Cuba
Cuba divulga conclusões parciais das investigações sobre os supostos ataques acústicos contra diplomatas dos EUA em Havana
“o tenente-coronel Estrada Portales chamou a atenção acerca de um tema específico. Revelou que assim que foram denunciados estes fatos por parte da embaixada dos Estados Unidos, o chefe do departamento de Segurança Diplomática marcou uma entrevista com o chefe da Área de Segurança da embaixada norte-americana e ao perguntar-lhe acerca da ocorrência dos fatos, a fim de precisar dados para desenvolver a nossa investigação, aconteceu que ‘este funcionário ignorava que esses fatos estivessem ocorrendo’. E acrescentou: ‘isso é muito significativo por duas razões fundamentais: a primeira, que posteriormente esse funcionário, o dito chefe da Área de Segurança, que ignorava a ocorrência dos fatos, foi registrado como um dos atacados; e a segunda, de tanta importância como a primeira, é que ele ignorava a ocorrência dos ataques contra seus funcionários e familiares, quando sua função em Cuba é, precisamente, preservar estes funcionários e familiares’.”
O Granma, órgão do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba, divulgou nesta segunda-feira (30) uma minuciosa matéria onde relata todos os esforços das autoridades cubanas para esclarecer as acusações de Donald Trump e da máfia anti-cubana em Miami, que acusam Havana de ter perpetrado “ataques acústicos” contra diplomatas estadunidenses. Leia, abaixo, a íntegra deste interessante relato.
Em 17 de fevereiro passado, o Departamento do Estado e a embaixada dos Estados Unidos em Havana informaram, pela primeira vez, ao Ministério das Relações Exteriores e à embaixada cubana em Washington, que tinham ocorrido presumíveis ataques acústicos, entre novembro de 2016 e fevereiro de 2017.
Segundo transmitiram as autoridades estadunidenses, estes incidentes se produziram com o emprego de dispositivos de som de longo alcance e os mesmos provocaram afetações à saúde de funcionários dessa legação diplomática e aos seus familiares.
O que é um ataque acústico? Pode ser definido como ataque acústico a emissão de altos decibéis de som, com o fim de gerar diferentes reações físicas e cognitivas com fins de neutralização, mediante o emprego de armas não letais ou equipamentos disponíveis no mercado.
Em Cuba não existe esse tipo de tecnologia e é interdita a sua importação comercial ou de qualquer equipamento com estas funções, pelo qual a sua introdução no país somente poderá ser feita de maneira ilegal.
A investigação
Depois da primeira notificação dos alegados ataques acústicos, as autoridades cubanas assumiram, com muita seriedade, as informações transmitidas pelos estadunidenses. Desenvolveu-se uma exaustiva investigação, indicada pelo máximo escalão do governo cubano, a partir da qual foram desdobradas e efetuadas múltiplas ações de instrução, periciais, técnicas e operativas, de forma a esclarecer os presumíveis fatos em uma área nova, pois não existem antecedentes deste tipo de agressões em Cuba nem em outros locais do mundo.
Cumprindo o estabelecido na Lei de Processo Penal vigente em Cuba, impetrou-se o dossiê investigativo número 10/17, em função de esclarecer um possível delito de Ato contra os chefes e representantes diplomáticos de Estados estrangeiros.
A esse respeito, o tenente-coronel Francisco Estrada Portales, chefe da seção de Investigação Criminal, do Ministério do Interior, revelou um grupo de ações que foram desenvolvidas, entre elas: tomada de declarações a testemunhas residentes nas zonas circundantes dos lugares em que ocorreram os fatos; a emissão de despachos a diferentes instituições a fim de estas certificarem assuntos de interesse para a investigação: medições do espectro rádio eletrônico e de som nas zonas em que se produziram os fatos, bem como a tomada de amostras, especificamente sonoras, nesses ambientes.
Da mesma forma, disse que assim que as autoridades estadunidenses entregaram amostras que tinham sido colhidas por eles nos supostos eventos acústicos, foram realizados exames periciais às mesmas.
