Venezuela
A Venezuela em seu momento decisivo
No próximo domingo, o povo venezuelano vai decidir sobre seu destino. Não é uma “escolha difícil”, escreve o jornalista José Reinaldo Carvalho
Por José Reinaldo Carvalho (*) – Chegou a hora decisiva da Venezuela, um momento crucial da Revolução Bolivariana. É a hora decisiva também para a América Latina, tendo em vista a relevância política e econômica do país, de que é expressão também o papel que tem desempenhado em favor da integração regional. Algumas forças políticas externas se consideram diante de um dilema, em dúvida sobre que posição adotar em face de uma “escolha difícil”. Nós, brasileiros, conhecemos a tragédia que implicou esse falso dilema e a escolha errada feita em 2018, sob pressão de forças alienígenas e das mentiras que intoxicaram a maioria do eleitorado.
Facilitemos as coisas: o critério de decisão sobre a quem brindar apoio não é o alinhamento ideológico ou político com o chavismo, o socialismo, o anti-imperialismo, a gestão Maduro, o PSUV e outras formações revolucionárias, progressistas, democráticas e populares do Grande Polo Patriótico, como se designa a ampla frente de forças políticas e sociais que respaldam a candidatura à reeleição. A disjuntiva é mais simples. Basta discernir sobre as características essenciais da conjuntura que vivemos, compreender as tendências principais deste momento histórico e as ameaças que pairam sobre os destinos da humanidade. Trata-se de decidir sobre qual força política pode, nas atuais circunstâncias nacionais venezuelanas, regionais e tomando em consideração também a conflitiva situação mundial, garantir a soberania nacional, a estabilidade, a paz, os programas sociais consolidados ao longo de um quarto de século desde a primeira posse de Hugo Chávez, a defesa dos recursos naturais, especialmente o petróleo, a justa posição diante dos conflitos internacionais e as aspirações dos povos da região. Do ponto de vista estritamente venezuelano, o que está em jogo, em uma expressão prosaica, é a dignidade nacional.
Apesar das dificuldades econômicas oriundas das deficiências do modelo econômico e principalmente das sanções impostas pelo imperialismo, no exercício de seus dois mandatos presidenciais Maduro deu continuidade a várias políticas sociais implementadas pelo saudoso comandante da Revolução Bolivariana, Hugo Chávez, focando principalmente em programas sociais, educação e saúde.
Maduro manteve e expandiu as missões sociais, que são programas voltados para atender as necessidades básicas da população mais pobre. Algumas das principais missões sociais incluem: Missão Barrio Adentro, focada na saúde, com o objetivo de oferecer atendimento médico gratuito e acessível nas comunidades mais carentes, com a ajuda de médicos cubanos; Missão Robinson, para a alfabetização de adultos; Missão Mercal, um programa para fornecer alimentos subsidiados à população, visando a combater a fome e a desnutrição. Estas são as principais, mas no total, operam mais de 29 missões, que estão em constante transformação e reajuste de acordo com a situação atual do país.
O governo de Maduro continuou a investir em educação gratuita. Foram construídas novas escolas e universidades, e houve um aumento no número de bolsas de estudo para estudantes de baixa renda.
No setor habitacional, tomou impulso o programa “Grande Missão Habitação Venezuela”, uma das prioridades do presidente, Maduro, com a promessa de construir milhões de casas para famílias de baixa renda. Este programa visava reduzir o déficit habitacional no país e fornecer moradia digna para a população mais necessitada.
Um dos programas mais importantes foi o CLAP (Comitê Local de Abastecimento e Produção), introduzido como uma medida para enfrentar a escassez de alimentos. O programa distribui caixas de alimentos subsidiados diretamente às famílias, tentando mitigar os efeitos da crise alimentar.
Maduro também manteve políticas de subsídios para energia e transporte, visando a proteger a população mais pobre dos impactos da inflação.
O Governo Maduro, mesmo sob forte pressão do imperialismo, que submete o país a duríssimas sanções econômicas para criar dificuldades sociais e crises políticas, tem sido um pilar de estabilidade, mantendo, em meio a inauditas adversidades, a paz e a unidade, combinando firmeza de princípios e flexibilidade tática e metodológica, buscando novas parcerias internacionais e diálogo com a oposição democrática.
