América Latina
Argentina: 100 dias do governo neoliberal
O presidente Mauricio Macri completou na última sexta-feira (18) 100 dias de gestão anunciando um plano de desenvolvimento prometido para a região norte de um país golpeado por uma inflação incontrolável. Nesse período, elevou o nível de conflito trabalhista e agora o país está ameaçado pelos fundos abutres.
Os primeiros 100 dias do governo de Macri foram marcados por decisões estratégicas nos planos econômico e político dentro de um modelo que se diferencia substancialmente do anterior projeto popular nacional, segundo indica a agência de notícias Telam.
Nesta etapa inicial, é evidente a intenção de dar uma guinada não só na execução da política e da economia, mas também na expressão cultural, limitando ou erradicando programas populares. Para assegurar esta linha, colocam à frente de instituições pessoas compatíveis ideologicamente.
A eliminação do controle sobre o dólar provocou uma acentuada desvalorização que, somada à eliminação dos subsídios à eletricidade, aumentaram a carestia da vida. Uma pesquisa do Ibarômetro indica que 49,2% dos argentinos se vê hoje mal ou muito mal economicamente.
A depreciação do peso gerou instabilidade cambial e, por tentar prevenir um maior aumento da moeda norte-americana, o Banco Central mudou as taxas de juros e tirou dólares do mercado, o que prejudicou a reserva nacional. Só em fevereiro, foram perdidos quase dois bilhões.
Faltam ainda os já previstos reajustes no gás e no transporte, que serão repassados aos preços e sentidos em todas as esferas da vida. O sindicato de trabalhadores na alimentação e hotéis, que apoiou Macri nas eleições, admitiu recentemente que o setor foi forçado a fechar 20% dos locais de gastronomia.
Por sua vez, o nível de conflito trabalhista disparou devido à onda de demissões nos setores público e privado. Desde o mês passado, não param as greves, marchas e manifestações contra a política de esvaziamento do Estado, segundo denunciam os sindicatos.
O fantasma do desemprego é muito sensível para a memória social, “mesmo para os mais jovens que não o vivenciaram de maneira tão direta, mas que recebem os relatos de seus pais”, afirma o articulista Washington Uranga em um comentário para o jornal Página 12.
Segundo uma avaliação da Associação de Trabalhadores Estatais, ao todo, desde que Mauricio Macri assumiu, 107 mil trabalhadores ficaram na ruas, 30 mil deles de instituições públicas.
A União de Operários da Construção da República Argentina reclamou que devido à paralisação de obras públicas já comprometidas, quase 30 mil construtores estão hoje parados.
Como parte da política de mudança, muito bem blindada pelos meios de comunicação vinculados aos grupos que hoje controlam o poder político, a administração Macri beneficiou os setores privilegiados do agronegócio e as exportações ao reduzir impostos.
No entanto, políticos opositores e sindicalistas reclamam de que ainda não se veem medidas para favorecer realmente as classes mais vulneráveis.
Nesse sentido, o deputado nacional e líder sindical Omar Plaini disse nesta sexta-feira na Rádio 10 que “há uma transferência fenomenal aos setores mais concentrados da economia” e lembrou que “ainda não se cumpriu a promessa de campanha de eliminar o imposto sobre o lucro”.
Plaini acha que o governo mostra vontade para o diálogo, mas que “o diálogo pelo diálogo não resolve”.
Outro dos eixos dos primeiros 100 dias do governo Macri foi abrir uma agenda em política exterior que incluiu, pela primeira vez em 12 anos, a viagem de um presidente argentino ao Foro Econômico Mundial de Davos, com o objetivo de se voltar ao mercado internacional de capitais.
Nessa linha, a equipe executiva avançou nas negociações com os fundos abutres e o Senado está analisando um projeto de pagamento que inclui um endividamento enorme, o que o governo interpreta como algo negativo, mas irremediável.
Prensa Latina