Luta pela paz
CMP define lema da Assembleia Mundial da Paz: “Fortalecer a solidariedade entre os povos na luta pela paz, contra o imperialismo”
O Secretariado do Conselho Mundial da Paz reuniu-se na capital grega, Atenas, em 27 e 28 de maio, para discutir a situação política internacional e a agenda do CMP, suas campanhas e ações e as preparações para a Assembleia, que ocorrerá em novembro, no Brasil. Na reunião ficou definido que o lema para a Assembléia Mundial da Paz, que acontecerá em novembro, no Maranhão, será “Fortalecer a solidariedade entre os povos na luta pela paz, contra o imperialismo”.
Quase a totalidade dos membros do Secretariado, composto por 13 entidades, participaram: Comitê Grego pela Distensão e a Paz Internacional (anfitrião da reunião), Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), Conselho Português pela Paz e Cooperação, Movimento Cubano pela Paz e a Soberania dos Povos (MovPaz), Comitê Palestino para a Paz e a Solidariedade, Conselho da Paz dos EUA, Iniciativa Sul-Africana pela Paz, Organização Toda-Índia de Paz e Solidariedade (Aipso), Conselho do Nepal pela Paz e Solidariedade, Conselho Nacional Sírio pela Paz, Conselho da Paz do Chipre e Comitê da Paz do Congo (República Democrática). Como convidados, participaram também representantes dos movimentos da paz da Polônia, de Israel e da Turquia.
A reunião aconteceu na sede da Confederação Geral dos Trabalhadores Gregos, com a introdução feita pelos representantes da Confederação e do Comitê Grego pela Distensão e a Paz Internacional, que trataram da situação dos trabalhadores e do povo grego diante da crise internacional, com reflexos globais.
Em seu discurso na abertura da reunião do Secretariado, a presidenta do Conselho Mundial da Paz, Socorro Gomes, delineou os pontos prioritários na agenda do movimento internacional anti-imperialista, que busca se fortalecer para o enfrentamento à guerra, à opressão e à dominação dos povos. Por isso, central nas discussões da reunião foi a campanha pela dissolução da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que realiza uma cúpula na capital polaca, Varsóvia, em 8 e 9 de julho.
“O CMP convocou uma campanha global de ações e denúncias do seu papel devastador, consolidando uma lógica de ameaças belicosas e uma corrida armamentista que continua empurrando os povos para acontecimentos trágicos. Enquanto nos mobilizamos por nossos direitos e conquistas sociais, por desenvolvimento e progresso comum, pela proteção do ambiente, pelo fim da pobreza e da fome e por um mundo mais justo, como anseio dos povos, as potências seguem comprometidas com a sua articulação pela guerra,” afirmou Socorro.
A militarização do planeta refletida nos gastos militares, na modernização de arsenais nucleares, na disseminação e bases militares estrangeiras (inclusive com o anúncio de março entre os presidentes argentino Maurício Macri e o estadunidense Barack Obama para a instalação de duas novas bases em solo argentino, inclusive em sua tríplice fronteira com o Paraguai e o Brasil), assim como a persistência de frotas navais estadunidenses na América do Sul (Quarta Frota, do Comando Sul) e na África (Africom, Comando África), foram destaques no discurso da presidenta. Socorro apontou, por exemplo, que, em 2015, segundo um relatório do Instituto Internacional de Estocolmo de Pesquisas para a Paz (Sipri), 2,3% do PIB mundial foi gasto no setor militar, ou seja, US$ 1,7 trilhão, ou R$ 4,6 trilhões, no câmbio atual. (Leia o discurso ao fim da matéria)
A situação no Oriente Médio, na América Latina e na África foi destacada pela presidenta, pelo secretário-geral Thanassis Pafilis e pelos demais participantes. A agressividade do avanço imperialista dos Estados Unidos, munidos da Otan e de suas alianças com elites ou oligarquias reacionárias locais, como é o caso da América Latina, foi enfatizada pelos oradores. Sua reação às alternativas progressistas ou de afirmação soberana tem sido a das invasões e agressões, como é o caso da Síria, ou a do respaldo menos evidente, mas ainda assim notável, às elites reacionárias em países onde o golpe é novamente a ferramenta (ainda que em roupagem diferente da já vista nas décadas de 1950, 1960 e 1970 na América Latina).