Foi conformado um Grupo de Trabalho Permanente, responsável pelo processo de investigação, no qual intervieram diferentes especialidades do Ministério do Interior e foi constituído um comitê de especialistas em temas acústicos, formado por especialistas do ministério da Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente e da Saúde Pública.
De maneira imediata e diante da situação apresentada pela parte estadunidense, o governo de Cuba, cumprindo as suas obrigações com a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, reforçou todas as medidas necessárias para impedir qualquer ação contra os diplomatas dos Estados Unidos.
Neste sentido, o tenente-coronel Estrada Portales referiu-se a que “nas trocas com funcionários da embaixada dos Estados Unidos eles reconheceram que apreciam o reforço das medidas de segurança e proteção e pediram que as mesmas fossem mantidas, em função de garantir a tranquilidade dos seus funcionários diplomáticos em nosso país.
Equipamentos, pacientes, intenções, ruídos…?
Mediante uma nota diplomática, o Departamento do Estado estadunidense informou que os supostos ataques sônicos eram feitos mediante equipamentos acústicos de longo alcance e não contribuiu com mais informação a esse respeito.
Contudo, na investigação efetuada pelas autoridades cubanas não se obtiveram informações ou elementos que viessem indicar a existência de algum equipamento emissor de sons, como o que fora descrito pela parte estadunidense.
Tampouco foram detectadas intenções ou planos de fazer entrar ao país esses dispositivos, pelas fronteiras aéreas ou marítimas, onde foi reforçada a vigilância, em coordenação com a Alfândega Geral da República.
O governo dos Estados Unidos também comentou publicamente que os seus diplomatas tinham apresentado sintomas variados, tais como: náuseas, enjoo, dor facial, dor abdominal, afetação auditiva, problemas cognitivos e, inclusive, danos cerebrais, experimentados em circunstâncias e contextos muito diversos, o que leva a supor o suposto emprego de múltiplos dispositivos.
Reconhecidos cientistas do mundo, autores de inúmeras pesquisas em diferentes campos do conhecimento, como a Medicina e a Física, associados aos fenômenos do som, vêm sustentando diversas hipóteses que colocam em dúvida a ocorrência de supostos ataques acústicos.
Estes especialistas, ligados a instituições acadêmicas e centros de pesquisa de grande prestígio, consideram improvável que a grande variedade de sintomas tenha sido provocada por um equipamento conhecido e explicam que não é possível causar danos cerebrais a partir destes incidentes.
Afirmam que a perda da audição somente pode ser causada pela exposição a fontes de sons audíveis e que não constam antecedentes médicos deste padecimento, que sejam provocados por sons não audíveis, como insistem em apresentar as autoridades e alguns órgãos da mídia norte-americana.
Ainda, eles apresentam o argumento de que não existem armas infrassônicas, capazes de provocar as afecções acima descritas, questão já demonstrada em experiências com animais. Danos desse tipo somente poderiam ser provocados mediante o emprego de potentes equipamentos de grande dimensão, que afetaria as pessoas em um rádio de ação determinado e não de maneira seletiva, tal como alegam os estadunidenses.
Apesar dos supostos danos à saúde, nenhum funcionário da embaixada recorreu às instituições hospitalares, onde habitualmente recebem atendimento médico.
“E até agora a nenhuma instituição do nosso sistema de saúde chegou paciente algum que apresente sintomas associados ou que tenha sido supostamente agredido por uma arma sonora”, confirmou a doutora Martha Beatriz Martínez Torres, especialista de Otorrinolaringologia e uma das que faz parte do comitê de especialistas criado para efetuar a investigação.
Nesse sentido, o tenente-coronel Estrada Portales comentou que foi recebida uma resposta da Diretoria Municipal de Saúde, do município Playa, em Havana, certificando que não tinham sido atendidos ali pacientes com doenças que pudessem ser associadas a ataques acústicos ou ruídos anormais de altos decibéis. “Ainda, foram examinadas algumas das pessoas que moram nas proximidades das moradias onde supostamente estavam ocorrendo esses ataques, e que tivessem sido afetadas, atendidas em suas áreas de saúde, com resultados negativos”, acrescentou.
