Opinião

EUA: O inimigo na própria casa

19/10/2017

“Segundo cálculos do The New York Times, desde 1970 o número de mortos nos Estados Unidos por armas de fogo é superior à de todos os estadunidenses falecidos em todas as guerras das quais participou o país, a partir da sua independência.”

Por Elson Concepción Pérez

Mais uma vez ficou patente que os Estados Unidos não devem continuar buscando inimigos além-mar. Ele está em sua própria casa e são as mais de 200 milhões de armas na posse da população e que causam, cada ano, mais de 33 mil mortos e milhares de feridos.

É bom acrescentar que, também, os Estados Unidos mantêm a hegemonia na venda de armas pelo mundo todo, com 33% do total.

A indústria militar, sob o comando do Complexo Militar Industrial, contribui, cada ano, com bilhões de dólares a um sistema baseado na opulência e no consumo.

Recentemente, a sociedade estadunidense e o mundo todo se viram consternados pela chacina em um hotel de Las Vegas, ação repetida muitas vezes em diferentes lugares da nação do norte.

Um senhor de 64 anos, identificado como Stephen Paddock, aposentado e sem antecedentes que o vinculem a atos de terror, fez uma verdadeira chacina, ao disparar com um fuzil automático contra uma multidão que desfrutava da música country. Já são 59 os mortos e 527 os feridos nessa ação.

É preciso dizer que os diversos governos, democratas ou republicanos, nada fizeram ou em algum caso nada puderam fazer para frear a posse em massa de armas por parte dos cidadãos.

Uma emenda constitucional é o escudo no qual se protegem os setores mais recalcitrantes e os que mais milhões de dólares ganham no mercado das armas.

Hoje esse país se debate entre a tristeza, a incerteza e a falta de fé em que se ajustem as leis e se ponha fim à aquisição livre de armas.

Antes, em junho de 2016, em uma discoteca em Orlando, estado da Flórida, 46 pessoas foram abatidas em similares circunstâncias e com armas procedentes do mesmo mercado.

Mas pode ter sido em um cinema, uma escola de nível médio, um estádio esportivo. Os exemplos, apenas nestes últimos anos, são muitos e em todos há um denominador comum: a posse de armas por parte de pessoas que as usam mesmo para acalmar seu ódio contra um similar do que em um ajuste de contas ou uma aberrante diversão de algum psicopata ou um extremista.

Os mortos podem ser crianças, mulheres, idosos, policiais. Quando se dispara não se pergunta a ninguém se milita em um ou outro partido. Também não se apoia ou não a política irresponsável de armar qualquer cidadão, em nome da segurança nacional.

Trata-se de uma filosofia que os governos estadunidenses incutiram aos seus cidadãos, baseada na justificativa de que suas guerras em países distantes, suas invasões e ocupações, são realizadas para “proteger os Estados Unidos de ações criminais de extremistas”.

Neste sentido, que eu lembre, apenas um fato, os atentados de 11 de setembro de 2011, foram realizados por elementos terroristas chegados do exterior. Ainda que — esclareço — não ficasse firmemente definido que seja assim o que poderia ser vinculado com pretensões do governo dessa época, para buscar uma justificativa e travar guerras que, em nome do antiterrorismo, ainda mantêm as feridas abertas em países como o Afeganistão, Iraque, Líbia e outros.

A própria Agência Federal de Investigação (FBI) descartou qualquer vínculo de algum grupo extremista estrangeiro com o tiroteio ocorrido recentemente em Las Vegas, o que demonstra, mais uma vez, que os máximos responsáveis por estes lamentáveis fatos têm que ser procurados no seio da sociedade norte-americana e, fundamentalmente, naqueles que se enriquecem com o comércio das armas, sem importar-lhes quantas pessoas, familiares, inclusive, possam ser vítimas de seu uso.

Contudo, e por ocasião da chacina em Las Vegas, a Casa Branca, segundo sua porta-voz Sarah Huckabee, considera que “não é momento para um debate sobre o controle de armas”.

Isto poderia ser interpretado como uma licença para que se continuem vendendo estes artefatos de morte, que continue seu uso indiscriminado e que, como resultado final, continuem morrendo cidadãos desse país que são vítimas do inimigo alojado em sua própria casa: as armas de fogo.

Segundo cálculos do The New York Times, desde 1970 o número de mortos nos Estados Unidos por armas de fogo é superior à de todos os estadunidenses falecidos em todas as guerras das quais participou o país, a partir da sua independência.

Também não parece importar que 62% dos cidadãos estejam descontentes com as leis e políticas sobre o controle de armas que têm os governos de sua nação.

Fonte: Granma

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