O Chipre, em parte ocupado pela Turquia; a Palestina, que recém marcou o 68º aniversário da Nakba (a catástrofe), sob a ocupação sionista; a situação do Saara Ocidental, ainda ocupado pelo Marrocos; a do Porto Rico, ainda sob a colonização estadunidense, assim como a das Ilhas Malvinas argentinas, ocupadas pelo Reino Unido, também foram enfatizadas pelos movimentos da paz, mobilizados em solidariedade aos povos que resistem à ocupação, ao colonialismo, às guerras e às agressões, na Síria, no Iraque, no Afeganistão, no Iêmen, na Líbia, entre outros. Além disso, a situação dos refugiados, principalmente os que chegam à Europa buscando escapatória da violência do terrorismo e das agressões contra os seus países, mas são recebidos por cálculos burocráticos e crescente xenofobia, foi um tema importante na reunião, com campanhas já elaboradas por membros do CMP.
Nas avaliações dos participantes sobre a agressividade da reação e do avanço imperialista, da militarização do planeta, do papel de ameaça e coação exercido pela Otan, da persistência do colonialismo e das guerras, os delegados dos 12 países reunidos em Atenas discutiram formas de fortalecer o CMP, as campanhas e ações coordenadas (como a campanha pela dissolução da Otan e o evento paralelo à sua cúpula em Varsóvia), assim como a articulação com outros movimentos sociais, da juventude, dos trabalhadores, das mulheres, e assim por diante, na luta comum contra o imperialismo, por justiça social, soberania e paz, fortalecendo a solidariedade internacional.
Por isso, o lema para a Assembleia do CMP, que acontecerá entre 17 e 19 de novembro de 2016 em São Luís, Maranhão (com o Cebrapaz como anfitrião), ficou definido como: “Fortalecer a solidariedade entre os povos na luta pela paz, contra o imperialismo“.
Os membros do CMP visitaram ainda o memorial de Kaisariani, região onde 200 resistentes foram executados pelas forças nazistas da ocupação, em 1º de maio de 1944 (grande parte deles, adolescentes), com apoio de um regime grego ditatorial e anti-comunista. Além disso, os delegados participaram da comemoração dos 40 anos da Federação de Mulheres Gregas, e o Comitê Grego pela Distensão e a Paz Internacional realizou um evento aberto ao público, em que a presidenta, o secretário-geral e os coordenadores regionais do CMP fizeram breves discursos.
Discurso de abertura da presidenta, Socorro Gomes
Caros amigos e companheiros:
Saúdo a disponibilidade e o compromisso dos nossos amigos do Comitê Grego para a Distensão Internacional e a Paz (EEDYE) pela nossa recepção em Atenas. Agradecemos seu empenho e esforço para garantir as melhores condições para a realização desta importante reunião.
Reunimo-nos mais uma vez em um ano cheio de tensões, tarefas fundamentais e desafios profundos para a nossa mobilização enquanto movimento de luta pela paz e de solidariedade aos povos vítimas da guerra e da opressão, aos trabalhadores vítimas da exploração e às forças democráticas perseguidas em sua luta.
Na atual conjuntura torna-se evidente a nossa prioridade: o fortalecimento do CMP e o aprofundamento dos nossos esforços na luta por uma nova ordem internacional de Paz, Soberania e Justiça entre as nações.
Começamos este ano com a tarefa de nos preparar e nos articular nas campanhas e ações que impulsionem nossas lutas e construam a nossa Assembleia Mundial da Paz, em novembro, no Brasil. Foi com honra e compromisso que o Cebrapaz assumiu a responsabilidade por sediar um evento tão importante para o fortalecimento da nossa organização, articulando com todos os movimentos membros do CMP a agenda que teremos.