Durante a investigação foram entrevistadas 20 testemunhas, sendo elas moradores que ocupam as casas próximas das dos diplomatas supostamente agredidos, as quais expressaram não ter sentido ruídos estranhos nem ter apresentado problemas de saúde ou auditivos semelhantes aos registrados pelos diplomatas dos Estados Unidos.
O chefe da seção de Investigação Criminal confirmou que todas as testemunhas foram submetidas a um exame médico minucioso e nenhuma teve afetações da saúde auditiva que pudessem ser relacionadas com os fatos a ser investigados.
Por outro lado, a especialista em audiologia, doutora Álida Suárez Landrián, explicou que como parte do trabalho com as testemunhas foram realizados testes áudio métricos às pessoas que moram naqueles locais supostamente envolvidos nas afetações auditivas.
“Dos ditos testes auditivos, nenhum deles mostrou sinais positivos de um trauma acústico, quer dizer, que essa curva áudio métrica foi negativa, não mostrando nenhum trauma acústico. Por outro lado, realizaram-se, também, testes de reflexo estapedianos e todos se revelaram negativos”, precisou.
Para os especialistas chama a atenção que os moradores do local não tenham sido afetados ou que, ao menos, não tenham escutado os alegados ruídos.
A doutora Martha Beatriz Martínez Torres, otorrinolaringologista, afirma que se no interior de uma moradia ou um local há ruídos acima dos 90 decibéis, no exterior tem que existir ruídos mais altos na escala da frequência auditiva. “O que é que estamos dizendo com isso? Quer dizer que não somente seria afetada a pessoa que estiver em uma moradia ou em um local, mas todo o meio ao redor, todas as pessoas que estiverem no meio exterior também vão sofrer”, acrescentou.
De acordo com as normas internacionais, o grupo de especialistas em temas acústicos efetuou medições do ruído do ambiente em diferentes horários e em áreas próximas das residências dos diplomatas estadunidenses; contudo, não foi detectada nenhuma anomalia.
De sua parte, o Laboratório Central de Criminalística, do Ministério do Interior, também efetuou verificações prolongadas de vigilância acústica e fez gravações do ruído do ambiente, de maneira aleatória, as quais ofereceram resultados que se encaixam dentro dos parâmetros normais.
Uma das limitadas ações de cooperação da parte estadunidense foi a entrega tardia de algumas amostras de som ligadas, supostamente, aos fatos informados e as mesmas foram submetidas a um exaustivo exame por parte dos peritos.
Neste item, o tenente-coronel Juan Carlos Molina Campos, engenheiro em Telecomunicações precisou que depois da análise efetuada às três gravações entregues pelos estadunidenses, “podemos dizer, sem dúvida, que as pessoas que fizeram essas gravações não estavam submetidas a um nível de pressão acústica elevada”, pois para que possa haver dano, as pessoas devem ser expostas “a um sinal com níveis acima de 80, 90, 100 decibéis”.
Por seu lado, o doutor em Ciências Físicas Carlos Barceló Pérez precisou: “Os níveis que nós conseguimos medir estão na ordem dos 74 decibéis, aproximadamente, e esse nível não leva em conta a zona dos danos auditivos traumáticos, porque para que haja um dano traumático permanente, são precisos níveis acima dos 120, 130 decibéis. Então, evidentemente, no que está registrado na gravação, os níveis de ruído nem se aproximam, remotamente, dos níveis que provocariam dano à audição”.
Os parâmetros estabelecidos pela Academia Estadunidense de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço, em relação aos danos humanos expostos a armas acústicas, encontram-se em intensidades superiores aos 90 decibéis. Em nenhum dos casos, as amostras de áudio entregues ultrapassaram estes níveis, fato demonstrado técnica, pericial e cientificamente.
Se bem não foi verificado o uso de meios técnicos para realizar estas supostas agressões, de maneira intencional, durante a rigorosa análise, as gravações mostraram coincidências com os sons emitidos por algumas espécies de insetos, especialmente grilos e cigarras.
O tenente-coronel Molina Campos revelou o seguinte: “Fizemos um teste, tomamos uma gravação em uma praça da nossa capital e a comparamos”.
