Opinião
As classes dominantes brasileiras semeiam uma revolução política e social
Por José Reinaldo Carvalho*
Está em curso, em célere marcha, um golpe de Estado no Brasil. Os partidos de esquerda e os movimentos sociais devem denunciar como tal o processo de impeachment da presidenta Dilma, aprovado no domingo (17) pela Câmara dos Deputados e remetido nesta segunda-feira (18) ao Senado.
A sessão da Câmara dos Deputados, que sob uma direção corrupta e truculenta aprovou a admissibilidade do impeachment da presidenta Dilma revelou a extensão, a amplitude, a profundidade e a força das posições direitistas, reacionárias, obscurantistas e fascistas no Brasil.
Com o passo dado pela direita, o país ingressa em nova fase da luta. As amplas forças democráticas e progressistas mostram-se dispostos a cumprir seu papel na construção da unidade das forças democráticas e progressistas, para o surgimento de um forte polo de esquerda como há muito não se via no país.
Em face da eventualidade de constituição de um governo liderado pelo vice-presidente Michel Temer, caso o Senado venha a confirmar a decisão da Câmara, as forças de esquerda já se proclamam em frontal oposição. Afinal, um governo oriundo de um golpe e de um atentado à Constituição não terá legitimidade. A corja de Michel Temer, Eduardo Cunha, Aécio Neves, FHC et caterva não governará. Haverá dura luta política e social. Para além disso, o movimento político e social polarizado pela esquerda tem a nítida compreensão de que do ponto de vista político, econômico e social, tal governo, se vier a ser formado, será um governo de traição nacional, autoritário, antidemocrático e antissocial. São palavras ao vento os apelos à unidade nacional e à pacificação feitas pelo vice-presidente usurpador. O povo lhe dará as costas. Nenhum diálogo será possível com o governo emanado do golpe.
A ampla e intensa resistência democrática das últimas semanas infunde confiança às organizações políticas e sociais e forja a convicção, a vontade e a decisão política de enfrentar os novos desafios. Em qualquer circunstância, passa à ordem do dia a tarefa de reorganizar as forças de esquerda, uní-las, produzir um novo padrão de formulação programática, praticar diferentes métodos, construir novas alianças, para imprimir novo rumo à luta, que é de longo fôlego.
A ofensiva golpista no Brasil é a mesma que no quadro latino-americano levanta-se como uma contrarrevolução neoliberal e conservadora. Mas, como toda crise, tem seu lado positivo. Inevitavelmente, desencadeia uma reação de igual intensidade, uma resistência democrática, uma mobilização popular como não se via há décadas.
Milhões de brasileiros têm ido às ruas e ainda irão com maior razão para condenar o golpe, defender a democracia, o progresso social, o caminho escolhido pelo Brasil de se postar ao lado dos povos latino-americano por uma integração soberana. Setores democráticos dos mais variados estratos realizam manifestações políticas nos âmbitos trabalhista, estudantil, feminino, cultural, acadêmico, jurídico, desportivo, religioso nas quais se expressa a consciência democrática do povo brasileiro.
A sociedade aparece nítida e irremediavelmente dividida em dois campos opostos. A historiografia oficial das classes dominantes elaborou e difundiu o falso mantra do país moderado, conciliador, imune a conflitos políticos e sociais. Uma mensagem bem pensada para escamotear a guerra declarada contra o povo, em que os acordos entre as elites sempre foram o achado adequado para alternar as soluções de força manu militari com golpes institucionais e midiáticos como agora. É algo que vem do DNA dessas classes, sempre mancomunadas com as potências imperialistas.
Mais uma vez, as classes dominantes retrógradas e suas carcomidas representações políticas dão uma prova cabal de que não convivem com a democracia e a reforma social. Semeiam a revolução.
*Jornalista, secretário de Política e relações Internacionais do Partido Comunista do Brasil e editor do site Resistência [www.reesistencia.cc]