Mas enquanto nos preparamos, companheiros e companheiras, seguimos empenhados na execução das tarefas que nos propusemos nas reuniões do Comitê Executivo e das Regiões. Entre elas, destacamos a campanha pela dissolução da máquina de guerra que mais ameaça os povos do mundo hoje, a OTAN, em torno da sua Cúpula em Varsóvia, em julho. O CMP convocou uma campanha global de ações e denúncias do seu papel devastador, consolidando uma lógica de ameaças belicosas e uma corrida armamentista que continua empurrando os povos para acontecimentos trágicos.
Enquanto nos mobilizamos por nossos direitos e conquistas sociais, por desenvolvimento e progresso comum, pela proteção do ambiente, pelo fim da pobreza e da fome e por um mundo mais justo, como anseio dos povos, as potências seguem comprometidas com a sua articulação pela guerra. Em 2015, segundo um relatório divulgado em abril pelo Instituto Internacional de Estocolmo de Pesquisas para a Paz (Sipri), 2,3% do PIB mundial foi gasto no setor militar, indicando o retorno à tendência de aumento que havia sido interrompida. Ou seja: em 2015, o mundo gastou US$ 1,7 trilhão no setor. Os Estados Unidos, que sempre lideram o montante, gastaram US$ 595 bilhões, mais do que o dobro do segundo maior gasto, o da China, de US$ 215 bilhões.
A decisão de 2006 da OTAN de comprometer 2% do PIB de cada país membro para o setor militar indica uma ordem militarizada, de ameaça e de desvio dos recursos dos povos para a guerra. Nos países vizinhos da Rússia e da Ucrânia (Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Romênia e Eslováquia), os gastos militares subiram 13%. O Reino Unido, a França e a Alemanha, de acordo com o Sipri, devem aumentar seus gastos nos próximos anos, sob o falso pretexto de fazer frente ao auto-intitulado “Estado Islâmico” e à Rússia.
Além disso, seus exercícios militares ofensivos e provocadores, como aqueles realizados recentemente em Portugal, Itália e Espanha, evidenciam a intensificação desta lógica de preparação para a guerra. Neste mês, aliás, a expansão da OTAN dá novo salto, com a assinatura do protocolo de adesão de Montenegro, como mais uma afronta à Rússia, neste avanço sobre sua vizinhança. Montenegro vai se tornar um “convidado” que poderá assistir à maior parte das reuniões da aliança belicosa, inclusive sua Cúpula em Varsóvia, enquanto espera pela ratificação da sua adesão como 29º membro pelos Parlamentos dos demais 28.
Neste quadro, são de grande significado e devem ser multiplicadas iniciativas como as tomadas pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação, o Intal-Bélgica e o Conselho da Paz dos EUA, dentre outras iniciativas no âmbito das organizações filiadas ao CMP, para elevarmos o entendimento da população sobre esta nefasta máquina de guerra.
A lógica imposta por essas potências ao Oriente Médio, à África e à América Latina é a da coerção ou a da guerra econômica e midiática, em aliança com oligarquias locais ou regionais, reprimindo e perseguindo aqueles que as contestam, ou planejando o golpe contra aqueles que as enfrentam. Por isso, é incondicional a nossa solidariedade com todos os povos e nações agredidos pelas potências, que põem em risco a segurança internacional para satisfazer seus apetites de dominação mundial e para saquear as riquezas dos povos.
Acompanhamos, consternados, a situação do povo sírio, que entra no quinto ano de guerra, que acarreta a destruição incalculável do país e a perda de centenas de milhares de vidas. Recentemente, vimos mais uma vez o como é o jogo político que as forças imperialistas, lideradas pelos EUA, levam a cabo, custando as vidas de tantos milhares de sírios. Além de seguirem insistindo na deposição de um governo legitimamente eleito, o do presidente Bashar Al-Assad, a coalizão imperialista segue respaldando abertamente a chamada “oposição moderada”, mesmo enquanto um cessar-fogo por muito tempo dependeu apenas da retirada desta oposição do território em que atua um grupo terrorista ligado à rede Al-Qaeda, a Frente Al-Nusra. Não bastasse, o governo de Barack Obama ainda anunciou o envio de mais 250 militares seus à Síria – para além de outros 50 que já estavam no país – alegada e cinicamente para “aconselhamento” e treinamento.