“Aplicamos as mesmas técnicas de processamento digital que empregamos com as mostras de áudio que eles nos entregaram, o som que gravamos da cigarra e pudemos verificar, de forma coincidente, que também é um som que está acima dos 7 quilociclos, que tem um largo de banda aproximadamente igual, acima dos 3 KHz, e que audivelmente é muito parecido. Fizemos também comparações de espectros de todos os sinais dados com o espectro que gravamos e evidentemente este ruído comum é muito parecido com o ruído de uma cigarra”.
Estes insetos habitam em zonas costeiras, rurais e urbanas, ao longo do arquipélago cubano e foram identificados na prova de campo realizada em áreas próximas das residências dos diplomatas estadunidenses.
Pesquisadores norte-americanos reconhecem que os ruídos causados por um grupo de cigarras podem atingir os 90 decibéis; entretanto, os produzidos pelos grilos podem registrar uma intensidade de 95 decibéis.
Em ambos os casos a exposição, durante tempos prolongados, a estes sons, pode conduzir à perda auditiva, irritação e hipertensão.
Os pesquisadores cubanos demonstraram, através de um profundo estudo, a semelhança entre as amostras sonoras entregues e o som desses insetos. Este resultado foi apresentado à contraparte estadunidense como a causa plausível de alguns incidentes sonoros registrados.
Até agora, os Estados Unidos não responderam sobre a informação entregue; contudo, autoridades desse país, citadas pela mídia internacional, mantendo anonimato, assinalaram que os supostos ruídos são semelhantes aos sons destes insetos.
Resposta oportuna às “suspeitas”
Dois presumíveis ataques acústicos foram registrados em 25 de abril. Desta vez, os funcionários estadunidenses informaram à chancelaria cubana sobre agressões sônicas em apartamentos do hotel Capri, lugar onde se hospedava um diplomata da embaixada e um dos médicos que chegou à Ilha para examinar as hipotéticas vítimas dos supostos incidentes.
Os pesquisadores cubanos demonstraram, através de um profundo estudo, a semelhança entre as amostras sonoras entregadas pelos estadunidenses e o som das cigarras e os grilos.
Independentemente de que decorreram vários dias entre os supostos fatos e a denúncia, as autoridades cubanas realizaram diligências investigativas de rigor. Locais, áreas próximas e outras zonas distantes foram inspecionadas e não se encontraram marcas físicas ou evidências materiais de interesse para a investigação.
O pessoal de administração e serviços, bem como vários hóspedes declararam não ter escutado sons raros ou terem apresentado alguma sintomatologia por exposição a ruídos.
Como parte da análise, foram tomadas amostras de som que registraram um ambiente predominantemente silencioso e foi verificado o hermetismo das janelas dos apartamentos. Também se desenvolveu um experimento, mediante o qual foram emitidos sons de maior frequência e potência que os registrados nas amostras de áudio estadunidenses e se corroborou que não poderiam ser audíveis no interior de nenhum dos dois locais.
Quanto a isso, o tenente-coronel Ernesto Pico Abello, primeiro perito criminalista do Ministério do Interior, explicou: “No raio das zonas exteriores à instalação, de até 150 metros, não existe nenhuma edificação ao nível dos apartamentos que permita colocar uma fonte sonora, inclusive com uma potência de 120 decibéis, que seja considerada daninha para o ouvido humano, ou que possa chegar a ser escutada com a janela fechada nestes apartamentos e provocar poluição acústica daninha para os hóspedes”.
Perante um panorama supostamente incerto de agressões contra diplomatas estadunidenses, foram adotadas logo medidas de segurança e proteção do pessoal, bem como a restrição de movimentos em território cubano e a limitação de viagens para funcionários e familiares à Ilha maior das Antilhas.
Contudo, o comportamento foi totalmente diferente. Prova disso foi que depois de 17 de fevereiro, data em que registraram pela primeira vez os ataques, e até o dia 26 do mesmo mês, os diplomatas estadunidenses informaram à chancelaria cubana 15 viagens fora da capital, com fins recreativos. Por outro lado, entre fevereiro e junho, a embaixada dos Estados Unidos pediu um total de 293 vistos, deles 158 para familiares e amigos dos funcionários credenciados na Ilha, que também se deslocaram livremente pelo país, em viagens de lazer.
