Cuba
Fidel, exemplo eterno de ética e patriotismo
A irrupção de Fidel Castro na vida política da primeira metade do século 20 em Cuba foi um necessário alumbramento histórico, entendido em sua orgânica naturalidade, ao passar em revista o passado colonial e neocolonial da nação, junto à reivindicação constante de um povo que jamais tinha sido livre, para falar com as justas palavras de Mella (1).
Por Julio Martínez Molina (*), no Granma
As características – singulares, então manifestadas com sua mesma intensidade, antes dele, somente em uns poucos antecedentes – do amor por seu país, sua defesa da exigência de soberania nacional e o profundo anti-imperialismo que depois professou são muito melhor compreendidas nesta peculiar personalidade, a partir de seu conhecimento da história e seu interesse para com esta.
Os atos de Fidel foram, em grande medida, estratégias, grandes fintas intelectuais para que as cruéis lições da história não se repitam no solo e nas pessoas às quais oferendou sua eterna devoção.
Sempre soube que sem fé na Pátria, orgulho, autoctonia e dignidade, o jogo de viver estava mediado a favor do alienígena.
E os alienígenas, quando são representantes de um sistema imperial, tendem a elidir, menosprezar, avassalar, ridicularizar. Fidel estudou de cor todos os impérios antigos, como igualmenteo fez com o norte-americano desde seu surgimento.
Devido aos anseios evidenciados em seus primeiros séculos de existência, à proximidade geográfica desse país e o trampolim que a Ilha significaria para os apetites de Washington – além da dolorosa incidência estadunidense aqui durante a pseudorrepública -, ele foi muito consciente de que os cubanos devíamos ser anti-imperialistas por ineludível obrigação, sob o perigo de desvanecer-nos na tristíssima condição de marionetes habitantes de um “protetorado”.
Fidel, junto a outros magnos pensadores latino-americanos, semeou na região essa necessária premissa de sobrevivência sobre a base da independência que quando é esquecida, mesmo que por um só momento pelos povos, os conduz a involuções históricas como as verificáveis hoje em partes do subcontinente.
Com a luz de Varela (2), Maceo (3), Martí (4) e Rubén (5) em suas entranhas, contribuiu para educar e fazer o povo pensar. Ensinou à ignorante massa social conformada pelas ditaduras da neocolônia, a importância crucial da cultura, instou-as a ler, mandou um exército de jovens professores alfabetizá-las, exortou-as a cultivar-se espiritualmente.
Sua Revolução do Moncada, do Granma, da Sierra Maestra, Janeiro de 1959 e a atualidade pôde dar a um povo moralmente desamparado, submetido, atado a mentiras, confiança em si mesmo, a autoestima e o prazer de reconhecer-se na independência. Algo inestimável que todos devemos a ele, como àqueles valentes que o respaldaram na longa luta.
Fidel não deixou um minuto de sua vida de pensar em como ajudar seu povo, fato essencial que tampouco poderemos esquecer jamais.
Os noventa anos que completou em 13 de agosto passado não o encontraram conformado; jamais estava por natureza, embora devesse estar por tudo o que representou no destino de Cuba, da América Latina, do Mundo. A história universal tem nele, em sua pátria, capítulos ineludíveis.
O grande poeta argentino Juan Gelman disse que Fidel é um país. Sim, e também um universo, um cosmos, uma galáxia inextricável, o conceito de fazer bem para chegar ao eterno, um viajante do tempo com a capacidade de pós-ver, como teria dito com seu verbo único alguém que tanto o admirvba como Raúl Roa.
Mas, além do mais, pai preocupado pelo caminho de seus filhos, em toda circunstância; uma pessoa entregue irrenunciavelmente aos seus; alguém que sempre pôs seu peito diante das balas para proteger sua tropa.
Um exemplo vivente, eterno, de humanidade, ética, laboriosidade, solidariedade, valentia e amor à Pátria.
(1) Julio Antonio Mella (1903-1929) – Jornalista, revolucionário, um dos fundadores do Partido Comunista de Cuba, na década de 1920.
(2) Também conhecido como o Padre Varela (1788-1853), foi um sacerdote, professor, escritor, filósofo e político cubano que teve um importante desempenho na vida intelectual, política e religiosa na Cuba da primeira metade do século 19. É considerado um dos forjadores da nação cubana.
(3) Antonio Maceo (1845-1896) general cubano, segundo Chefe Militar do Exército Libertador de Cuba. Apelidado “Titã de bronze”, Maceo foi um dos líderes independentistas mais destacados da segunda metade do século 19 na América Latina.
(4) José Martí (1853-1895) – Líder político, pensador, escritor, jornalista, filósofo e poeta cubano, criador do Partido Revolucionario Cubano e organizador da Guerra de 1895 ou A Guerra Necessária, como se entrou para a História a Guerra de Independência de Cuba.
(5) Rubén Martínez Villena (1899-1934), poeta revolucionário cubano.
(*) Julio Martínez Molina é jornalista cubano; tradução da redação de Resistência