Opinião

Na busca constante da paz, os povos celebram o triunfo sobre o nazi-fascismo

08/05/2016

No dia 30 de abril de 1945, diante da evidência da retumbante derrota, o líder nazista Adolf Hitler cometia suicídio. A 2 de maio, um soldado soviético içava a bandeira vermelha com a foice e o martelo na cúpula do Reichstag, marcando a definitiva derrota do nazi-fascismo.

Por José Reinaldo Carvalho*

Na semana seguinte, a 9 de maio, selava-se o resultado da guerra, com a rendição da Alemanha à invicta União Soviética. São datas para a celebração eterna na trajetória da Humanidade na sua busca constante pela democracia, a paz, a civilização e a justiça.

A vitória sobre o nazi-fascismo foi uma conquista das forças da paz, da democracia, da solidariedade e do progresso social. Para esse triunfo, concorreu especialmente a ação dos comunistas, que se postaram à frente da luta contra o nazi-fascismo. A União Soviética, pátria do Socialismo, com a luta heroica do seu povo, foi o fator político e militar decisivo.

A Segunda Guerra Mundial, tal como a primeira, foi uma tragédia para a humanidade, que acarretou a morte de mais de 50 milhões de pessoas, 12 milhões das quais nos campos de concentração nazistas.

Os povos da União Soviética pagaram o mais terrível preço em vidas humanas e prejuízos materiais, com a morte de 27 milhões dos seus cidadãos, incluindo 7,5 milhões de soldados. O país passou por inusitada devastação: 1.710 cidades e 70 mil povoados foram completamente destruídos; milhares de fábricas, empresas e cooperativas agrícolas danificadas, seis milhões de casas demolidas.

As vitórias do Exército Vermelho nas históricas batalhas de Moscou (outubro de 1941 a janeiro de 1942), Stalingrado (agosto de 1942 a fevereiro de 1943), Kursk (entre a primavera e o verão de 1943) e Berlim, na primavera de 1945 permanecerão indelevelmente marcadas na memória da humanidade, como o tributo dos povos soviéticos para a causa da libertação.

A vitória sobre o nazifascismo foi fruto, além das heroicas ações nos campos de batalha, também da união dos povos e das forças democráticas no âmbito de cada país e da ação política e militar de uma ampla aliança internacional, de que fizeram parte a União Soviética, o Reino Unido e os Estados Unidos.

Os povos dos países ocupados pelo fascismo protagonizaram a luta guerrilheira e uma multifacetada resistência. No combate ao nazifascismo foram constituídas frentes democráticas e populares de libertação nacional, com a participação de amplas camadas da população, organizações sociais e partidos políticos.

O palco principal da resistência foi a Europa. No restante do mundo, os povos também se levantaram contra a ofensiva alemã, italiana e japonesa. Foi o caso dos movimentos de resistência na Ásia – China, Índia, Coreia, Malásia, Tailândia, Vietnã, Cingapura, Filipinas e Japão, onde havia movimentos de oposição à guerra. Entre os latino-americanos, foi intensa a luta antifascista, assim como a mobilização de forças para os países se incorporarem ao esforço de guerra dos Aliados. No Brasil, as forças democráticas fizeram movimentos pelo envio de tropas aos campos de batalha na Europa. Até hoje, os Pracinhas são com justiça cultuados pela memória nacional.

A vitória foi, assim, a expressão e o resultado da fraternidade internacionalista entre os povos, na busca pela liberdade, a democracia, a independência e a justiça.

Tragédias como a Segunda Guerra Mundial, tal como a primeira, não ocorrem por acaso. Resultam de profundas causas econômicas e políticas relacionadas com a natureza do sistema capitalista.

A Segunda Guerra Mundial eclodiu como um confronto entre as grandes potências capitalistas, tendo sido provocada pelos países mais agressivos – a Alemanha nazista, a Itália fascista e o Japão. A intenção dessas potências era promover uma nova divisão do mundo tal como se configurara após a Primeira Guerra (1914 – 1918).

Tendo sua origem nas contradições entre potências capitalistas, a Segunda Guerra Mundial foi gradualmente mudando de caráter. Os povos dos países ocupados, principalmente a partir da agressão nazista à União Soviética, ergueram-se na resistência popular-nacional antifascista, passando a realizar uma justa luta democrática e de libertação nacional. Os próprios Estados capitalistas, a partir do desencadeamento da guerra, viram-se confrontados com o perigo nacional, o que criou condições para a formação de um amplo e poderoso movimento patriótico e antifascista.

Mudanças geopolíticas

A vitória dos povos na Segunda Guerra Mundial provocou importantes modificações geopolíticas. O episódio marcou, de imediato, a derrocada dos planos imperialistas. Revoluções democráticas, populares e de libertação nacional foram vitoriosas. O caráter libertador da luta antifascista dos povos, o papel decisivo da União Soviética e das massas trabalhadoras e populares na vitória e a derrocada do fascismo deram impulso aos movimentos democráticos e socialistas em todo o mundo. Debilitou-se o sistema colonialista. Tudo isso acarretou uma nova correlação de forças favorável ao avanço das lutas pela paz e o progresso social. O campo democrático e anti-imperialista saiu fortalecido.

