Lênin
Lênin é uma inesgotável fonte de inspiração e ensinamentos para os comunistas
Uma singela homenagem do dirigente comunista José Reinaldo Carvalho nos 100 anos da morte de Lênin
Por José Reinaldo Carvalho (*) – No dia 21 de janeiro de 1924, faleceu Vladimir Lênin. Figura maior do movimento revolucionário mundial do proletariado nos finais do século 19 e nas duas primeiras décadas do século 20, deixou um imenso legado teórico e pedagógico da prática revolucionária, objeto de reflexões e debates ao longo de todo o século 20 e nos dias atuais. Como figura central na elaboração do pensamento revolucionário depois de Marx e Engels, líder da Revolução Russa de 1917, iniciador das transformações da Rússia czarista em um Estado socialista, Lênin é o formulador de um pensamento rico e inovador. Seu nome e sua obra são perenes e permanecerão como indispensável guia para os partidos comunistas na atualidade e doravante.
A morte de Lênin em 21 de janeiro de 1924 representou uma grande perda para o proletariado mundial e toda a humanidade progressista. A herança teórica e política de Lênin mantém todo o valor e reveste-se de importância vital para os destinos da revolução, a luta pela emancipação do proletariado e dos povos oprimidos.
Lênin foi um pensador genial, continuador da obra de Marx e Engels, fundador do Partido Bolchevique, arquiteto da Grande Revolução Socialista de Outubro, criador e dirigente do primeiro Estado socialista dos operários e camponeses, grande mestre e dirigente do proletariado e dos trabalhadores de todo o mundo.
Sua herança teórica, como a de Marx e Engels, é o maior tesouro da atual geração de comunistas e de todo o movimento comunista mundial, que se apropriam dele não por apego a dogmas, mas como arma para realizar as tarefas revolucionárias da atualidade. Sem o pensamento de Lênin, a ação dos partidos comunistas é inócua, porquanto perde-se no imediatismo e na visão limitada e inevitavelmente resvala para o liquidacionismo.
A justa apropriação do legado de Lênin significa desenvolver como traço forte e notável dos militantes e dirigentes comunistas a capacidade de orientar-se nas novas condições da época, formulando a estratégia e a tática da luta revolucionária a partir dos princípios formulados por Lênin. O desenvolvimento criativo e inovador da teoria científica do marxismo-leninismo e seu entrelaçamento com a nova prática revolucionária partem da necessidade de conduzir a luta pela emancipação nacional e social das massas trabalhadoras e dos povos, mantendo sempre o objetivo de conquistar e construir o socialismo, que como dizia João Amazonas, é a “aspiração da classe operária e dos povos”. A atualização dos princípios marxistas-leninistas nas condições peculiares de cada país e da nova época afasta-se liminarmente do oportunismo, seja de direita ou de “esquerda”, dos modismos e do liquidacionismo.
Destarte, o esforço para credenciar-se como força política revolucionária contemporânea é indissociável da luta contra a ideologia burguesa, o revisionismo, o dogmatismo, o oportunismo e o liquidacionismo.
Lênin desenvolveu ulteriormente a teoria marxista e a elevou a uma nova e superior etapa, por isso é justo continuar a afirmar que o leninismo é o marxismo da época do imperialismo e da revolução proletária, uma teoria coerente e inteiramente científica, uma bússola a orientar o proletariado e os povos oprimidos em luta por emancipação, uma teoria que os guia na luta cotidiana visando ao futuro socialista e comunista.
Partido Comunista, instrumento da luta pelo socialismo
O empenho da atual geração de comunistas para aplicar e desenvolver os princípios fundamentais do marxismo-leninismo nas condições concretas de cada país e da época, afasta-se do dogmatismo, toma em consideração os conhecimentos acumulados nos cem anos desde o desaparecimento de Lênin, as vertiginosas mudanças econômicas e geopolíticas no mundo e no país e apropria-se também do legado de outros teóricos e dirigentes da revolução e do socialismo.