A política externa de Maduro tem se caracterizado por um esforço contínuo para promover a paz e o diálogo, buscando um equilíbrio global e fortalecendo laços com nações do Sul Global. A Venezuela, sob sua liderança, desafiou sanções internacionais e isolamento diplomático, ao mesmo tempo em que formou alianças estratégicas com países como China, Rússia e Irã. Estas parcerias reforçam a resistência venezuelana e promovem um mundo multipolar. Maduro tornou-se um interlocutor qualificado dos grandes líderes internacionais, entre eles o presidente Lula, os presidentes Xi Jinping e Vladimir Putin, e um combatente da justiça, contra as desigualdades, os desequilíbrios em solidariedade com as vítimas de golpes, intervenções e guerras. Tem sido uma das vozes mais sonoras no concerto mundial contra o genocídio perpetrado pelos sionistas na Palestina martirizada. Igualmente, o presidente e candidato à reeleição fez acenos positivos aos Estados Unidos, comprometendo-se a realizar diálogo respeitoso e em pé de igualdade a fim de normalizar as relações bilaterais.
Para além de tudo isso, a vitória de Nicolás Maduro nas eleições de 28 de julho será um vetor progressivo na situação política regional e mundial, terá um impacto significativo nas alianças entre países da América Latina e do Caribe, fortalecendo coalizões anti-imperialistas e promovendo a integração regional soberana através de mecanismos como a Alba e a Celac.
Com a eleição venezuelana ocorrendo pouco antes da 16ª Cúpula do Brics na Rússia, a possibilidade de adesão da Venezuela ao grupo é um tema relevante. Sua inclusão como membro pleno poderia diversificar e fortalecer a representação do Brics, com a rica base de recursos naturais da Venezuela, sua posição estratégica e sua história de cooperação internacional servindo como ativos valiosos.
Durante a campanha encerrada ontem, Maduro expressou confiança na vitória, destacando que sua candidatura representa não apenas um indivíduo, mas todo um povo determinado a defender sua soberania e independência. A reeleição é uma oportunidade para enfrentar os desafios econômicos do país, combater a especulação e a inflação e avançar na Revolução Bolivariana, que visa a justiça social e o bem-estar do povo.
A Revolução Bolivariana tem aprofundado o caráter democrático da Venezuela, com foco na participação popular. O enfoque venezuelano é a democracia popular, não a liberal. Nenhum país é obrigado a seguir um modelo político forâneo.
Nos últimos dias, as forças imperialistas internacionais, em conluio com a extrema direita venezuelana e com o apoio maciço de veículos de mídia, têm difundido mentiras sobre a campanha eleitoral de Maduro. Estão insinuando que ele reagirá com violência em caso de derrota, criando um clima de tensão e instabilidade. Além disso, essas mesmas forças estão preparando o terreno para que a extrema direita e países imperialistas não reconheçam os resultados das eleições, caso seja derrotada, alegando fraude.
Essas ações visam a minar a credibilidade do processo eleitoral e desestabilizar o país. No entanto, a história recente da Venezuela demonstra que o governo Maduro tem buscado soluções pacíficas e democráticas para as crises, promovendo o diálogo e a negociação como instrumentos de resolução de conflitos.
As forças políticas externas, sobretudo na vizinhança geográfica, sinceramente amigas do povo venezuelano, ainda que não se alinhem ao ideário da Revolução Bolivariana, não têm com que se preocupar com a reeleição de Nicolás Maduro. Mas têm, sim, muito a temer caso o imperialismo estadunidense e seus aliados reacionários na Venezuela e em toda a região latino-americana e caribenha cantem “fraude” e se insurjam contra a opção do povo de Bolívar e Chávez, promovendo alguma operação desestabilizadora decorrente da rejeição da oposição ao resultado eleitoral. Se os governos progressistas da América Latina querem de boa fé ajudar a Venezuela e seu povo, o primeiro passo é tomar distância das pressões da Casa Branca e do Departamento de Estado e não aceitar a desonrosa missão de promotores de uma assim chamada “transição democrática”, senha americana para apoio a algum tipo de golpe. É responsabilidade das forças progressistas da região contribuir para a estabilidade e a paz e em nenhuma hipótese agir como procuradores de qualquer ação golpista dos EUA e da direita.
(*) Jornalista, membrio do Comitê Central e da Comissão Política do PCdoB, presidente do Cebrapaz, coordenador do setor de solidariedade e paz