Perante esta situação o tenente-coronel Estrada Portales chamou a atenção acerca de um tema específico. Revelou que assim que foram denunciados estes fatos por parte da embaixada dos Estados Unidos, o chefe do departamento de Segurança Diplomática, do Minint, marcou uma entrevista com o chefe da Área de Segurança da embaixada norte-americana e ao perguntar-lhe acerca da ocorrência dos fatos, a fim de precisar dados para desenvolver a nossa investigação, aconteceu que “este funcionário ignorava que esses fatos estivessem ocorrendo”.
E acrescentou: “isso é muito significativo por duas razões fundamentais: a primeira, que posteriormente esse funcionário, o dito chefe da Área de Segurança, que ignorava a ocorrência dos fatos, foi registrado como um dos atacados; e a segunda, de tanta importância como a primeira, é que ele ignorava a ocorrência dos ataques contra seus funcionários e familiares, quando sua função em Cuba é, precisamente, preservar estes funcionários e familiares”.
Obstáculos para a investigação
Durante este período da investigação ficou patente a falta de vontade das autoridades estadunidenses para cooperar no esclarecimento dos fatos, pois não facilitaram a entrega da informação necessária, nem colaboraram com as diligências investigativas do Ministério do Interior.
Na prática, só foi permitiu o acesso fora de tempo dos investigadores cubanos aos lugares supostamente afetados e a entrega de novas mostras de supostas agressões sonoras.
Neste sentido, o tenente-coronel Estrada Portales assinalou: “As autoridades dos Estados Unidos responsabilizaram Cuba com a investigação, determinação e eliminação destes fatos, sem assumir a responsabilidade plena que lhe cabe como país afetado na participação da investigação. Não permitiram o acesso, nem aos investigadores, nem aos fatos porque informaram meses, dias e horas depois de acontecido, nem às vítimas, nem às testemunhas. Neste caso é impossível conhecer a contribuição de uma vítima sem ter sido entrevistada”.
Acrescentou que “além do mais, as autoridades dos Estados Unidos não permitiram que entrevistássemos as vítimas e tampouco ao menos oferecer-nos as declarações que nós pedimos fizessem às vítimas ou funcionários afetados, não só para sua utilização no sentido restrito da investigação policial, mas também para oferecê-las aos especialistas e cientistas que pudessem examinar o que estas vítimas declaravam relativamente à ocorrência dos fatos denunciados”.
Os diplomatas estadunidenses afetados por supostos ataques sônicos constituíam uma evidência principal que seria avaliada pelos especialistas cubanos para o esclarecimento dos fatos. Não obstante, o governo dos Estados Unidos negou o acesso a estas pessoas e as levou para seu território, impedindo que fosse realizado um ditame pericial.
Os Estados Unidos tampouco facilitaram a troca entre cientistas e pesquisadores cubanos e a equipe médica do Departamento de Estado que visitou a Ilha para avaliar os supostos danos ocasionados aos diplomatas.
“Nós estivemos o tempo todo dispostos a atender esses pacientes, para investigar o que havia acontecido. O sistema de Saúde cubano conta com todos os recursos, mas realmente a cooperação foi nula e somente tivemos comunicações, que para nosso critério não foram suficientes, acerca do acontecido”, disse o doutor Manuel Jorge Villar Kuscevic, especialista de 2º grau em otorrinolaringologia e cirurgia de cabeça e pescoço.
Por seu lado, o ditame médico entregue pelas autoridades norte-americanas com a valorização das 20 pessoas supostamente afetadas pela exposição a ruídos intensos, tem só uma página, é muito geral e carece dos elementos técnicos requeridos neste tipo de relatório.
O doutor Villar Kuscevic acrescenta que desenvolveram a investigação toda, a partir de dados incompletos. “Nós não temos, realmente, uma única informação que seja científica e fidedigna para poder chegar a uma conclusão em qualquer sentido”, esclareceu.
