Opinião

Lutar pela Paz

30/12/2017

Por Pedro Guerreiro (*), no Avante!

A apresentação na Assembleia Geral das Nações Unidas de uma resolução que se demarca, mesmo que sem explicitação direta, da decisão dos EUA de reconhecerem Jerusalém como capital de Israel, assim como o resultado da sua votação – 128 votos a favor; 9 contra; 35 abstenções; sendo que 21 países não participaram na votação – assumem, pelas circunstâncias em que tiveram lugar e no atual momento internacional, um importante significado político.

Tão mais significativo é este resultado, quando esta resolução foi apresentada na sequência de um veto norte-americano a uma resolução com conteúdo similar no Conselho de Segurança da ONU, e quando a sua votação na Assembleia Geral foi acompanhada por ameaças e chantagens dos EUA sobre diversos países – todo um comportamento que coloca a nu a forma instrumental como os EUA encaram as Nações Unidas, assim como as suas reais intenções quanto à “reforma” desta.

Poder-se-á, e bem, afirmar que não é a primeira vez que os EUA apoiam “isoladamente” a política sionista de Israel na ONU (como agora e de novo aconteceu na votação no Conselho de Segurança). No entanto, o que neste momento importa sublinhar é que o motivo direto da recente votação na ONU não é um novo ato ilegal ou crime perpetrado por Israel, mas o explícito apoio dos EUA ao colonialismo sionista que ocupa ilegalmente territórios da Palestina e oprime brutalmente o povo palestino.

Aliás, foram os próprios EUA que, pela sua arrogante e ameaçadora atitude, transformaram a resolução e a sua votação num autêntico libelo perante o seu descarado suporte à política de ocupação israelita, ampliando ainda mais o significado político daquela.

Sem dúvida que as votações no Conselho de Segurança e na Assembleia Geral das Nações Unidas contêm elementos contraditórios. Para além dos países que apoiam genuína e solidariamente a justa causa do povo palestino e o cumprimento do direito internacional, outros houve que – percebendo o custo político e o aventureirismo do acompanhamento da perigosa provocação norte-americana – procuraram salvar a sua face, escamoteando com o seu voto anos de complacência, cumplicidade e conivência com a violenta ocupação israelita. Mas, não deixando de ter presente esta realidade, estas duas votações na ONU representam um revés político para os EUA.

Um revés que demonstra o quanto o imperialismo norte-americano está apostado na criação e manutenção de um permanente estado de tensão e guerra latente – incrementando uma imensa corrida aos armamentos e a militarização das relações internacionais, promovendo a ingerência, a ameaça, a provocação e a agressão contínuas, e arrastando na sua estratégia os seus “aliados”, incluindo a Otan ou o Japão –, de modo a tentar contrariar o seu declínio econômico relativo e impedir a emergência de novos países na cena internacional.

Uma estratégia belicista – reafirmada na recentemente divulgada “Estratégia de Segurança Nacional” norte-americana – que coloca a exigência da mais ampla convergência na defesa da paz, do desarmamento universal, simultâneo e controlado, nomeadamente do desarmamento nuclear, do direito à autodeterminação dos povos e da soberania e independência dos Estados, na solidariedade com os povos vítimas da ingerência e agressão do imperialismo.

(*) Membro do Secretariado do Comitê Central do PCP, responsável pelas Relações Internacionais

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