Neste cenário, é preciso destacar a sujeição de milhões de pessoas à condição de deslocadas ou de refugiadas, enfrentando travessias clandestinas, frequentemente fatais, na tentativa de escapar à morte. O drama humano a que assistimos nessas travessias atinge sírios, iraquianos, malineses, iemenitas, líbios, palestinos, somalis, afegãos, entre outros, jogados à própria sorte nos mares ou em longas caminhadas para alcançar a Europa, onde têm sido recebidos por discussões tecnocráticas e crescentemente xenófobas. Desde janeiro até o início de maio, em menos de um semestre, a Organização Internacional para Migração já contabilizava quase 190 mil pessoas chegando à Europa, principalmente pela Grécia e pela Itália, em travessias marítimas precárias. Na Grécia está o maior número de pessoas impedidas de continuar suas viagens: mais de 54 mil, no início do mês.
O verdadeiro negócio feito com a Turquia para o retorno dos refugiados desde países da UE foi vergonhoso, uma violação aos direitos humanos das pessoas em busca de refúgio transformada em transação entre regimes e governos que têm grande parcela da responsabilidade pelo caos na Síria. A condição das pessoas refugiadas é responsabilidade de todos, especialmente das potências agressoras e mantenedoras dos promotores do terror, destruição e caos a que foram submetidos os povos agredidos, como a nação árabe da Síria. Precisamos seguir lembrando este fato ao mundo: os responsáveis pelos sem abrigo, sem porto de destino no mundo, são as potências da OTAN, que querem somente impor seus desígnios e restabelecer sua hegemonia sobre o mundo à base da força.
Além disso, precisamos voltar a discutir a expansão imperialista sobre o continente africano. Não bastassem as agressões da França ou sua presença militar em cerca de 10 países no continente (inclusive, mas não apenas, em operações da ONU), também as tropas estadunidenses o têm transformado em um dos seus laboratórios. O Comando África (AFRICOM), independente desde 2008, é apresentado pelos EUA como expressão de um interesse nacional e garante sua atuação militar em todo o continente. Além disso, realiza um exercício militar anual, Flitlock, no Norte e no Oeste africanos e mantém ao menos uma base militar, no Djibuti – embora esteja esparramado também em outras instalações dos quais não há muitas informações. Há pesquisadores que estimam haver mais de 60 pontos de acesso militar dos EUA em ao menos 34 países africanos.
Na América Latina e Caribe, devemos seguir denunciando a Quarta Frota da Marinha estadunidense, um componente do Comando Sul, reativada em 2008 para ameaçar e acossar os povos na região, que experimentavam o auge de um ciclo progressista de afirmações soberanas enfrentando hoje sérios desafios. É preciso enfatizar a nossa denúncia das 76 bases militares, sobretudo dos EUA, mas também da França, do Reino Unido e da OTAN, e da base naval estadunidense em Guantânamo, assim como o seu horrendo centro de torturas e detenção ilegal, que ainda encarcerava 122 seres humanos em 2015.
Neste esforço, o Seminário Internacional pela Paz e pela Abolição das Bases Militares Estrangeiras, realizado pelo MovPaz e pelo CMP, reuniu em dezembro de 2015 mais de 200 delegados que reconhecem a prioridade desta denúncia para a nossa luta comum pela paz. Precisamos continuar a fortalecer essa iniciativa.
Saudamos também os avanços do povo colombiano em direção à paz, com progressos importantíssimos nos diálogos entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia e o governo, que pressagiam um acordo de paz a ser assinado em breve. A participação do povo neste processo é o que torna alvissareiro, sem a qual os diálogos pouco avançariam. Já vimos no passado outras iniciativas fracassadas, porque a paz não interessa às oligarquias colombianas ou regionais e menos ao imperialismo, que sempre encontrou na Colômbia um portão de entrada para a militarização da região. Por isso, temos enfatizado que a paz da Colômbia é também a paz da América Latina.