Em discurso pronunciado no 2º Congresso dos Sovietes da União Soviética em 26 de janeiro de 1924, cinco dias após o falecimento de Lênin, Stálin pronunciou em nome dos comunistas e dos povos da emergente potência socialista, um juramento em que, sobre o Partido Comunista afirmava: “Ao deixar-nos, o camarada Lênin legou-nos o dever de manter bem alto e conservar em toda a sua pureza o grande título de membro do Partido. Nós te juramos, camarada Lênin, que cumpriremos com honra este teu mandato!” “Durante vinte e cinco anos, o camarada Lênin educou o nosso Partido e preparou-o para ser o mais sólido e mais bem temperado Partido operário do mundo. Os golpes do czarismo e de seus sicários, a fúria da burguesia e dos latifundiários, os assaltos armados de Koltchak e Deníkin, a intervenção armada da Inglaterra e da França, as mentiras e as calúnias de inúmeros órgãos da imprensa burguesa com suas cem bocas — todos esses escorpiões lançaram-se incessantemente contra nosso Partido, durante um quarto de século. Mas nosso Partido manteve-se firme como uma rocha, rechaçando os golpes incontáveis de seus inimigos e conduzindo a classe operária para a frente, para a vitória. Através de duros combates, nosso Partido forjou a unidade e a solidez de suas fileiras. E graças a essa unidade e a essa solidez conseguiu vencer os inimigos da classe operária.”
No transcurso dos 100 anos desde o falecimento de Lênin, continua instigante o debate sobre o lugar histórico e político do partido comunista. Em um ambiente de dispersão ideológica, orgânica e fragmentação das lutas, fenômenos objetivos de nossa época, debilitou-se o empenho dos quadros de partidos de esquerda para afirmar identidades políticas e ideológicas, como se definições deste tipo fossem uma maldição que sobrevive do passado. Há um temor de que assumir a identidade comunista com nitidez ideológica, programática e até no uso de símbolos, vinculando-se também aos formuladores do pensamento original, tais como Marx, Engels e Lênin, afastaria o Partido Comunista do eleitorado, tornando-se assim uma espécie de perversão de militantes e dirigentes supostamente sectários, cujo desejo seria afastar o partido das tarefas imediatas, impedir conquistas eleitorais, encapsular e entrincheirar os comunistas em pequenas “seitas” isoladas das massas.
Lênin demonstrou que o esforço pela construção de um partido com marcada identidade de classe, explícita missão histórica revolucionária e ideologia comunista vai muito além do imediatismo, do taticismo, do eleitoralismo e dos interesses personalistas e de grupos estreitos. Em obras seminais do início de sua atividade, como “Quem são os ‘amigos do povo’ e como como estes lutam contra os social-democratas?” (1894) e “O desenvolvimento do capitalismo na Rússia” (1890), Lênin desmascarou o “narodnismo” (populismo) e os pontos de vista dos “marxistas legais”, apresentou o caminho da luta à classe operária, definiu o seu papel como força revolucionária de vanguarda da sociedade e o papel do campesinato como aliado da classe operária, lançou a ideia da aliança revolucionária do proletariado e do campesinato como condição indispensável para a vitória da revolução e a construção do socialismo. Na luta contra os mencheviques e oportunistas de distintas correntes, em sua obra clássica sobre o Partido “Que fazer?” (1901-1902), “Um passo à frente, dois atrás” (1904), “Duas táticas da social-democracia na revolução democrática” (1905), Lênin lançou as bases ideológicas, organizativas e políticas do partido comunista.
O lugar político de um partido comunista não é circunstancial. Começa por uma escolha – a da posição de classe, da opção ideológica e da filiação teórica.
A luta contra o oportunismo
Nas obras de Lênin um lugar importante é dedicado aos intricados problemas da teoria e da prática revolucionária, como as classes e a luta de classes, o poder político (a ditadura do proletariado), o papel das massas como criadoras da história, a guerra como fenômeno histórico, a nação e a questão nacional, entre outras, tratando esses temas desde uma posição e concepção de mundo científica, marxista e dos interesses de classe do proletariado.
À frente dos bolcheviques e do proletariado revolucionário russo, Lênin dirigiu a luta contra o oportunismo de direita, o revisionismo da Segunda Internacional, que tinha traído a causa da revolução e do socialismo, apontou o caminho à classe operária para criar o partido de novo tipo, marxista-leninista, criou as condições necessárias para a fundação da Terceira Internacional.
Lênin criticou as correntes que ele rotulou como “oportunistas” e “revisionistas” por se desviarem do caminho revolucionário preconizado por Marx e Engels. Ele via o oportunismo como uma adaptação às circunstâncias imediatas, abandonando princípios fundamentais em favor de ganhos táticos de curto prazo. Lênin argumentava que os oportunistas estavam dispostos a sacrificar as metas revolucionárias em troca de concessões e colaboração com a burguesia. Lênin denunciou a tendência revisionista por distorcer a teoria para torná-la mais palatável para as elites burguesas e para a classe média, sacrificando a natureza radical da luta de classes.
