Internacionalismo
Em Bruxelas, políticos progressistas e ativistas realizam ato solidário com a América Latina
“Um encontro necessário e urgente, de luta pela nossa causa comum”. Assim a embaixadora da Venezuela na Bélgica, Holanda e Luxemburgo, Claudia Caldera, definiu o ato realizado na noite desta quarta-feira (15), em Bruxelas em solidariedade aos povos da América Latina.
O evento foi organizado pelo Grupo Unitário da Esquerda/Esquerda Verde Nórdica (GUE/NGL) do Parlamento Europeu, em conjunto com a organização International Action for Liberation (Intal) e o movimento de solidariedade a Cuba.
Tomaram a palavra os deputados João Pimenta Lopes, do Partido Comunista Português, e Xabier Ziluaga, do Podemos da Espanha, ambos integrantes do GUE/NGL; a deputada cubana Gisela Duarte Sanchez; o ministro do Planejamento e Desenvolvimento da Bolívia, Renê Orellana, e o secretário de Política e Relações Internacionais do Partido Comunista do Brasil, José Reinaldo Carvalho. Encontrava-se presente também Norma Estenoz, embaixadora de Cuba na Bélgica.
No público, de mais de uma centena de pessoas, a combativa militância dos movimentos políticos e sociais belgas e latino-americanos residentes no país europeu, entre os quais brasileiros que constitíram o grupo “Pela democracia e contra o golpe de Estado no Brasil”.
A embaixadora venezuelana fez a narrativa histórica da Revolução Bolivariana, sob a liderança do comandante Hugo Chávez. Desde então, “a Venezuela decidiu adotar um modelo diferente de desenvolvimento e de distribuição da riqueza, decidiu empoderar seu povo, por isso os que se opõem a essa Revolução não nos perdoam”.
Ao enumerar as conquistas do povo venezuelano, acentuou a erradicação do analfabetismo e da pobreza extrema, a nova Constituição democrática do país, a solidariedade internacional, a integração latino-americana e caribenha, com a contribuição que a Venezuela chavista deu para a formação de organismos como a Unasul, a Celac, a Patrocaribe e a Alba.
A diplomata recordou as tentativas de golpe e os momentos em que a oposição fomentou crises e instabilidade, como nos anos de 2002, 2007, 2012, 2013 e agora. Opinou que na crise atual a oposição adota nova forma de ação golpista – a guerra econômica, a tentativa de desmoralização da liderança do país e a difusão do mito de que a Venezuela vive uma crise humanitária cuja única solução reside na intervenção estrangeira.
Sobre o diálogo nacional entre o governo e a oposição e entre a Venezuela e os Estados Unidos anunciado pela chancelaria venezuelana e pelo próprio presidente Nicolás Maduro, a embaixadora Claudia Caldera considerou um passo necessário para deter a crise e devolver a estabilidade ao país. Mas pontuou: “A oposição não quer o diálogo porque sua agenda é a desestabilização do país”.
Finalizou com uma mensagem de esperança e combate, recordando as palavras de Hugo Chávez no seu último pronunciamento: “Unidade, luta, batalha e vitória”.
Por seu turno, a deputada cubana Gisela Duarte Sanchez agradeceu a solidariedade internacional com seu país, destacou os êxitos da Revolução Cubana e a atualidade da luta contra o bloqueio. Lembrou que neste ano, em 13 de agosto, transcorre o 90º aniversário do líder histórico, Fidel Castro, o “comandante invicto”, motivo de alegria para o povo cubano e seus amigos em todo o mundo.
O ministro boliviano do Planejamento e Desenvolvimento saudou o “espírito solidário e revolucionário comprometido com os povos”, que caracterizou a atividade. “Os belos ideais com que estamos construindo um mundo novo são vistos como uma barreira para os planos dos que a eles se opõem”, disse Renê Orellana, ao explicar a contraofensiva do imperialismo e das oligarquias locais em curso na América Latina, que configura uma “reorganização neoliberal” e que está na matriz dos golpes e intervenções.