Entretanto, na Argentina, a eleição de Maurício Macri colocou um novo desafio ao povo argentino e ao latino-americano, de reavaliação das suas táticas e sua conjuntura. Não é surpresa que lá também o novo governo busque criminalizar a ex-presidenta Cristina Kirschner e promover às pressas os acordos que temos denunciado, como a Aliança do Pacífico e acordos bilaterais com os EUA. Ademais, Macri também anunciou em março que está abrindo as portas para duas novas bases militares dos EUA, inclusive uma na tríplice fronteira com o Brasil e o Paraguai, onde está uma das maiores reservas aquíferas do mundo, uma região também de importância geoestratégica. A América do Sul, além disso, possui as principais reservas de recursos naturais como água e 83% da biodiversidade do planeta, sendo alvo constante da cobiça do imperialismo estadunidense.
Sem espaço para “intervenções militares” diretas na região, os EUA estão envolvidos nas tentativas de golpe contra a Venezuela bolivariana, o Equador e mais recentemente o Brasil, onde um retrocesso histórico será imposto com a consumação do golpe da direita reacionária brasileira na deposição efetiva da Presidenta Dilma Rousseff.
Como na Venezuela, sabemos que no Brasil esta elite recebe financiamento e apoio político dos EUA. O objetivo, que fica evidente, é a continuidade do saque dos recursos naturais e energéticos dos países da região, que ousaram afirmar sua soberania contra a exploração e o controle geopolítico estrangeiros, já que alguns elaboradores da política externa estadunidense ainda pensam que tratam do seu quintal. Não foi coincidência que a Quarta Frota foi reativada quando o Brasil avançava na sua descoberta do Pré-Sal, nem que a Venezuela seja um alvo recorrente do império, principalmente desde que Hugo Chávez lançou a Revolução Bolivariana pela dignidade do seu povo. Não é coincidência que no topo da agenda das forças golpistas estejam as privatizações e o ataque aos direitos conquistados nos últimos anos, abrindo as portas para a reentrada das empresas estrangeiras sedentas dos recursos estratégicos desses países. Não é coincidência que a primeira medida concreta entre Obama e Macri da Argentina seja a instalação das duas novas bases militares.
No Brasil, um governo ilegítimo e interino se apossa da Presidência e dos ministérios para colocá-los na completa contramão do projeto em que mais de 54 milhões de brasileiros votaram, em 2014, anunciando o retrocesso histórico e civilizacional que a direita conservadora almeja para o país, em conluio com seus patrões imperialistas nos EUA. O povo brasileiro recebe incontáveis manifestações de solidariedade à sua luta pelo restabelecimento da democracia contra um processo aviltante de usurpação e achaque contra a presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula pelo Judiciário, o Legislativo e a grande mídia, respaldados pela elite reacionária do país. A mobilização das forças democráticas e progressistas, dos trabalhadores e de todos os movimentos sociais que buscam a justiça e o avanço no país e na região mostra-se cada vez mais premente, numa afirmação veemente da luta anti-imperialista pela soberania, pela segunda e definitiva independência.
Estes são sinais claros e contundentes da forte contraofensiva estadunidense, inclusive na América Latina e no Caribe, onde a alternativa por um mundo de relações multilaterais, independente do hegemonismo dos EUA, é combatida pelo imperialismo. Mas esta é a sua natureza, e apesar da virulência da sua arremetida, os povos continuam se mobilizando, as forças democráticas e progressistas se organizam e resistem. O revés, como temos avaliado, é conjuntural, e o imperialismo sofreu sérios reveses também.
Além disso, companheiros, precisamos continuar denunciando a persistência do colonialismo e da ocupação.
