Relações Rússia-África
Forte investimento da Rússia na África
Por Carlos Lopes Pereira, no Avante!
Os ministros das Relações Exteriores e da Defesa da Rússia e do Egito reuniram-se em Moscou, no início de maio, e debateram a cooperação entre os dois países.
O comércio russo-egípcio, cujo volume quase quintuplicou nos últimos anos, receberá dentro de dias novo impulso com a assinatura de um acordo bilateral para a criação da zona industrial russa em Port Said.
A ideia foi lançada em 2014, após uma reunião entre os presidentes Vladímir Putin e Abdel Fattah al-Sisi, e o projeto foi concretizado em 2016 e será formalizado agora.
O investimento na primeira zona industrial russa no estrangeiro – que poderá servir de exemplo para outros casos – deve atingir, naquela cidade mediterrânica junto do Canal de Suez, os sete bilhões de dólares. Trata-se de uma iniciativa a médio prazo e, segundo as estimativas, a instalação da zona industrial demorará 13 anos. Mas espera-se que logo em 2026 a produção das unidades industriais ali criadas atinja 3,6 bilhões de dólares.
Empresas russas de automóveis, de engenharia e de produtos farmacêuticos já manifestaram interesse no projeto. Também fabricantes de maquinaria pesada estudam a transferência de uma parte dos processos produtivos para a nova zona industrial, na perspectiva de reduzir os custos na venda dos equipamentos aos seus clientes no continente africano.
Segundo meios de informação russos, como o serviço de notícias Sputnik e o canal televisivo Russia Today, o Egito se beneficiará com o avultado investimento no acesso imediato a produtos de alta tecnologia e através da criação de milhares de novos postos de trabalho. O interesse de Moscou no projecto é a possibilidade de entrar no mercado egípcio – de 95 milhões de pessoas – como parceiro privilegiado. Além disso, a proximidade estratégica do Canal de Suez permitirá às empresas russas exportar mais facilmente os seus produtos industriais para toda a África, Sul da Europa, Golfo Pérsico e até para América Latina.
No final do ano passado, o Cairo e Moscou já tinham anunciado, depois de dois anos de estudos e negociações, a construção pela corporação estatal russa Rosatom de uma central nuclear em Al-Dabaa, na costa mediterrânica egípcia. Trata-se de um investimento de 21 bilhões de dólares, financiado por crédito russo, estando a conclusão da obra prevista para 2028-2029.
Na África, não é só no Egito que a Rússia está a investir e a competir com numerosas empresas e interesses europeus (britânicos, alemães, franceses, belgas…), estadunidenses e chineses.
Moscou elaborou um plano de cooperação e, na segunda metade de 2017, enviou delegações ao Senegal, Gana, Zâmbia, Moçambique, Zimbabue e África do Sul. Tem incrementado, a esses países e a outros como a Nigéria, a Argélia e a Tanzânia, a venda de produtos russos que vão da agroindústria à indústria automobilística e aeronáutica.
Indicador deste processo de intensificação das relações econômicas entre a Rússia e a África foi também a visita, em março último, de uma delegação chefiada pelo ministro russo dos Negócios Estrangeiros a diversos países africanos. Serguei Lavrov esteve em Angola, Namíbia, Zimbabue, Moçambique e Etiópia e renovou com os respectivos governos laços antigos de cooperação política, económica e militar.
Fonte: Avante!