Referindo-se à campanha do referendo sobre a possibilidade de o presidente Evo Morales voltar a ser candidato à presidência da Bolívia, Orellana disse que houve “uma trama para desacreditar o presidente Evo, uma tramoia perversa e suja”.
O ministro boliviano defendeu a integração, que está na essência dos “nossos processos libertadores” e considerou como maiores desafios do momento o fortalecimento dos movimentos sociais, a realização de conquistas econômicas, e a unidade das forças progressistas.
O retorno do neoliberalismo na América Latina e a ameaça de instauração dos tratados de livre comércio, que representam um “retorno à lógica colonial”, foram as principais preocupações manifestadas por Xabier Ziluaga, deputado espanhol do Podemos, que foi também enfático ao expressar a solidariedade aos povos da América Latina, com o propósito fundamental de assegurar a soberania dos povos e os direitos humanos.
“Testemunhamos uma ofensiva imperialista que se abate sobre os povos da América do Sul e do Caribe. Uma ofensiva agressiva, violenta, criminosa, que faz uso de todos os instrumentos possíveis, desde a distorção da democracia aos golpes de Estado e a intervenção militar”, destacou o deputado João Pimenta Lopes, do Partido Comunista Português.
Ele enumerou as ações das forças desestabilizadoras na região. “O bloqueio a Cuba; o golpe militar em Honduras; os grupos paramilitares na Colômbia; os ilegítimos golpes institucionais no Paraguai e no Brasil; as sanções à Venezuela e a ingerência nesse país; o apoio à direita e à extrema direita em todo o sub continente, aportando regimes ditatoriais, opressores de seus povos e submissos aos interesses do grande capital monopolista, comprometendo a soberania dos Estados”.
O deputado comunista português denunciou os fatores que atualmente atuam em favor da desestabilização dos governos progressistas – o poder judiciário ainda influenciado pela oligarquia e o poder dos meios de comunicação. Criticou a instrumentalização pela direita reacionária e fascista de problemas como as desigualdades ou a corrupção.
Pimenta Lopes denunciou a interferência e a ingerência “que bem conhecemos no Parlamento Europeo, onde a combatemos em uma luta desigual”. Segundo ele, essa ingerência “faz apelo a sanções econômicas e mesmo a intervenções militares”. Irônico, enfatizou: “Conhecemos bem as melhoras para os povos das agressões militares na Líbia, Iraque, Afeganistão ou Síria.
Analisando as razões de fundo dos fenômenos políticos atuais na América Latina, Pimenta Lopes foi preciso. “O imperialismo não perdoa que os povos da América do Sul e Caribe, tenham tomado em suas mãos a decisão soberana do rumo de desenvolvimento para construir seu futuro. O imperialismo não perdoa que haja quem não aceite permanecer submisso a seus interesses e estratégias políticas. Não perdoa os que se opõem ao assalto e ao saque neocolonialista das riquezas e do patrimônio dos povos latino-americanos e tudo fará para condicionar e conter as lutas dos povos”, enfatizou.
O deputado comunista português finalizou ressaltando a solidariedade com a luta e a resistência dos povos latino-americanos: “Os comunistas portugueses e seu Partido, o PCP, sempre estaremos na luta pelo direito soberano de que cada povo possa decidir sobre seu futuro. E em cada momento, em cada espaço, institucional ou nas ruas, estejam seguros de que estamos preparados para a denúncia, o combate e para expresar toda a solidariedade e cooperção com a América Latina e o Caribe que agora, mais do que nunca, é necessária”.
Representando os comunistas brasileiros, o jornalista José Reinaldo Carvalho, secretário de Política e Relações Internacionais do Partido Comunista do Brasil foi um dos oradores no ato em solidariedade aos povos da América Latina, pelo que expressou o agradecimento dos comunistas e do povo brasileiro.
