Opinião
China e Rússia promovem a multipolaridade na Eurásia
A aposta principal da Organização para a Cooperação de Xangai é a união e não a divisão, a paz e não o conflito, a cooperação e não o confronto
Por José Reinaldo Carvalho (*) Chefes de Estados e Governos reuniram-se na quinta-feira (4) em Astana, capital do Cazaquistão, na 24ª Cúpula da Organização para a Cooperação de Xangai (OCX).
A OCX é constituída por Cazaquistão, Índia, Quirguistão, Paquistão, Tajiquistão, Uzbequistão, Irã, Rússia e China, estes últimos representados pelos presidentes Putin e Xi Jinping. A entrada da Bielorrússia foi aprovada durante a Cúpula.
Foi mais um passo para a constituição da comunidade global proposta pelo presidente chinês Xi Jinping. A aposta principal é a união e não a divisão, a paz e não o conflito, a cooperação e não o confronto. Os membros da Organização de Cooperação de Xangai (OCX) devem consolidar a unidade e se opor conjuntamente à interferência externa diante dos desafios reais de interferência e divisão, disse o presidente chinês Xi Jinping nesta quinta-feira durante a Cúpula de Astana.
“Os membros da OCX devem apoiar-se firmemente uns aos outros, acomodar as preocupações uns dos outros, lidar com as diferenças internas com um espírito de harmonia e resolver as dificuldades de cooperação buscando pontos comuns enquanto reservam as diferenças, e firmemente tomar em nossas próprias mãos o destino de nossos países e a paz e o desenvolvimento da região”, afirmou o presidente chinês, que também renovou o apelo para que os países da OCX não caiam na armadilha ficar sob o fogo cruzado de uma nova guerra fria.
Por sua vez, o presidente russo Vladimir Putin falou com assertividade sobre a chegada da ordem multipolar.
“Hoje, enquanto o mundo passa por mudanças rápidas e irreversíveis, a posição proativa da OCX nos assuntos internacionais é muito necessária. Um mundo multipolar já é uma realidade”, destacou ele.
“Estamos convencidos de que, juntamente com o Brics, a Organização de Cooperação de Xangai é um pilar da ordem mundial emergente. Essas duas organizações servem como uma força motriz poderosa por trás dos processos de desenvolvimento global e dos esforços para garantir a verdadeira multipolaridade”, acrescentou Putin.
O presidente russo observou que “um número crescente de países está clamando por uma ordem mundial mais justa e expressa determinação em defender seus direitos legítimos e valores tradicionais; novos centros de poder e desenvolvimento econômico estão surgindo e se fortalecendo.”
Segundo o líder russo, a iniciativa da OCX pela unidade global, um mundo justo e a harmonia marca um passo em direção à multipolaridade. “A iniciativa é claramente voltada para o desenvolvimento de medidas de confiança, particularmente no campo da estabilidade e segurança, principalmente em nossa comum região eurasiática”, explicou Putin. “Essas medidas são destinadas a garantir condições iguais de desenvolvimento para todos, independentemente dos sistemas políticos e econômicos dos países, antecedentes religiosos e culturais”, disse Putin.
A Cúpula de Astana aprovou uma Declaração em que exalta os valores da cooperação e proclama o ano de 2025 como o Ano do Desenvolvimento Sustentável.
A Organização para a Cooperação de Xangai (SCO) tem-se afirmado como um dos pilares centrais da emergente ordem multipolar. Fundada em 2001 com a missão de promover a segurança regional, a estabilidade econômica e a cooperação multilateral, a OCX tornou-se um exemplo de como novas alianças podem transformar a geopolítica contemporânea.
A China e a Rússia são os motores da OCX e a têm utilizado, assim como outros grupos, como o Brics, para consolidar o mundo multipolar, e consolidar mais um contraponto à hegemonia do imperialismo estadunidense e seus parceiros. As duas potências euroasiáticas, com suas vastas capacidades econômicas e militares, compartilham uma visão comum de um mundo e acabam de reafirmar que suas relações estão vivendo a era de ouro. A OCX constitui uma plataforma para que ambos os países não apenas fortaleçam suas parcerias estratégicas, mas também promovam um modelo de cooperação que rejeita a dominação unipolar.
A OCX destaca-se pelo seu compromisso com a conectividade e a cooperação. Iniciativas como a Estrutura Regional Antiterrorista e os exercícios militares conjuntos têm sido fundamentais para manter a segurança regional, enquanto projetos como a Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) promovem o desenvolvimento econômico através da criação de corredores de transporte e infraestrutura energética.
A OCX é também uma defensora da inclusão e do multilateralismo genuíno. Com seus 10 membros plenos, os países observadores e parceiros de diálogo, a organização abrange mais de 60% da massa terrestre da Eurásia e mais da metade da população mundial. Este modelo de inclusão contrasta fortemente com blocos mais exclusivistas e sublinha a importância da diversidade e da cooperação entre diferentes civilizações.
A emergência da OCX como uma força influente na política global é um indicativo claro da emergência do mundo multipolar. A capacidade da OCX de unir países com diferentes sistemas políticos e econômicos em torno de objetivos comuns demonstra que a multipolaridade não apenas é possível, mas também desejável.
A Organização para a Cooperação de Xangai é, assim, um pilar fundamental da emergente ordem multipolar. Com a liderança de China e Rússia e seu compromisso com a conectividade, cooperação e inclusão, a OCX está bem posicionada para moldar o futuro da geopolítica global.
Em um mundo cada vez mais dividido e conflituoso, a OCX oferece um paradigma de como a cooperação multilateral pode levar a um futuro mais estável e próspero para todos. Nesse contexto, a OCX dá importante contribuição ao desenvolvimento global e à segurança coletiva, requisitos fundamentais para a paz.
(*) José Reinaldo Carvalho é jornalista e editor do Resistência, sítio na Internet de divulgação de materiais produzidos pelo Coordenador de Solidariedade e Paz do Partido Comunista do Brasil. É membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do Partido Comunista do Brasil e prersidente do Cebrapaz (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz)