Opinião
Apoiar a Venezuela bolivariana é um imperativo político e ético
O dirigente comunista José Reinaldo Carvalho (*) escreve sobre a situação de momento na Venezuela e apela à solidariedade total e irrestrita com a Revolução Bolivariana
Na véspera do Primeiro de Maio, quando o governo revolucionário venezuelano convocava o povo para celebrar o Dia Internacional dos Trabalhadores, os golpistas venezuelanos, adestrados pelo imperialismo estadunidense e apoiados pelos governos de extrema-direita do Brasil, da Colômbia e demais países satélites do chamado Grupo de Lima, promovem mais uma intentona golpista, com aparência de golpe militar.
Até agora é um fracasso. Popular e militar. Malgrado a mobilização de setores da população – os mesmos com que já contava Guaidó – não há, mais uma vez, uma adesão popular majoritária ao golpe. E, pior dos mundos para os golpistas venezuelanos e seus patrões internacionais: ficou evidente que não havia nem há dispositivo militar favorável ao golpe. Este é um aspecto saliente, talvez o de maior significação, porquanto desde 23 de janeiro, quando o chefe da Assembleia Nacional em desacato constitucional autoproclamou-se “presidente encarregado”, diuturnamente tem dedicado suas energias à mobilização de apoios externos, em atos recorrentes de traição à pátria, e a angariar, em vão, apoios entre os militares venezuelanos.
O que tem corrido o mundo até agora são as famigeradas fake news, inclusive a propalada tomada da base de La Carlota.
As imagens falam alto, mesmo as editadas pelas redes televisivas manipuladas pelo imperialismo: não foram vistas tropas, generais, oficiais e suboficiais comandando divisões e pelotões para executar ou apoiar o golpe.
Falam ainda mais alto os eloquentes pronunciamentos dos chefes militares bolivarianos, o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, o do Comando Estratégico Operacional da Força Armada Nacional Bolivariana (como se chama o conjunto das Forças Armadas nacionais), Remígio Ceballos. Os pronunciamentos desses chefes podem ser resumidos numa palavra: Lealdade – ao povo, à pátria, à revolução bolivariana, à Constituição do país e ao presidente da República legítimo e constitucional, Nicolás Maduro.
As manifestações de países estrangeiros até agora são também claras a respeito das implicações geopolíticas. Os maiorais da política externa e de segurança dos Estados Unidos pronunciaram-se em favor do golpe e seguem ameaçando com a intervenção militar como uma opção válida sobre a mesa.
Por seu turno, a Rússia pediu o respeito aos princípios consagrados do Direito Internacional e reafirmou o apoio à autodeterminação do povo venezuelano, fazendo um apelo adicional contra o derramamento de sangue em favor da paz.
O México, cujo governo devolve o alento democrático e soberanista à nossa região, tão golpeada em período recente pela ofensiva golpista e intervencionista dos Estados Unidos, lança de novo uma iniciativa diplomática de diálogo e paz.
Em contraponto e contradição com o mandamento constitucional brasileiro e as melhores tradições de nossa política externa de defesa da autodeterminação nacional e da solução pacífica dos conflitos internacionais, o governo de Bolsonaro apressa-se a apoiar a intentona golpista, subordinando-se aos interesses estadunidenses. Com isso, ameaça a paz e a estabilidade regional, o que significa um perigo para a própria população brasileira.
Muito suspeita a viagem, na véspera, do chanceler Ernesto Araújo a Washington, onde se encontrou com o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, e o assessor especial de Segurança Nacional de Donald Trump, John Bolton, com os quais discutiu a situação venezuelana. Araújo saiu dos dois encontros dando declarações em que repetiu o engajamento do Brasil com a política de estrangulamento que os EUA promovem contra a economia venezuelana e manifestou ansiedade com tempo necessário para a derrubada do presidente Nicolás Maduro.
São condenáveis a nota do governo brasileiro, em que faz um chamamento de apoio internacional ao golpe na Venezuela, e as declarações dos generais Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional e Hamilton Mourão, vice-presidente da República, ambos explicitamente favoráveis ao golpe contra Maduro.
Neste cenário, em que o governo reacionário do Brasil e seus militares, associados ao imperialismo estadunidense, somam-se à ofensiva golpista contra a Venezuela, as forças progressistas brasileiras não podem titubear. Manifestar a solidariedade plena com o povo vizinho e irmão e às suas legítimas instituições é um imperativo político e ético.
(*) Jornalista, editor da Página da Resistência, diretor do Cebrapaz e integrante do projeto Jornalistas pela Democracia