tudo isto protagonizado pelo imperialismo estadunidense, que destrói países, saqueia os recursos naturais dos povos, ocupa territórios, fomenta o terrorismo de Estado e intenta sufocar as experiências democrático-populares em construção na América Latina.

Neste quadro, a 24ª reunião do Foro de São Paulo será um marco nos esforços para assegurar a unidade das forças progressistas e de esquerda e avançar na elaboração programática estratégica. Nesse sentido, ganha relevo o documento Consenso de Nossa América, que já passou pelo crivo de profundos debates em reuniões anteriores do Foro.

A região da América Latina e Caribe vive uma encruzilhada histórica. Ou avança no sentido de ampliar, intensificar e aprofundar os processos de luta por mudanças estruturais democráticas, ou retrocederá, sucumbindo às políticas neocolonialistas e opressivas do imperialismo e das classes dominantes. As forças de esquerda não podem nem devem enveredar pelo caminho da cedência, da conciliação, da falta de vigilância, nem se desarmar política e ideologicamente perante a ofensiva brutal do inimigo.

O momento requer resistência e luta e sobretudo, que se deem passos seguros no sentido de estabelecer a hegemonia das forças de esquerda nos terrenos eleitoral e nas lutas de massas, na direção de movimentos sindicais, juvenis, femininos e populares, para o que é indispensável uma acertada política de alianças, ampla, com as necessárias demarcações perante forças que se apresentam como centristas sendo na essência retrógradas e de direita.

É ainda indispensável o protagonismo da esquerda na luta de ideias, com a ocupação de espaços nos meios de comunicação, a criação de veículos próprios e atuação nas redes sociais, simultaneamente ao combate ao monopólio dos grupos privados.

A 24ª reunião do Foro de São Paulo rechaçará as campanhas desestabilizadoras contra a Venezuela, Nicarágua e o bloqueio a Cuba.

Neste quadro complexo, a reunião de Havana do Foro de São Paulo desempenhará um importante papel na criação de uma nova onda antineoliberal e anti-imperialista e na construção de estratégias de unidade.

(*) Jornalista, editor do Resistência

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