Eleições 2022
Comitês populares e frente democrática são as chaves da vitória em 2022
Por José Reinaldo Carvalho (*)
“Hoje são maiores as razões determinantes de esforços pela aliança entre as forças progressistas e a criação de mecanismos de incorporação dos movimentos populares, escreve o dirigente comunista José Reinaldo Carvalho”
Os mais importantes fatos da pré-campanha eleitoral até agora revelam as flexões táticas e estratégicas das forças de esquerda e dos movimentos sociais que podem ter incidência não apenas na batalha eleitoral, mas também no futuro da organização popular e dos próprios partidos progressistas. É auspiciosa a proposta de criação de cinco mil comitês populares, assim como têm sentido progressivo os entendimentos para a criação de uma federação de partidos que abarque formações de esquerda e centro-esquerda, malgrado os obstáculos ainda existentes.
O MST (Movimento Sem Terra) anunciou que vai organizar a partir das próximas semanas ações em locais de trabalho, bairros, universidades e escolas em busca apoio à campanha de Lula à Presidência da República.
Com isso, ganharão força na campanha os Comitês Populares Lula Presidente, em que se reunirão os movimentos sociais e os partidos políticos progressistas.
A movimentação do MST reforça a iniciativa anunciada pelo Partido dos Trabalhadores de criar cinco mil comitês populares.
Igualmente, em diferentes canais das redes sociais os militantes e quadros comunistas mostram sua disposição, bem como das organizações sociais em que exercem influência e direção, para, tão logo esteja concluída a etapa da criação da federação partidária, assentadas as orientações programáticas da campanha e formatada a coalizão nacional que apoiará Lula, somar forças para assegurar a realização de uma campanha popular que seja a marca principal da virada democrática do país.
São fatos alvissareiros, porquanto a decisão de criar os comitês populares corresponde ao desafio de desatar as energias criadoras do povo, até agora represadas devido a diferentes fatores. A mobilização popular é a força motriz de toda mudança progressista, seu fator decisivo. O povo organizado e mobilizado é o vetor principal da ação das forças políticas que têm por missão realizar transformações de fundo no país. Na falta de ligação profunda com o povo reside uma das razões de sucessivas derrotas que a esquerda sofreu nos últimos tempos, contrariamente ao que esta necessitava exercitar como linha política e método de direção. Ao invés da rotina institucional e eleitoreira, as forças que têm por missão histórica construir uma nova sociedade, começando pela reconstrução nacional, devem tomar como divisa o princípio elementar “do povo, pelo povo e para o povo”, o que remete à opção de ligar-se às massas, recolher seus sentimentos, sentir suas dores, ouvir seu clamor, sistematizar suas reivindicações, tomá-las como a matéria prima para formular as ideias-força de um programa transformador, tendo como ponto de partida a plataforma da campanha presidencial.
Isto se ressalta com força na campanha que se inicia. Trata-se de derrotar o governo de extrema-direita e golpista, o qual tem reservas estratégicas, poder de mobilização, forças armadas e milicianas, um arsenal de medidas políticas, econômicas, administrativas e se mostra disposto a ir até às últimas consequências no recurso a meios ilegais e violentos para impor sua continuidade. Em uma luta com tal envergadura não se pode pensar no povo como objeto, mas como o sujeito que, uma vez que tenha sua consciência e energias criadoras despertadas, poderá transformar-se em uma incontível força política.
A criação de milhares de Comitês Populares de Luta, a mobilização das massas populares em seus locais de moradia e trabalho pode gerar uma dinâmica nova no país e até mesmo a formação de um novo sujeito político com mais amplitude e organização do que os partidos políticos, entrelaçado com a ação destes.
Além da mobilização e organização popular, o Brasil precisa mais do que nunca de uma organização política e social unitária, a germinal frente popular, como expressão organizada dos mais profundos anseios nacionais e populares.
Dar passos nessa direção corresponde a uma nova estratégia e tática que pode ter alcance para além da luta estritamente eleitoral, capaz não só de vencer a batalha do voto, como também de assegurar a governabilidade em caso de vitória das forças progressistas. Esses comitês populares podem ser o embrião de um amplo movimento político que, recolhendo as experiências históricas de momentos pregressos da luta do nosso povo, venha a se tornar um poderoso movimento popular organizado.
Paralelamente a isso, desenvolve-se o outro vetor importante da estratégia e tática das forças consequentes da esquerda: a criação da unidade de amplas forças democráticas, populares, patrióticas e progressistas, nucleadas pela esquerda. Há experiências anteriores da existência de tal frente, para citar as mais importantes a que se formou nas campanhas pelas Diretas Já! (1994) e a Frente Brasil Popular em torno da primeira candidatura de Lula à Presidência (1989). Hoje, a unidade democrática e popular pode adquirir expressão na forma da federação partidária, uma oportunidade que as forças consequentes da esquerda não deveriam desperdiçar. A federação reunindo hoje partidos de esquerda e centro-esquerda pode criar uma dinâmica nova na campanha eleitoral e se tornar um fator decisivo para dar governabilidade no caso de vitória.
Em 1989, Lula, João Amazonas e Miguel Arraes atuaram com a convicção de que “a unidade é a bandeira da esperança”. Com toda a experiência vivida e mais ainda com os traumas e derrotas acarretados pelo golpe de 2016 e o advento da extrema-direita ao poder político, são maiores as razões conducentes ao desprendimento de esforços pela unidade entre as forças progressistas e à criação de mecanismos de incorporação dos movimentos populares nesta aliança.
(*) Jornalista, editor do Resistência, secretário-geral do Cebrapaz, membro do Comitê Central e da Comissão Política Naional do PCdoB