Internacionalismo
Declaração de Lima dos Partidos Comunistas e Revolucionários: “Pela unidade, pela justiça e pela soberania nacional”
O Encontro de Partidos Comunistas e Revolucionários da América Latina e do Caribe, organizado pelo Partido Comunista do Peru (Pátria Roja) e o Partido Comunista Peruano e realizado em Lima de 26 a 28 de agosto, além de divulgar uma moção de solidariedade ao povo brasileiro contra o golpe de Estado (leia aqui) também aprovou uma declaração final onde conclama à unidade das forças revolucionárias para enfrentar a contraofensiva imperialista, defender a soberania das nações latino-americanas e lutar pelo socialismo. Participaram do evento organizações da Argentina, da Bolívia, de Cuba, do Equador, de El Salvador, do México, da Nicarágua, do Peru, do Uruguai e da Venezuela. Do Brasil participaram o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Veja a íntegra da Declaração.
Declaração de Lima
Os abaixo assinados, delegados e delegadas dos partidos comunistas e revolucionários da América Latina e do Caribe, reunidos na cidade de Lima, nos dias 26, 27 e 28 de agosto de 2016, no Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Revolucionários da América Latina e d0 Caribe, saudamos a preparação e a organização deste evento, a cargo do Partido Comunista Peruano e do Partido Comunista do Peru “Patria Roja”. Congratulamo-nos com os esforços que fazem pela unidade dos comunistas e da esquerda peruana.
Queremos destacar também que realizamos este encontro a poucos dias do aniversário de 90 anos do comandante Fidel Castro, exemplo de conduta revolucionária e compromisso com o seu povo, para todos os lutadores do nosso continente. Aproveitamos esta oportunidade, para expressar a nossa solidariedade ao povo cubano e exigimos o fim do bloqueio, a que Cuba continua submetida.
Saudamos o acordo de paz na Colômbia e apelamos a todos para acompanharem o tema, com solidariedade e muita atenção ao seu cumprimento.
Crise civilizatória do capitalismo e ofensiva imperialista
Este encontro foi realizado no marco da maior crise na história do capitalismo. Como consequência da mesma, o imperialismo torna-se cada dia mais agressivo, persistindo em suas políticas coloniais, como é o caso, em Porto Rico, nas Ilhas Malvinas e em outras partes. Ao mesmo tempo em que faz uma ofensiva brutal contra a soberania das nações, os direitos dos povos e a paz mundial, ao incentivar políticas e discursos anticomunistas que promovem o crescimento de grupos fascistas e xenófobos.
A atual realidade latino-americana foi caracterizada a partir do final dos anos 1990 por afrontar a crise do neoliberalismo e conseguir eleger governos de esquerda com projetos e caráter progressistas, em vários países. Uma das características notáveis nos últimos anos tem sido o restabelecimento da ideia da Grande Pátria Latino-Americana e o forte impulso apresentado pelos processos de integração realizados na região.
Esta foi a principal força motriz por trás dos acontecimentos mais importantes da região, com as particularidades de cada país. Para os comunistas e revolucionários esta continua a ser uma bandeira importante que está fortemente ligada ao internacionalismo que sempre praticaram. Hoje a nossa região está sofrendo a contraofensiva imperialista e é fortemente influenciada por ela.
Contraofensiva atual do imperialismo
O imperialismo dos EUA está utilizando uma combinação múltipla em sua contraofensiva em Nossa América: o reforço militar e as ameaças constantes da proliferação de bases militares conjugadas a uma campanha midiática e cultural que visa a “normalizar” e “naturalizar” a penetração militar e a dominação ideológica sobre os nossos povos, territórios e recursos naturais estratégicos.
As reservas de petróleo, os aquíferos, os minerais e a biodiversidade dos nossos territórios constituem a principal motivação para esta contraofensiva política e militar. Um exemplo disso é a tentativa de impor acordos como a Aliança do Pacífico, o Tisa ([1]) e o TPP ([2]) dirigidos claramente em favor dos interesses dos EUA.