Por seu lado, a doutora Álida Suárez Landrián, asseverou: “A única coisa que recebemos do lado estadunidense foram os ditames que, naturalmente, não são nada específicos. Realizaram-se estudos vestibulares, estudos áudio métricos, mas onde estão os estudos? Onde estão os resultados desses estudos? Se nós não temos acesso aos estudos, não temos o resultado dos estudos; como é que podemos alegar que existiu um dano ou que não existiu? Não temos uma base científica, nem uma base sólida para dar um diagnóstico”.
“Tampouco tivemos a possibilidade de aplicar um teste físico-otorrinolaringológico e, além do mais, de forma geral, não conhecemos o meio sanitário em torno destas pessoas”, asseverou a doutora Martha Beatriz Martínez Torres.
Também chama a atenção, durante todo o processo, a falta de oportunidade para informar dos supostos fatos, por parte das autoridades dos Estados Unidos. Todos os fatos foram informados de maneira tardia, apesar de que o Departamento de Segurança Diplomática, do Ministério do Interior, entregou cinco números telefônicos exclusivos para que a embaixada dos Estados Unidos em Havana informasse diretamente qualquer incidência.
Nesse sentido, o tenente-coronel Estrada Portales comentou: “As autoridades dos Estados Unidos informaram todos os acontecimentos tardia e parcialmente. Em 25 de abril informaram de um fato acontecido supostamente 30 dias antes: em 30 de março. Em 6 de abril, às 14 horas, a embaixada informou acerca de um fato acontecido supostamente durante a noite do dia anterior, quando nossas forças chegaram ao lugar para realizar a investigação, não permitiram o acesso às vítimas nem ao interior do local do fato. Com isso impediram o desenvolvimento da perícia policial que correspondem, para o esclarecimento, apesar de as informações terem sido entregues de forma tardia”.
Apesar de que os supostos ataques sônicos são vinculados a áreas e tecnologias pouco conhecidas para Cuba, as autoridades estadunidenses não aceitaram a proposta cubana para fazer uma troca técnica em nível de especialistas, nem facilitaram o uso das suas tecnologias na área dos registros sônicos e infrassônicos.
Revela-se contraditório que os Estados Unidos não quiseram cooperar plenamente neste nível, sendo conhecidas as experiências positivas em áreas de segurança, tais como narcotráfico, lavagem de dinheiro e terrorismo, a maioria em um contexto onde não existiam relações diplomáticas, o que evidencia que se podem obter resultados quando existe vontade política real.
Exemplo disso foi a colaboração bilateral em 2013, nas áreas da Tecnologia da Informação e as Comunicações, quando foram registradas ações de ciberataques contra instalações tecnológicas e militares estadunidenses. Neste incidente, equipamentos cubanos foram previamente controlados a partir do exterior, com o objetivo de utilizar a infraestrutura nacional como ponte e apresentar a Ilha como suposta atacante.
Naquela ocasião foram realizadas trocas bilaterais em nível técnico, operacional e político, que permitiram um rápido esclarecimento dos fatos e, inclusive, a realização das diligências investigativas por parte das autoridades estadunidenses.
A esse respeito, o tenente-coronel Estrada Portales refletiu: “Tal como reiteramos aos funcionários dos Estados Unidos, esta é uma investigação em pleno desenvolvimento. Porém, para que a mesma possa ter sucesso é imprescindível a participação plena e responsável das autoridades desse país; que permitam o acesso aos seus especialistas, que estiveram participando, segundo manifestaram, na investigação do lado deles; que permitam acessar à declaração das testemunhas, que permitam acessar à declaração real das vítimas acerca do que aconteceu e quais foram os sintomas e a outros detalhes que são imprescindíveis para as ações policiais que se devem desenvolver, além das inquéritos a realizar um grupo integrado por especialistas de vários ramos envolvidos nesta investigação”.
Atualmente, após as reiteradas solicitações do lado cubano, somente foi concretizada a cooperação com as agências especializadas estadunidenses para a investigação dos alegados fatos.