Reinaldo também manifestou votos de sucesso na luta dos trabalhadores e os povos da Europa “pela democracia, a justiça e o progresso social, contra a ofensiva brutal que se desenvolve em desfavor dos povos e da paz”.
O dirigente comunista brasileiro também se referiu aos planos das potências imperialistas no mundo, que resultam em exploração, militarização e guerra. “Sob a ação dessas potências, a humanidade sofre uma nova escalada de ameaças e intervenções bélicas, como tem ocorrido no Afeganistão, Iraque, na Líbia, Síria e no Iêmen”. E denunciou o papel “crescentemente agressivo da Otan”.
Tal como os demais oradores, o dirigente do PCdoB situou que “está em curso uma contraofensiva por parte do imperialismo estadunidense e das classes dominantes locais para reverter o processo de mudanças progressistas iniciado na região da América Latina e do Caribe nos finais do século passado”. Manifestou a “plena solidariedade com a Venezuela, sob ataque e ameaça de intervenção e golpe de Estado; com a Bolívia e a luta de libertação de seu povo e com Cuba, em sua luta contra o bloqueio, congratulando-se também com o Partido Comunista Cubano pelo êxito do sétimo congresso, realizado em abril último”.
Em tom de denúncia, José Reinaldo deu uma explicação pormenorizada e precisa sobre o golpe de Estado institucional em curso no Brasil. Demonstrou a inconsistência dos argumentos revestidos de verniz jurídico que os golpistas utilizam para tentar justificar o impeachment da presidenta legítima Dilma Rousseff. “Um golpe inconstitucional em toda a linha, os motivos do ipeachment não são jurídicos, mas políticos, trata-sede uma nova forma de golpe de Estado, diferente dos golpes militares do passado, mas na essência também um golpe de Estado antidemocrático”, assinalou, destacando o papel nefasto desempenhado por setores do Ministério Público, do Poder Judiciário e da mídia monopolista privada, em conluio com a maioria direitista no Congresso Nacional e com o vice-presidente da República, que durante o processo se revelou um traidor e usurpador.
O público belga, os deputados no Parlamento Europeu, os diplomatas e os ativistas dos movimentos sociais presentes no evento conheceram a análise dos comunistas brasileiros de que a oposição neoliberal e conservadora jamais aceitou as quatro derrotas consecutivas que sofreu nas eleições presidenciais e de que o objetivo do golpe de Estado é “interromper o ciclo progressista iniciado a partir da primeira eleição de Lula, em 2002 e continuado pela presidenta Dilma Rousseff, durante o qual o país mudou do ponto de vista político e social e no exercício de uma política externa que contribuiu para construir uma América Latina independente e para lançar o país e a região como atores de peso no cenário internacional, na luta contra o hegemonismo das grandes potências, por uma nova ordem política e econômica e pela paz mundial”.
A intervenção do representante do Partido Comunista do Brasil abordou ainda questões de fundo: “A atual crise política é também a expressão das contradições estruturais e dos conflitos de fundo da sociedade brasileira, a expressão da encruzilhada histórica entre dois caminhos. Um deles pode conduzir o país a se afirmar como nação democrática, independente e socialmente justa. O outro, antagônico, visa a manter os privilégios das classes dominantes, a dependência aos potentados internacionais, a instauração de um poder político antidemocrático”.
Finalmente, José Reinaldo denunciou o governo interino “ilegítimo, golpista e usurpador”. Além de reiterar o agradecimento pela solidariedade, sentenciou: “Este governo, formado interinamente a partir de um golpe de Estado, não merece o reconhecimento dos povos nem dos governos pelo mundo”. E informou os presentes sobre a “resistência, a luta e a unidade entre as forças progressistas e os movimentos populares, que crescem com a realização de manifestações contra o golpe e a formação da Frente Brasil Popular”.
Da redação de Resistência