Mais confronto, menos diplomacia
Os recentes acontecimentos no Oriente Médio mostram quem aposta na paz e quem fomenta as confrontações e guerras na região.
Por José Reinaldo Carvalho
O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmud Abas, manteve na última terça-feira (1º/4) em Ramallah, um encontro com o representante especial da Rússia, Serguei Verchinin, com quem discutiu sobre o processo de negociações de paz com Israel.
O líder palestino informou sobre os resultados dos entendimentos mantidos com o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, e destacou a importância da Rússia nos diálogos palestino-israelenses. O representante russo voltou a afirmar o apoio à causa palestina de criar seu Estado independente.
Como se sabe, as negociações estão paralisadas desde que o regime de Tel Aviv descumpriu parte do acordo ao não libertar, como havia prometido, uma parte de prisioneiros palestinos.
Outro entrave ao desenvolvimento dos diálogos é a insistente política dos sionistas de construir colônias em terras palestinas, uma clara manifestação do seu expansionismo. Agora mesmo, Israel anunciou que construirá 700 habitações para colonos israelenses em Jerusalém.
O roteiro israelense para a questão palestina não leva à paz. Os objetivos dos sionistas são os de sempre: prolongar indefinidamente a ocupação de territórios palestinos e impedir a criação do Estado independente desse povo martirizado.
A questão palestina se imbrica com os interesses geopolíticos de Israel e especificamente com a questão iraniana. Israel não se conforma com os recentes êxitos diplomáticos do governo persa e os avanços que vem conquistando na afirmação do seu direito a desenvolver o programa nuclear com fins civis e pacíficos e anular as sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos, que tantos danos causam à população.
Entre as manobras israelenses para abalar a imagem do Irã e complicar ainda mais o cenário do conflito palestino-israelense está o anúncio feito recentemente da interceptação de uma embarcação no Mar Vermelho carregado com mísseis e armamentos iranianos com destino à Faixa de Gaza, território palestino bloqueado pelos sionistas. A Casa Branca secundou as acusações israelenses e chegou a declarar que a operação foi realizada em conjunto entre os EUA e Israel.
Observe-se que ao mesmo tempo em que difundia a notícia, os sionistas israelenses excediam-se em declarações belicosas contra o Irã durante a reunião do Comitê de Assuntos Públicos Estados Unidos-Israel, o famigerado AIPAC nos Estados Unidos, um dos mais endinheirados e influentes lobbies atuantes no país, pela força que tem na banca, na mídia, entre congressistas e no próprio governo estadunidense. O AIPAC tem enorme influência no sistema político dos Estados Unidos e ramificações em todo o mundo, inclusive no Brasil, onde as organizações congêneres fazem patrulhamento, pressões e provocações contra partidos políticos e movimentos sociais. Reiteradas vezes, o PCdoB e o PT foram vítimas de ações desse tipo, quando manifestaram solidariedade à causa palestina e à Síria.
Voltemos ao contexto geopolítico do uso que fazem os sionistas da questão palestina para atingir o Irã e vice-versa. Durante a reunião do AIPAC, ameaçaram desmantelar as instalações nucleares iranianas, depois de bater na surrada tecla de que o poderio militar dos persas e seu acesso à energia nuclear constituem uma “ameaça para o mundo”.
Israel faz de conta que aponta para a embarcação interceptada no Mar Vermelho, para atingir outro alvo. Neste momento, está na sua alça de mira o eventual acordo a ser celebrado proximamente em Viena, entre o Irã e o G 5+1, formado por Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia, China mais a Alemanha. O Estado sionista e as entidades que lhe dão sustentação mundo afora não aceitam que o Irã obtenha a legitimação do seu programa nuclear e a anulação das sanções econômicas de que é vítima, objetivos, aliás, dificílimos.
O alcance da manobra israelense fica evidente com o discurso furioso do primeiro-ministro sionista, Benjamin Netanyahu: “Num momento em que está aproximando-se das grandes potências, o Irã sorri e diz todo tipo de coisas amáveis, este mesmo Irã que está enviando armas mortais a organizações terroristas, através de uma rede de operações secretas para enviar foguetes e mísseis”.
A atitude belicosa das autoridades israelenses e a indefectível cumplicidade do imperialismo estadunidense demonstram quanto é difícil se chegar tanto a um acordo em Viena sobre a questão iraniana, quanto entre palestinos e israelenses. Nas duas questões estamos diante de interesses estratégicos do imperialismo estadunidense e do seu principal instrumento na região do Oriente Médio. Ambos apostam mais na guerra do que na diplomacia.