Até hoje, não foi possível a troca com a equipe médica que examinou as supostas vítimas, nem com especialistas em temas tecnológicos e acústicos.
Neste sentido, durante os meses de junho, agosto e setembro de 2017, produziram-se na Ilha três encontros entre especialistas dos Estados Unidos e a parte cubana. As trocas foram desenvolvidas em um clima construtivo e profissional, no qual a parte estadunidense expressou sua intenção de cooperar de forma mais eficiente na investigação dos supostos incidentes.
Os integrantes da delegação dos Estados Unidos expressaram que não dispõem de evidências que permitam confirmar a ocorrência dos descritos ataques, e deram fé da inexistência de hipóteses acerca da origem das afetações de saúde referidas por seus diplomatas.
A própria porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert, reconheceu publicamente que seu governo não conseguiu determinar a causa ou um culpado dos supostos eventos sonoros.
Os investigadores estadunidenses assinalaram que não descartam a possibilidade de que os sintomas experimentados pelos diplomatas foram provocados por outras causas alheias aos chamados ataques acústicos, daí a continuidade das investigações.
Reconheceram, também, o desempenho realizado por Cuba no processo investigativo.
O tenente-coronel Estrada Portales conclui dizendo que: “Durante as trocas com os funcionários dos Estados Unidos eles reconheceram que Cuba não tem responsabilidade alguma na execução dos ataques que eles denunciam. Reconheceram, também, que Cuba é um país onde, historicamente, a atividade diplomática é desenvolvida de maneira tranquila e protegida, e que nosso país sempre adotou as medidas necessárias para o desenvolvimento deste trabalho pelos funcionários da embaixada dos Estados Unidos”.
Conclusões parciais da investigação
As autoridades cubanas desdobraram todas as possibilidades investigativas segundo as informações oferecidas pelo lado estadunidense.
- Demonstrou-se a inexistência de evidências que mostrem a ocorrência dos alegados ataques acústicos;
- Não foi possível estabelecer hipóteses investigativas sobre a origem destes fatos, que por sua natureza são eminentemente sensoriais e não deixam pegadas nem sinais, aspecto no qual concordam os representantes das agências especializadas dos Estados Unidos que viajaram a Cuba.
- Tampouco foram identificados possíveis autores nem pessoas com motivação, intenção ou meios para executar este tipo de ações. No trabalho realizado pela equipe de investigadores cubanos e a informação oferecida pelos funcionários estadunidenses não foi estabelecida a incidência de pessoas ou equipamentos suspeitos nos lugares da ocorrência, nem em suas proximidades.
- A equipe médica e cientistas cubanos, depois dasanálisestécnicas e periciais às provas sonoras entregues pelos Estados Unidos, certificaram a impossibilidade de que estas tenham causado afetações à saúde descritas pelos diplomatas.
Durante todo o processo investigativo, as autoridades cubanas mantiveram atualizado o lado norte-americano, mediante notas verbais entregues à embaixada dos Estados Unidos e encontros diplomáticos e de segurança.
A manipulação política
A politização deste tema, tornada evidente nas recentes decisões do governo estadunidense de reduzir ao mínimo seu pessoal diplomático em Cuba e pedir a saída de 15 funcionários da embaixada cubana em Washington, sem que isso esteja sustentado em evidências nem em resultados concludentes da investigação em curso, só beneficia um reduzido grupo da extrema direita anti-cubana, liderado pelo senador Marco Rubio, que teima em manter a política hostil contra a Ilha, em detrimento dos genuínos interesses nacionais dos Estados Unidos e de seu povo, que deram mostras de apoio à normalização das relações entre ambos os países.
Rubio, opositor a qualquer aproximação com Havana, enviou recentemente, junto a outros quatro senadores, uma carta ao secretário do Estado, Rex Tillerson, na qual pede a expulsão de todos os diplomatas cubanos em Washington e o eventual fechamento da embaixada desse país em Cuba, como retaliação aos supostos “ataques acústicos”.