O conceito de guerra total ou de quarta geração combina guerras convencionais, assimétricas, psicológicas, políticas e midiáticas, com o objetivo de desintegrar as nossas sociedades e povos, na ilusão de que o caos seja controlado por eles, de acordo com a pilhagem dos nossos recursos e a extrema exploração dos trabalhadores, como é demonstrado pela repressão brutal aos direitos trabalhistas e à liberdade sindical, que ocorre na região.
Neste contexto, contemplam-se golpes de Estado, de novo tipo, já triunfantes em Honduras e no Paraguai e em pleno processo no Brasil. Assim como nas últimas eleições na Argentina, onde uma forte campanha de desestabilização articulada a partir da embaixada dos EUA, aproveitou os limites e as fragilidades do processo argentino, levando a direita à vitória eleitoral naquele país. A isso, sem dúvida, devemos adicionar as intenções de golpe na Venezuela, na Bolívia, em El Salvador e no Equador. Como parte desta ofensiva, devemos registrar a tentativa de impedir a República Bolivariana da Venezuela de assumir a Presidência Pro Tempore do Mercosul, conforme registram os regulamentos e os estatutos próprios desta organização de integração regional.
Esta contraofensiva imperialista, como já dito, a cada vez se expressa de forma mais brutal e violenta, em sua tentativa de manter a região, que ainda considera o seu “quintal”.
Desafios e dificuldades para alcançar a unidade
A crise capitalista resultou em maior desigualdade, pobreza e injustiça em todo o mundo. O capitalismo não só claramente falhou na tentativa de resolver os grandes problemas enfrentados pela humanidade, mas também é a causa de muitos deles.
Como enfrentamento, iniciamos um processo de discussão para construir uma agenda política que aborda os conceitos, valores e projeções políticas, que nos cabem assumir, para conduzir mudanças na América Latina e no Caribe.
Em todos os nossos países, a questão da unidade é a chave para levar a cabo a construção de alternativas verdadeiramente populares e transformadoras a serviço de nossos povos.
Para os comunistas e revolucionários, a unidade deve ser construída a partir da articulação real com os objetos sociais da mudança, com base na aliança operária-camponesa e popular, que articule todos os setores oprimidos, excluídos e discriminados de nossa região, em que os jovens e as mulheres têm um papel chave.
É por isso que defendemos e apoiamos todos os esforços de unidade política e social que se desenvolvem em nosso continente. Um claro exemplo a seguir são as experiências das frentes políticas de esquerda, que conseguiram articular as forças sociais em torno de um programa de mudança.
Procuramos coincidências programáticas, reafirmando que a única opção viável contra o capitalismo é o socialismo. Proposta que implica a verdadeira independência, a justiça social, a igualdade de oportunidades, a distribuição equitativa da riqueza, o respeito ao meio ambiente, o direito dos povos de decidirem livre e democraticamente os seus projetos de sociedade. Somos orientados pela defesa dos interesses da classe operária e dos setores oprimidos e discriminados e na luta pelo socialismo baseada em uma ética e moral revolucionárias.
Apelamos a todos os revolucionários da América Latina, chamando-os à unidade. Nestes tempos difíceis, temos de construi-la onde não haja e fortalecê-la onde quer que exista. Pela democracia, pela justiça, pela soberania nacional e pela igualdade.
PELA REAL INDEPENDÊNCIA E O SOCIALISMO
Lima, 28 de agosto de 2016
[1] TISA (Trade in Services Agreement) ou Acordo no Comércio de Serviços é um tratado internacional, voltado para a área de serviços. Esse acordo envolveu cerca de 70% da economia mundial da área de serviços. Atualmente são 50 países membros. (N.T.)
[2] TPP (em inglês Tans-Pacific Partnership). Acordo de Associação Transpacífico estabeleceu uma área de livre-comércio entre doze países da Ásia, Oceania e América.
Tradução da Redação do Resistência