Opinião

Albano Nunes: O grande embuste

08/06/2017

A “guerra ao terrorismo” marca de tal modo a agenda do imperialismo que essa foi a grande e única matéria de acordo público nos seus mais recentes conciliábulos, e o atentado de Manchester, invocado para justificar mais medidas securitárias e militaristas (como o atentado de Cabul poucos dias depois para justificar o reforço militar dos EUA no Afeganistão) aí está a confirmar a quem serve este tipo de acções criminosas.

Por Albano Nunes, no Avante!

O terrorismo sempre deu armas à reação mesmo se não foi promovido e organizado, como frequentemente se veio a comprovar, pela própria reação e serviços secretos ao seu serviço.

A questão, porém, vai muito para além de saber que mão está por detrás de atentados como o de Manchester, acerca do qual aliás muito está por esclarecer. Não esqueçamos que o pior de todos os terrorismos é o terrorismo de Estado e que se há estados comprometidos até ao pescoço com a ideologia e a prática do terrorismo eles são a Arábia Saudita e Israel. Ora, foi precisamente por aqui que o presidente dos EUA iniciou o seu primeiro périplo no estrangeiro e foi aqui que foram produzidas as mais altissonantes declarações sobre a “guerra ao terrorismo”, sintomaticamente acompanhadas por colossais negócios armamentistas e pela ameaça de intensificar as operações de ingerência e agressão contra o Irã, a Síria, o Iêmen e tudo quanto possa ensombrar a hegemonia do imperialismo norte-americano na região. Foi com tais feitos na bagagem que Trump chegou a Bruxelas para a reunião da Otan e à Sicília para a cimeira do G7. Feitos que tanto quanto se sabe tiveram a benção dos aliados dos EUA, também eles particularmente empenhados na “guerra ao terrorismo”, de tal modo que essa acabou por ser a única matéria em que se formalizou acordo explícito.

De fato, as divergências e contradições inter-imperialistas revelaram-se com uma nitidez pouco habitual, tornando-se ainda mais azedas em declarações ulteriores, nomeadamente da parte da Alemanha. Declarações que têm a marca de uma campanha eleitoral já em curso mas que exprimem sobretudo as ambições próprias da potência hegemônica da União Europeia, e no quadro de uma manifesta crise da integração capitalista que a classe dominante procura transformar em “oportunidade” para o salto federalista que ambiciona, agora a coberto do slogan lançado por Merkel de que “a Europa tem de tomar o seu destino nas próprias mãos”. As contradições inter-imperialistas são realmente sérias e tendem a agudizar-se com o aprofundamento da crise estrutural do sistema e com a luta, inerente à própria natureza do capitalismo, para abocanhar a maior fatia possível da mais-valia criada pelos trabalhadores de todo o mundo.

É assim que a corrida aos armamentos e a deriva securitária anti-democrática justificadas pela “guerra ao terrorismo” avultam como principais elementos de articulação de classe na luta do imperialismo contra o seu inimigo principal, que são os trabalhadores e os povos de todo o mundo e que, pelos caminhos mais diversos, lutam para se libertar das cadeias de exploração e opressão capitalista e construir o seu próprio futuro.

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