A decisão de reduzir o pessoal diplomático estadunidense em Cuba gerou o rechaço de Bárbara Stephenson, presidenta da Associação Estadunidense do Serviço Exterior, sindicato que representa os diplomatas norte-americanos e reúne 16 mil afiliados. A funcionária manifestou que os alegados problemas de saúde não justificam uma retirada em grande escala.
Esta posição foi respaldada por importantes personalidades e políticos estadunidenses que qualificaram de excessiva e errada a reação da Casa Branca. Consideraram que isso significava um retorno às políticas equivocadas da Guerra Fria e que respondia ao interesse de alguns indivíduos de interromper o processo de normalização.
A implementação das citadas medidas, junto a outras como a suspensão, por tempo indefinido, das reuniões bilaterais na Ilha, a visita a Cuba de delegações oficiais, as restrições na emissão de vistos do consulado dos Estados Unidos em Havana e o alerta aos viajantes estadunidenses para que não visitem Cuba, constituem um retrocesso nas relações bilaterais, pois prejudicam as trocas e a cooperação em diversas áreas de interesse comum, especialmente nos limitados vínculos econômicos e na área migratória.
Esta situação, gerada por interesses políticos, põe em risco a preservação da segurança nacional de ambos os países, pois seriam afetados os acordos em termos migratórios e de aplicação e cumprimento da lei, com impacto direto no enfrentamento a delitos multinacionais como terrorismo, narcotráfico, ataques cibernéticos, tráfico de pessoas e outros.
Ao longo da história revolucionária ficou demonstrado que Cuba cumpre com rigor e seriedade as suas obrigações internacionais, incluída a proteção de todos os diplomatas, sem exceção.
Também, universalmente é reconhecida como um destino seguro. Uma análise da empresa Data World, publicada em inícios de abril de 2017, e baseada nas advertências de viagens emitidas pelo Departamento de Estado durante os últimos sete anos, revelou que Cuba é um dos países de maior segurança para o turismo estadunidense. Nesse período, o Departamento de Estado não encaminhou nenhuma das advertências de segurança para nosso país, nem incluiu a Ilha na lista das 25 nações mais perigosas para a integridade física de seus cidadãos.
Nos últimos dois anos, a partir do início do processo de normalização das relações, incrementou-se o número de visitantes norte-americanos a Cuba, e só neste ano se registram mais de meio milhão, sem contar as viagens dos cubanos residentes nesse país que são mais de 320 mil.
A Ilha nunca vai agredir ou permitirá o uso de seu território para prejudicar diplomatas ou cidadãos estadunidenses, nem de nenhum país do mundo.
Contudo, contra missões diplomáticas e entidades cubanas em cerca de 20 países, foram perpetrados mais de 150 atentados, entre os que se incluem a embaixada cubana perante as Nações Unidas e a então Repartição de Interesses de Cuba em Washington. Estes atos terroristas, executados por grupos assentes no território estadunidense, deixaram um saldo considerável de funcionários diplomáticos mortos ou feridos, entre os que destacam o caso de Félix García Rodríguez, assassinado em 11 de setembro de 1981, na cidade de Nova York.
A partir do triunfo da Revolução Cubana, a Ilha foi alvo direto de constantes agressões de todo o tipo, auspiciadas por diferentes administrações estadunidenses, que praticaram o terrorismo de Estado.
As sabotagens ao navio La Coubre e à loja El Encanto, o ataque mercenário pela Baía dos Porcos, a derrubada de um avião civil cubano em pleno voo e as bombas em diferentes hotéis e centros turísticos do país, entre muitas outras agressões, marcaram o sofrimento de todo um povo, com um saldo de 3.478 vítimas fatais e 2.099 feridos.
Apesar destas agressões permanentes contra o povo cubano, a Revolução manteve como princípio o respeito à integridade física e moral de todos os seres humanos.
Como foi reiterado em diversas ocasiões, Cuba tem a decisão de continuar as negociações dos assuntos bilaterais com os Estados Unidos, na base da igualdade e o absoluto respeito à nossa soberania e independência. Cuba e os Estados Unidos podem cooperar e conviver de maneira civilizada, apesar das profundas diferenças, e promover o benefício para ambos os povos.
Fonte: Granma