Paraguai
Frente Guasu denuncia: Querem proscrever Fernando Lugo de qualquer forma
A Secretaria de Relações Internacionais da Frente Guasu – coalização política progressista liderada pelo ex-presidente Fernando Lugo – emitiu uma nota onde denuncia o autoritarismo criminoso da oligarquia paraguaia, que tenta desesperadamente impedir que Lugo concorra à reeleição, e para isso usa de todas as armas contra a convocação de um referendo onde o povo seria chamado a decidir se Lugo e outros ex-presidentes podem ser candidatos. Leia a íntegra da nota:
Oligarquia contrária ao referendo do Paraguai é mais violenta que Pinochet e Uribe
O Paraguai tem a infelicidade de ter uma das direitas mais violentas do mundo, concentrada em um oligopólio da mídia – muito pior do que o Clarín – que defende, de maneira selvagem, os seus interesses com mentiras que fariam empalidecer até mesmo Goebbels, o Ministro da Propaganda do Terceiro Reich. Atacam a pessoa (sem argumentos), ameaçam sua família e propõem-se a fazer correr “rios de sangue” e “tomar de assalto o Congresso e o Palácio do Governo”, com total impunidade.
Cumprem as suas ameaças, o Congresso foi incendiado em 31 de março passado, e os incendiários foram aplaudidos pelo oligopólio da mídia, assim como as bandas nazistas eram aplaudidas por Goebbels. E tudo isso porque está em discussão a possibilidade de reeleição à Presidência da República, por um mandato, um tema que, sem dúvida, não deve ser objeto de tanta violência aqui ou em qualquer lugar do mundo. O problema é que a oligarquia não quer correr o risco de que Lugo possa ser eleito presidente. Apenas este pequeno detalhe.
Recentemente, na Colômbia, em uma situação muito mais grave (centenas de milhares de mortos, milhões de migrantes), produto de uma guerra civil de mais de 50 anos, o presidente Juan Manuel Santos propôs submeter a referendo o acordo de paz alcançado com as Farc. Álvaro Uribe, extremista de direita e violento, acusado por graves violações dos direitos humanos, se opôs ao acordo de paz assinado por Santos, mas não houve manifestações violentas e ninguém ateou fogo ao Congresso Nacional. Uribe aceitou o referendo, competindo com os seus defensores (Santos e Farc) e limitou-se a fazer uma campanha pelo NÃO, e foi bem-sucedido, o NÃO foi vitorioso. Obviamente, a atitude de Uribe, um violador contumaz dos direitos humanos, é muito mais civilizada do que a da oligarquia paraguaia, que não aceita resolver pacificamente a possibilidade de reeleição (de Lugo, Nicanor e Cartes) ou não.
O próprio Augusto Pinochet que assassinou dezenas de milhares de chilenos, quando a oposição à sua ditadura cresceu, chegou a um acordo para realizar um referendo para a sua continuidade ou a volta à democracia. O assassino, hiperviolento e autoritário Pinochet concordou em submeter-se à vontade popular, por meio de um referendo público. Ele perdeu e retirou-se, aceitando o resultado. Algo semelhante ocorreu na ditadura militar uruguaia, que se submeteu a um referendo, perdeu, recomeçando a democracia no Uruguai.
Por que no Paraguai os setores contrários ao referendo opõem-se tão violentamente a que o povo decida sobre algo muito menos controverso, como a possibilidade de reeleição para um segundo mandato presidencial? Por que são muito mais violentos do que Uribe e Pinochet?
Há duas opiniões no país, uma a favor de permitir a reeleição por um mandato e outra, contrária. Por que não é possível discutir o assunto pacificamente? Por que não se submete a questão à mais alta autoridade da República, a expressão do povo, por meio de um referendo, como ocorreu no Chile, Uruguai e Colômbia, para casos mais difíceis? Porventura é melhor incendiar o Congresso, causando dezenas de feridos e uma morte? Ou talvez mais mortos? Como a oligarquia paraguaia violenta, bruta e rançosa, pretende resolver as diferenças com aqueles que hoje são maioria no Congresso? Por que não aceita, como Pinochet e Uribe, ir a um referendo? Acaso será porque sabe que vai perder?
Devemos nos conscientizar, no Paraguai, que o melhor a fazer é aceitar a vontade popular, a mais alta autoridade da República, para recuperar a paz. A oligarquia paraguaia tem a oportunidade de demonstrar – aceitando o referendo – que é menos selvagem do que Uribe e Pinochet. Oxalá o faça, e se o SIM ganhar, que aceite Fernando Lugo como o candidato e provável futuro Presidente da República. Desde já, comprometemo-nos a aceitar que não haverá reeleição, se o NÃO for o escolhido. Ou será que a oligarquia, quando perceber que perderá, banirá quem possa ganhar, como ocorreu com Fernando Lugo, vitorioso de 2008?
Secretaria de Relações Internacionais
FRENTE GUASU
Tradução de Maria Helena D’Eugenio para o Resistência