Reforçamos nosso apoio à luta do povo palestino, do povo saaraui e do povo porto-riquenho, todos resistentes à perseguição voraz e brutal por parte dos regimes que os oprimem, uma prática sistemática contra os combatentes pela justiça e pela paz, os militantes pela causa do seu povo, pela liberdade, pela independência e pela dignidade. Presos políticos, muros, proibições, repressão e mortes são denúncias correntes daqueles engajados nessas lutas, na resistência contra a ocupação, a colonização e o imperialismo. Por isso, voltamos a denunciar a insistência sionista, marroquina e estadunidense, assentada em crimes condenados internacionalmente, cujos mandantes precisam ser responsabilizados. Exigimos mais uma vez a libertação desses territórios e de seus povos, assim como o fim da ocupação turca do Chipre, a devolução das Ilhas Malvinas ocupadas pelo Reino Unido ao povo argentino, e o território de Guantânamo, ocupado pelos EUA, ao povo cubano.
Enfatizamos que a persistência colonial é uma afronta à Carta das Nações Unidas e aos compromissos subsequentes pela descolonização do mundo. Trata-se de uma realidade vergonhosa e anacrônica, que seguiremos denunciando. Além disso, os povos ainda submetidos a esta forma violenta de opressão continuam desprotegidos diante da insuficiente, embora crescente, reação global à sua condição.
Na Palestina, além das repetições de massacres cada vez mais fatais por parte de Israel, a violência da ocupação verifica-se diariamente e intensifica-se em períodos de exasperação, enquanto os palestinos resistem valentemente à condição que lhes foi imposta. Continuam sendo, porém, as principais vítimas de uma história de despojo, genocídio e opressão, enquanto seus carrascos seguem impunes. Reafirmamos, por isso, a memória da Nakba, a Catástrofe, cujos 68 anos marcada em 15 de maio mas que é contínua e diária, e reforçamos nossa solidariedade ao povo palestino na sua luta pela libertação.
No Saara Ocidental, a defesa dos direitos do povo saaraui em territórios ocupados ou no Marrocos também tem custo elevado: a liberdade e a vida. Como no caso israelense, a ocupação marroquina sustenta-se na sistemática repressão dos resistentes, muros extensos e milhares de soldados a postos para reprimir e matar. Por isso, saudamos a valentia do bravo povo saaraui organizado na Frente Polisário, que completou em 10 de maio seus 43 anos de luta contra a colonização e a ocupação e pela autodeterminação reconhecida internacionalmente.
Em Porto Rico, a defesa da liberdade e da independência também é perseguida pelos Estados Unidos, que consideram o país o seu território desde que o ocuparam, em 1898, apenas um ano depois de os porto-riquenhos terem conquistado, em árdua luta contra a potência colonial espanhola, a sua autonomia. Hoje, entre os que ousam lutar pela liberdade do seu povo está Oscar López Rivera, há mais de 30 anos encarcerado.
Caros amigos,
Devemos destacar e trabalhar pelo fortalecimento da resistência contra-hegemônica e contestatória, contra um modelo de exploração e especulação que tem nos povos sua principal vítima e na desigualdade a sua plataforma, especialmente neste período de crise internacional. Em todo o mundo, movimentos anti-imperialistas e antineoliberais se engajam com maior determinação, sobretudo contra um sistema de relações internacionais e doméstico assentado na militarização, na ingerência, na agressão, na exploração e na exclusão. Não devemos deixar de estar atentos e denunciar que este quadro é o reflexo de um projeto hegemonista de dominação, onde, desde 2014, atingimos o ponto mais alto da desigualdade, com mais da metade da riqueza produzida nas mãos de 1% da população mundial. Neste mesmo quadro, a crise internacional lançou milhões de pessoas na pobreza e na miséria, causando um retrocesso civilizacional enquanto o capital financeiro, não produtivo e responsável por esta calamidade, teve seus privilégios bem protegidos. As nações, principalmente, mas não só no chamado Sul, ficam condenadas ao neocolonialismo e ao imperialismo, ao subdesenvolvimento e à exploração, inclusive aquela fantasiada de acordos de livre-comércio, ou à invasão, à agressão e à “mudança de regime”, caso ousem resistir.
