Opinião
Lula é o nome da unidade
Por José Reinaldo Carvalho (*)
Não mais que de repente, parece que descobriram a pólvora, e em todos os espaços do espectro político a unidade passa a ser a ‘bandeira da esperança’.
Este foi um mote lançado há 30 anos por João Amazonas e logo abraçado por Miguel Arraes, que os levou à união com Lula e à fundação da Frente Brasil Popular, motor da memorável campanha de 1989, uma daquelas batalhas que na História se perde ganhando. Mais tarde, incorporou-se Leonel Brizola.
As quatro vitórias alcançadas pela ampla coalizão de forças em torno de Lula e depois de Dilma comprovaram a validade da tese e o valor da unidade.
Hoje, com o maior líder popular da história do país encarcerado e o governo golpista do usurpador do Planalto em agonia, o quadro político apresenta-se fragmentado. Sem governo forte, as forças golpistas estão divididas no curso de uma luta fratricida entre diferentes bandos das classes dominantes.
Privadas da presença de seu maior líder em reuniões e comícios, as forças de esquerda fragmentam-se entre projetos que, ressalvadas as declarações retóricas, objetivamente aprofundam as divisões.
Sob a condução de Fernando Henrique Cardoso, que conduziu um dos mais entreguistas e facciosos governos da vida republicana, partidos da direita conservadora e neoliberal travestidos de centro fizeram um apelo à unidade. Com medo pânico da polarização política e social que provocaram ao impor medidas antinacionais e antipopulares, franjas de partidos acolitados por FHC lançaram nesta terça-feira (5) um manifesto pela união do chamado centro político na eleição presidencial deste ano.
O documento se diz contrário à ‘intolerância’, ‘radicalismo’ e ‘instabilidade’. Propõe a construção de um ‘novo ambiente político’ que privilegie ‘o diálogo’. Ora, entre 2003 e 2016, Lula e Dilma procuraram, às vezes contrariando suas bases, construir um moderado governo de conciliação nacional, baseado no diálogo e na negociação com forças as mais díspares e até mesmo adversárias do Partido dos Trabalhadores. Foi o golpe, protagonizado pelo PSDB, PMDB, DEM, PPS e PSB que polarizou o país e rompeu a harmonia que se pretendia implantar. Hoje, é impossível buscar o consenso da nação com as forças golpistas, autodenominadas ‘democráticas’ e ‘reformistas’.
Em outra frequência do espectro político, ninguém menos que Carlos Marun, o homem de Eduardo Cunha no Palácio do Planalto, também faz apelos patéticos ao diálogo e à unidade de todas as candidaturas do campo golpista em torno de uma só.
Na esquerda, em tempos de pré-campanha, há legítimas pré-candidaturas afirmando marcantes personalidades políticas, predicando mensagens de esperança, elaborando justas teses, propondo adequadas soluções aos graves problemas nacionais, arregimentando forças, contribuindo como podem e fazendo o que consideram ser seu dever em prol da unidade das forças democráticas e progressistas. Como o momento é de transição, é válida até mesmo a preparação para futuras batalhas de diferentes envergaduras. O mérito de todas, mormente as mais lúcidas e consequentes, é buscar incansavelmente a unidade das forças democráticas e progressistas.
Contudo, o que não é justo é o açodamento e a pressão para que todos resignem em nome de um suposto segundo colocado, alçado extemporaneamente como o representante de uma coalizão entre o centro e a esquerda, fadada a ser a força progressista no segundo turno.
Nas circunstâncias atuais, a unidade tem nome e sobrenome ainda nitidamente definidos – Lula da Silva. Enquanto perdure a sua defesa política através de inquebrantável luta por seu direito a candidatar-se, e o povo brasileiro não recuperar o direito a participar das eleições com plena liberdade de escolha, qualquer manobra de sentido político- (pré) eleitoral para tirar o nome de Lula da liça é grave erro estratégico. E uma injustiça com quem sempre foi solidário com todas as forças de esquerda.
(*) Jornalista, editor do Resistência