Resistência

A celebração do II centenário do nascimento de Karl Marx teve o seu momento de início, em Portugal, com uma conferência de 2 dias (24 e 25 fev.), com a participação de dezenas de quadros do Partido Comunista Português (PCP), entre eles muitos dos seus mais destacados dirigentes.

Por Alexandre Weffort

O evento, contando com a participação de homens e mulheres de diversas gerações, daqueles que participaram da luta clandestina contra a ditadura até ao período democrático inaugurado pela Revolução dos Cravos em 1974, àqueles que integraram o coletivo partidário no período revolucionário e os que a ele se agregaram no período subsequente (já de refluxo do processo revolucionário, onde as principais conquistas, como a nacionalização do sistema bancário e das principais indústrias, assim como a Reforma Agrária foram sendo paulatinamente desmontadas) bem como aqueles que, sendo mais jovens, a ele aderem, na decorrência natural do seu envolvimento na vida social e nas lutas cotidianas.

Tendo o coletivo partidário como protagonista principal do evento, nas suas quatro sessões, dedicadas cada uma a um tema específico:

“Economia” – Gênese, natureza e contradições do capitalismo • Formas e expressões atuais da crise estrutural do capitalismo • A chamada “globalização” e a financeirização da economia • Formas encontradas pelo capital para contrariar a baixa tendencial da taxa de lucro ou as limitações das “respostas” à crise no quadro do sistema capitalista, sejam neoliberais ou keynesianas;

Organização social – Transformações na estrutura e composição das classes sociais • Luta reivindicativa, consciência de classe e alianças sociais • Novas formas de exploração • Estratégias do capital de ataque ao movimento sindical de classe e revolucionário • Modo de produção capitalista e a predação da natureza • A mulher e o trabalho no capitalismo;

Filosofia e cultura – Materialismo dialético, a utopia e a transformação prática da realidade, os aparelhos de dominação ideológica e o desenvolvimento do pensamento marxista;

Política – Natureza, projeto e estrutura organizativa do partido da classe operária e de todos os trabalhadores nas diferentes etapas do processo revolucionário • Papel histórico da classe operária e a questão do poder político • O quadro nacional e internacional da luta de classes • Independência e soberania • Guerra de supremacia capitalista e luta pela paz • Liberdade, democracia e socialismo como objetivos de luta da classe operária, dos trabalhadores e dos povos • Natureza de classe do “Direito” (do site da Conferência, adiante indicado).

Sobressaem-se, naturalmente, intervenções que sintetizam em relação a cada tema, a reflexão previamente realizada em coletivo, matizadas no entanto pelo traço individual dado ao nível da redação e da leitura (e, mesmo ao nível das intervenções mais avulsas, foram propiciadoras de reflexões aprofundadas, como a breve nota deixada pelo cientista astrofísico A. Costa, acerca da dialética da natureza). No conjunto delas, sinaliza-se a relevância da intervenção final, apresentada pelo filósofo José Barata Moura, trazendo a síntese da discussão havida e também do seu próprio contributo reflexivo em relação ao marxismo no terreno da filosofia.

Assinala-se, finalmente, como detalhe, o dispositivo técnico utilizado ao nível da comunicação (e o cuidado posto neste âmbito específico), com a disponibilização de pleno acesso ao registo integral de som e imagem, ao vivo, pela internet (em http://www.pcp.pt/karlmarx/conferencia), complementada pela publicação em forma de texto das dezenas de intervenções realizadas sob o lema de “transformar o mundo”, sublinhando o sentido da 11ª sobre Feuerbach, numa forma de celebração do legado de Marx profundamente ligada à luta política conduzida pelo PCP em Portugal.