Este é um sistema que agoniza, que demonstra cada vez mais sinais da sua decadência, embora as reflexões sobre o peso ainda descomunal da economia, do exército e da influência dos Estados Unidos e seus aliados levem-nos a ponderar que esta decadência é relativa. Mesmo assim, a crise do império é evidente, assim como a agressividade da sua reação. Por isso, continuamos a denunciar uma relação de dominação e suas articulações conjunturais que, para a liderança ocidental, em especial a estadunidense, parece natural, já que é expressão da sua auto-intitulada excepcionalidade para ditar as regras da política internacional.
Além dos temas que destaquei, companheiros e companheiras, precisamos também fortalecer a nossa mobilização em torno da abolição das armas nucleares e outras armas de destruição em massa, que seguem ameaçando os povos com o aniquilamento. Precisamos ampliar nossas campanhas e envolver as massas nesta luta, expondo os números e as consequências não só do uso desses arsenais, mas também do investimento na sua modernização e da sua promoção enquanto instrumento de política internacional, mais uma vez, sob a lógica da ameaça.
Na Europa, precisamos expor ainda o fato de os Estados Unidos terem espalhado dezenas das suas ogivas pela Turquia, a Holanda, a Alemanha, a Bélgica e a Itália, através do programa de Partilha Nuclear da OTAN. Isso é inaceitável e precisa ser denunciado! Por isso, recobremos o nosso Apelo de Estocolmo e respaldemos iniciativas como a do Conselho Japonês contra as Bombas Atômicas e de Hidrogênio (Gensuikyo), que deve realizar uma conferência em Hiroshima e Nagasaki em agosto, arregimentando cada vez mais apoio à luta determinada pela abolição desses armamentos.
É emblemático porém que da programação da sua visita a Hiroshima, no dia de hoje (27 de maio), o presidente estadunidense Barack Obama já tivesse descartado qualquer pedido de desculpas pelos bombardeios criminosos que ceifaram as vidas de centenas de milhares de seres humanos e causaram tamanho impacto sobre o povo japonês e o seu país, assim como sobre a própria humanidade. A secretária de Segurança Nacional Susan Rice afirmou em entrevista recente que o governo Obama não considera que recobrar o passado sirva ao avanço da sua política externa. A liderança estadunidense nunca reconheceria a responsabilidade, nem ontem, nem hoje, por indizíveis crimes de guerra e crimes contra a humanidade, nem mesmo em prol da reflexão sobre os pontos mais brutais na nossa história.
Hoje, o governo japonês tem desafiado a vontade do seu povo com a reinvestida militar, aliado à agenda do imperialismo estadunidense. Da mesma forma, a aliança estadunidense com o governo sul-coreano posterga indefinidamente uma reunificação do povo coreano, há décadas dividido exatamente pela ingerência dos EUA e por uma guerra que até hoje está em suspenso.
Os exercícios militares dos EUA com a Coreia do Sul são amostras anuais da ameaça, assim como as sanções impostas ao governo da República Popular Democrática da Coreia. Devemos seguir respaldando as afirmações anti-imperialistas na região asiática, ao tempo em que apelamos por soluções pacíficas às disputas regionais, sem ingerência estadunidense em sem recurso ao enfrentamento bélico, possivelmente nuclear.
É nossa tarefa permanente denunciar a militarização das relações internacionais e exclusão dos povos do debate sobre o futuro do planeta. É neste âmbito, principalmente, que devemos nos fortalecer, reivindicar espaço, voz e decisão, tanto nas organizações que tanto nos inspiram, com princípios de paz e justiça comuns para a humanidade, como as Nações Unidas, quanto no debate público sobre a necessidade de uma nova ordem internacional. Há décadas exigimos a abolição das armas nucleares, o fim do colonialismo, das ingerências, das ameaças belicosas, das bases militares estrangeiras e da máquina de guerra do imperialismo.
Nossas ações fortalecem-nos se envolverem cada vez mais a população na reflexão sobre o nosso destino comum. Continuemos, pois, companheiros, a luta por um mundo em que a paz e a amizade entre os povos prevalesça!
Pois apesar de sua imensa força, o imperialismo não é invencível e os povos o derrotarão!
Atenas, 27 de maio de 2016 | Reunião do Secretariado do CMP