América Latina
Foro de São Paulo lança o “Consenso de Nossa América” e Maduro defende “transcender o modelo liberal democrático burguês”
Começou nesta terça-feira (10), em Manágua, capital da Nicarágua, a reunião do Grupo de Trabalho do Foro de São Paulo, que contou em sua abertura com a presença do primeiro vice-presidente do Conselho de Estado de Cuba, Miguel Díaz-Canel, que defendeu a unidade da América Latina e do Caribe para enfrentar a nova onda neoliberal que ameaça a integração regional.
O GT aprovou a primeira versão do documento “Consenso de Nossa América” que terá sua versão final aprovada no 23º Encontro do Foro de São Paulo. O “Consenso de Nossa América” é uma tentativa de unir de forma ampla as forças progressistas da América Latina e Caribe em torno de uma visão avançada e consensual sobre os desafios em nossa região. Na quarta-feira (11), foi a vez de o GT receber a visita do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, que defendeu a superação do “modelo liberal democrático burguês”.
Os dois primeiros dias de trabalho
Presentes no encontro do GT representantes de partidos e organizações da Argentina, Bolívia, Colômbia, Cuba, El Salvador, Equador, Guatemala, México, Nicarágua, Porto Rico, Uruguai. Do Brasil, estão presentes o Partido dos Trabalhadores (PT), que ocupa a Secretaria Executiva do FSP com Mônica Valente, e o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), representado por Wevergton Brito Lima, membro da Comissão de Política e Relações Internacionais do PCdoB.
No primeiro dia de atividades, além da aprovação do documento e da visita de Miguel Díaz-Canel, os membros do GT participaram de uma belíssima cerimônia, na praça de La Revolucion, que empossou Daniel Ortega, da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), para um novo mandato de 5 anos na presidência da Nicarágua. O comandante da FSLN foi reeleito com 72,5% do votos.
Na quarta-feira (11), os representantes de cada país fizeram breves relatos sobre a situação política de suas nações. Pelo Brasil, por proposta do PT, a intervenção foi feita pelo representante do PCdoB, Wevergton Brito, que destacou o fato de que “o governo golpista, encabeçado por Michel Temer, completa hoje 215 dias. São 215 dias marcados por crises sucessivas, que já ensejaram a queda de nada menos de seis ministros de Estado, sendo que o primeiro a cair ficou apenas 12 dias no cargo. Tal instabilidade política tende a aumentar, na medida em que a crise econômica se agrava (…) a política econômica do governo, não temos dúvida, irá intensificar a crise social e a luta terá, em 2017, certamente uma outra dimensão, capaz de abalar o projeto político dos setores golpistas. As forças políticas consequentes, que lutam contra o golpe, devem estar à frente deste processo e construir de forma unitária uma agenda política que permita ao povo brasileiro seu rápido reencontro com a democracia, com a integração latino-americana, retomando em novo e mais elevado patamar, a construção de uma sociedade com justiça social e liberdade para o povo”.
Maduro: “Foi Obama quem ordenou o derrubamento de Dilma”
Também na quarta-feira o GT do FSP recebeu a visita de Nicolás Maduro, presidente da República Bolivariana da Venezuela. O dirigente da revolução bolivariana denunciou de forma veemente a ofensiva conservadora e golpista que assola o continente, apontou o papel do imperialismo e acusou o presidente dos EUA, Barack Obama, de ter ordenado a deposição de Dilma Rousseff o que, segundo ele, cedo ou tarde ficará provado.
Disse ainda Maduro que, entre as lições a extrair no enfrentamento com a ofensiva conservadora, está a necessidade de “transcender o modelo liberal democrático burguês”. O presidente venezuelano, durante suas quase duas horas de discurso, citou constantemente Chávez e Fidel como exemplos de líderes revolucionários e parafraseou um religioso socialista que dizia que “Deus encontra caminhos insuspeitos para se manifestar” afirmando que “a revolução encontra caminhos insuspeitos para se realizar”, destacando a diversidade e a criatividade dos povos na busca por caminhos originais para a libertação nacional e social.
Maduro saudou efusivamente a primeira versão do documento “Consenso de Nossa América” e determinou que ele seja intensamente debatido em todas as bases do Partido Socialista Unificado da Venezuela (PSUV), nas diversas instâncias do Congresso do Povo e em outros espaços de articulação progressista. Maduro terminou ratificando “todos os compromissos da revolução bolivariana com os objetivos do Foro de São Paulo”.
Nesta quinta-feira (12) prossegue a reunião do GT, que já definiu que o 23º Encontro do Foro de São Paulo terá lugar em Manágua, Nicarágua, provavelmente entre os dias 16 e 19 de julho.
Um assunto de particular importância é a ofensiva conservadora que se empreende contra o governo da Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN), em El Salvador. Utilizando-se do poder judiciário, a direita tenta criminalizar os dirigentes da FMLN, acusando-os de “crimes” que teriam sido cometidos durante a luta armada contra a ditadura, apesar de o acordo de paz ter sido assinado há 25 anos.
O último dia de trabalho será encerrado com a presença do comandante presidente Daniel Ortega que fará uma visita ao GT. Em breve, o Resistência publicará a primeira versão do documento “Consenso de nossa América”, além das diversas moções e a declaração final do GT.
Wevergton Brito Lima, de Manágua, para o Resistência