EUA

Repetindo Ferguson: Milwaukee decreta toque de recolher para reprimir rebelião popular

17/08/2016

Repetindo o que aconteceu em Ferguson em 2014, a cidade estadunidense de Milwaukee continua nesta quarta-feira (17) sob toque de recolher, em resposta às manifestações que acontecem desde sábado passado, após um policial ter matado a tiros o jovem negro Silville Smith, de 23 anos. O toque de recolher foi decretado nesta terça-feira (16) à noite, depois de três dias de protestos cada vez mais contundentes.

Por Wevergton Brito Lima

APTOPIX-Officer-Involved-Shooting-MilwaukeeNo domingo (14) uma multidão apedrejou vários veículos policiais e incendiou comércios em Milwaukee, o que obrigou a polícia a implantar uma operação antimotim no bairro de Sherman Park. Neste mesmo dia um manifestante foi baleado e segundo notícias da mídia local teria morrido em consequência, mas as autoridades informaram apenas sobre “policiais feridos” e disseram que efetuaram “múltiplas detenções”, sem dar mais detalhes.

De acordo com a a polícia, o jovem Silville Smith, cuja morte foi o estopim dos protestos, “estava armado e apontou a arma” para o agente que lhe perseguia, tendo sido baleado no peito e em um braço.

O Journal Sentinel destaca nesta terça-feira que tropas da Guarda Nacional foram enviadas “por precaução”, e seis pessoas foram presas ao anoitecer por violar o toque de recolher, decretado para menores de 18 anos a partir de 22 horas (hora local) na segunda-feira.

Também se decidiu fechar temporariamente a delegacia de polícia, depois de disparos nas proximidades.

Recordando Ferguson

Em agosto de 2014 a cidade de Ferguson, no Missouri, também iniciou uma rebelião que durou mais de quatro meses e se espalhou pela região. Na época, o governador do Missouri, Jay Nixon, igualmente decretou, no dia 18 de agosto daquele ano, estado de emergência e toque de recolher entre meia-noite e 5 horas. Não adiantou e dois dias depois foi acionada a guarda nacional, braço do exército americano nos Estados. Mesmo assim a rebelião continuou. No dia 24 de novembro, ao sair um veredito que inocentava um policial pela morte de um jovem negro, as agências de notícias relatavam a situação na cidade:

Mulher é atacada por policiais em Ferguson, no Missouri (EUA)

Mulher é atacada por policiais em Ferguson, no Missouri (EUA) em 2014

“Tiros e explosões foram ouvidos na cidade do estado de Missouri. Carros incendiados e saques também foram registrados. Manifestantes queimaram edifícios, saquearam lojas e atiraram contra a polícia. Tropas de choque, FBI, Swat e a Guarda Nacional foram para as ruas de Ferguson. Tumultos foram controlados com gás lacrimogêneo. Segundo o sargento Brian Schellman, da polícia de St. Louis, 61 pessoas foram detidas. Os confrontos representaram a pior noite de distúrbios na cidade desde agosto. Entre os presos estão pessoas com idades entre 17 e 66 anos. A polícia ainda não tem um balanço de estragos e prejuízos. (…) Pelo menos 12 imóveis foram incendiados pelos manifestantes dentro da cidade e nas proximidades – a maioria foi totalmente danificada. Veículos incendiados, janelas e veículos destruídos, saques e sons de tiros tomaram a Avenida West Florissant de Ferguson e seus arredores, após o anúncio da decisão judicial.”

Segundo a mídia, apenas “conflito racial”

size_810_16_9_proteA mídia hegemônica brasileira relata acontecimentos como os de Ferguson ou de Milwaukee  sem dar grande destaque e com interpretações periféricas que acabam quase sempre reduzindo tudo à “tensão racial” e à “violência policial”, que são questões reais mas que representam apenas um aspecto de um problema muito mais abrangente, em uma sociedade que dia a dia se torna mais autoritária e excludente.

Segundo dados do Centro Internacional de Estudos Prisionais, do King’s College de Londres, os EUA têm a maior população carcerária do mundo em termos absolutos e relativos, apesar de ter menos do que quatro vezes a população da China. São quase 2 milhões e 300 mil americanos e americanas presos, a esmagadora maioria pobres e negros. 1 em cada 142 cidadãos americanos está preso (no Brasil a proporção é de 1 para 283 e na China 1 para 796).

O próprio escritório responsável pelo senso americano revelou que em 2011 um em cada seis americanos vivia na pobreza, o que significava 46,2 milhões de pessoas. Segundo o escritório esta era a maior taxa de pobreza já registrada desde que os dados começaram a ser coletados em 1959.

Contando com uma poderosa máquina repressora e a cumplicidade do complexo midiático que esconde ao máximo a realidade dos EUA, as rebeliões populares naquele país são relegadas a cantos de páginas e aos noticiários noturnos sem maiores alardes. Mas continuam acontecendo e de forma frequente. Vai chegar uma hora em que será impossível esconder e, talvez, controlar.

Com informações do Portal Vermelho 

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