Neste quadro, os Estados Unidos, potência capitalista que tinha saído fortalecida da guerra e se tornara a principal líder do sistema capitalista, inicia uma contraofensiva para assegurar posições hegemônicas e ordenar o sistema internacional segundo seus próprios interesses. O lançamento das bombas atômicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki pela aviação estadunidense foi o ato inaugural da nova ordem que os Estados Unidos pretendiam impor.

Desde o final da Segunda Guerra Mundial até os nossos dias, os Estados Unidos seguiram uma política e praticaram ações contrárias aos interesses dos povos, da democracia, da independência nacional e da paz mundial. Foi essa superpotência que desencadeou as agressões contra a Coreia, o Vietnã e demais países da Indochina, no Oriente Médio, na África, e fomentou golpes militares na América Latina. E mais tarde destruiu a Iugoslávia, fez duas guerras contra o Iraque, invadiu o Afeganistão, liquidou a Líbia e é corresponsável pelo martírio do povo palestino infligido pelos sionistas israelenses

Em todo este período desde o fim do conflito, o imperialismo estadunidense fomentou a corrida armamentista, intensificou a produção de armas nucleares, espalhou bases militares em todos os continentes, criou e agigantou a Otan, promoveu intervenções de diferentes tipos, numa constante ameaça à paz mundial e à segurança internacional.

A poderosa águia norte-americana cravou as suas garras em todos os continentes, saqueou as riquezas nacionais dos povos, impôs seu modelo econômico e políticas escravizadoras e neocolonialistas. Organizou sua política externa com o objetivo de desestabilizar os países socialistas e anti-imperialistas, concentrou suas energias no cerco e destruição da União Soviética durante o período da chamada Guerra Fria.

Novos perigos

Ao rememorar o histórico triunfo dos povos sobre o nazi-fascismo, é imperioso refletir também sobre a realidade atual. O mundo enfrenta novos perigos, as intervenções militares se repetem, a paz é ameaçada, e o fascismo volta a se apresentar com novas e velhas roupagens. É necessário extrair as lições da história e reunir elementos de convicção para impedir que ocorram novas tragédias.

O mundo de hoje é cenário de uma situação instável e crítica. No Oriente Médio, na Ásia, na África, na Europa e América Latina os fatos são eloquentes ao chamar a atenção dos povos e das forças democráticas para as graves ameaças à paz.

As grandes conquistas democráticas do período do imediato pós-guerra, a independência nacional, os valores civilizacionais sofreram brutal retrocesso a partir da década de 90 do século passado, quando o traço principal da situação passou a ser a brutal ofensiva do imperialismo estadunidense e seus aliados para assegurar posições de domínio no mundo.

Para além das políticas de intervenção e guerra, fazem parte dessa ofensiva o ataque aos direitos dos trabalhadores e povos como “saída” da crise do capitalismo, os golpes na democracia, o racismo, a xenofobia, a falsificação da história.

Está em jogo uma nova divisão do mundo, o saque das riquezas nacionais, a ocupação de territórios, a implantação de uma ordem imperial que além de ter globalizado a economia e padronizado os comportamentos, pretende uniformizar os regimes políticos, a vida cultural, a ideologia burguesa como pensamento único. Esta é a síntese da luta que fazem os Estados Unidos para impor a hegemonia absoluta no mundo.

A política hegemônica dos Estados Unidos devasta nações antes prósperas, derruba governos legítimos, assassina presidentes eleitos, substitui o diálogo pela força implantando o terror, sob o pretexto de combater o terrorismo, com a finalidade de garantir seus desígnios de domínio e saque. Esta política é a principal ameaça à paz e o principal fator da instabilidade, dos desequilíbrios e das crises políticas, diplomáticas e militares no mundo atual.

Dentre as importantes modificações, assinalamos o surgimento de uma nova situação que questiona a velha distribuição do poder no mundo. Abre-se um período de transição cujos contornos não estão definidos, manifestando-se como fenômeno saliente o relativo declínio do imperialismo estadunidense. Não obstante, os EUA ainda detêm a maior força econômica e militar, assim como a maior influência política.

Novos polos, crise e lutas sociais

A par da ofensiva imperialista, desenvolve-se a tendência ao surgimento de novos polos de poder político, econômico e militar, cuja expressão maior é a ascensão vertiginosa da China, o fortalecimento do poder nacional da Rússia, depois de um momento de desagregação e de crise econômico-financeira, e a emergência de potências de dimensões médias como a Índia, o Brasil e a África do Sul – o que deu origem à formação do Brics, fator ponderável no desenvolvimento da situação econômica e política do mundo.

Estes processos se desenvolvem em meio ao agravamento dos conflitos sociais, das contradições entre os países da África, Ásia e América Latina e o imperialismo. Estão em curso lutas de variados tipos e intensidades, nos mais diversificados cenários, revelando as potencialidades dos povos e das forças da paz, que se insurgem contra a opressão e a guerra.

*Jornalista, editor do Resistência [www.resistencia.cc], é secretário de Política e Relações Internacionais do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).

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