Lênin foi também um crítico severo do oportunismo de “esquerda”. Em sua obra “Esquerdismo, doença infantil do comunismo”, publicada em 1920, apresentou uma análise crítica das correntes dos “falsos esquerdistas”. Essa obra reflete sua preocupação com as tendências que ameaçavam a coesão do movimento comunista em um período crucial para a consolidação do poder soviético. Ele via os falsos esquerdistas como indivíduos ou grupos que, embora proclamassem compromisso com ideais revolucionários, muitas vezes se envolviam em atividades que, na prática, enfraqueciam o movimento. As críticas de Lênin aos falsos esquerdistas centravam-se em sua falta de compreensão realista das condições políticas e sociais. Ele alertava contra a tendência desses grupos de adotar posições extremistas, recusando-se a envolver-se em compromissos táticos necessários para fazer avançar a causa revolucionária. Para Lênin, o esquerdismo infantil representava uma forma de idealismo desvinculado das condições concretas. Ele defendia a necessidade de uma abordagem realista para a luta revolucionária, enfatizando a importância de entender as nuances das condições políticas e sociais específicas de cada momento, formulando táticas adequadas às peculiaridades de cada momento, mormente a correlação de forças.
A teoria do imperialismo
Corresponde a Lênin o mérito histórico da elaboração da teoria do imperialismo. Nas obras “Sobre a palavra de ordem dos Estados Unidos da Europa (1915), “O imperialismo e a divisão do socialismo” (1916) e especialmente em sua obra prima “O imperialismo, etapa superior do capitalismo” (1916), Lênin analisou de maneira profunda e multilateral o imperialismo como a fase superior e final do capitalismo, como véspera da revolução socialista. Lênin lançou as bases da teoria da crise geral do capitalismo. O estudo da etapa do imperialismo e de suas características econômicas levou Lênin à conclusão de que nas novas condições históricas a revolução socialista não poderia triunfar em todos os países simultaneamente, mas em alguns países, e mesmo em um só país, onde estivesse o elo mais débil da frente imperialista mundial. A teoria leninista sobre a revolução socialista se tornou a teoria guia para a organização e a vitória da grande Revolução Socialista de Outubro de 1917.
Esta importante tese de princípios se baseia na análise do imperialismo, na definição dada por Lênin à essência do novo período histórico, e se inspira na missão histórica do proletariado de libertar-se a si e a toda a humanidade da exploração do homem pelo homem, do sistema capitalista. Ela parte de uma análise marxista-leninista concreta das grandes contradições da época. Analisando os fenômenos que caracterizam o imperialismo, ele escreve: “[…] Todos esses fatores transformam a etapa atual do desenvolvimento capitalista na era da revolução proletária socialista. Esta era começou. As condições objetivas tornam urgente a tarefa atual de preparar o proletariado de todas as formas para a conquista do poder político, de modo a realizar as medidas políticas e econômicas que são a essência da revolução socialista.”
Ao definir o conteúdo fundamental do novo período histórico como o período do imperialismo e das revoluções proletárias, Lênin deu continuidade ao pensamento de Marx sobre a missão histórica do proletariado como a nova força social que realizará a derrubada revolucionária da sociedade capitalista da opressão e exploração e construirá a nova sociedade.
Lênin e a gênese da construção do socialismo
Lênin elaborou cientificamente alguns problemas fundamentais do socialismo. Nas obras “As tarefas imediatas do poder soviético”, “Sobre a cooperação”, “Sobre a taxação em espécie”, Lênin argumentou que era indispensável aplicar as leis gerais da construção do socialismo nas condições peculiares do país. Outrossim, mostrou a necessidade objetiva do desenvolvimento planificado e proporcional da economia socialista, a necessidade do aumento do rendimento do trabalho e elaborou o princípio do centralismo democrático na direção do Estado e da economia.
Lenin desenvolveu a teoria marxista sobre o Estado, argumentando que este era uma ferramenta de opressão da classe dominante. Sua obra “O Estado e a Revolução” (1917) propõe a destruição do Estado burguês e a abolição do Estado como objetivo final do socialismo, diferindo das visões reformistas.
À frente do primeiro Estado socialista, Lênin dirigiu a luta pela construção do socialismo, a luta pela libertação do proletariado e dos povos oprimidos com base no internacionalismo proletário, a luta pela paz contra os objetivos e o imperialismo e da reação.
No transcurso do centésimo aniversário da morte de Lênin, o marxismo-leninismo permanece e desenvolve-se como uma teoria jovem e científica. A obra de Lênin é uma inesgotável fonte de inspiração para os comunistas.
(*) José Reinaldo Carvalho é membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB)