Socialismo
A Tendência de Desenvolvimento do Socialismo Mundial sob as Grandes Mudanças Internacionais
Intervenção de José Reinaldo Carvalho na Conferência sobre os partidos políticos e a civilização humana, realizado nos dias 2 e 3 de dezembro na Universidade de Shandong, China
Por José Reinaldo Carvalho (*) – O século 21 tem sido marcado por mudanças geopolíticas significativas, desafiando paradigmas estabelecidos e redefinindo relações internacionais. Neste contexto, o desenvolvimento das lutas pelo socialismo e o empenho dos países socialistas dirigidos por partidos comunistas para construir a nova sociedade nas novas condições geopolíticas e no âmbito de realidades nacionais peculiares emerge como um fenômeno intrinsecamente ligado às dinâmicas globais em evolução.
Continua viva a aspiração da humanidade por um mundo equilibrado, justo, pacífico e de bem-estar para toda a humanidade. Esta aspiração defronta-se com a dura e complexa realidade das contradições sociais, das desigualdades, dos desequilíbrios ambientais, dos golpes contra a democracia, da vigência de governos antipopulares e das guerras, fruto do domínio de potências imperialistas.
Entre as mudanças internacionais mais importantes observamos o agravamento de turbulências e conflitos.
Por outro lado, a conjuntura mundial é marcada pelas potencialidades das lutas dos povos e nações que lutam por independência e desenvolvimento e dos países socialistas por seu progresso e modernização. O mundo enfrenta uma crise multidimensional de proporções inauditas. Persiste a crise do sistema capitalista, crescem as desigualdades nacionais e sociais, agravam-se os problemas das massas populares decorrentes da superexploração do trabalho, do desemprego, do alastramento da miséria e da deterioração das políticas públicas.
Acentuam-se os traços mais destrutivos da ordem internacional sob o domínio de potências imperialistas. Entrelaçam-se os fatores de crise econômica, social e ambiental com as contradições geopolíticas.
O surgimento da multipolaridade trouxe consigo desafios e oportunidades para a luta dos povos e os esforços de construção do socialismo. O enfrentamento de desafios globais, sejam estes as crises, os conflitos e guerras, sejam os desafios da superação da pobreza e da promoção do desenvolvimento, assim como os desafios da modernização demonstram a importância e a atualidade da luta pelo socialismo nas novas condições do mundo contemporâneo.
Enquanto emerge uma potência socialista como a China, com as peculiaridades chinesas na nova era em processo de acelerada modernização socialista, consolidando seu papel no palco global, novos atores surgem, influenciando a luta pelo socialismo no mundo.
O entrelaçamento das tarefas permanentes da construção do socialismo com as tarefas próprias da modernização, com intenso progresso econômico, social e tecnológico, e a inovação econômica destaca uma tendência contemporânea do socialismo na nova era. Isto ganha força ainda maior quando se observa a persistência com que a China luta para cumprir a meta centenária de construir um país socialista poderoso, moderno, civilizado, culturalmente avançado e democrático, promovendo simultaneamente a paz e o desenvolvimento compartilhado para toda a humanidade no plano mundial.
Em um mundo interconectado, a colaboração internacional torna-se essencial para o socialismo. A solidariedade entre nações socialistas, assim como parcerias com movimentos progressistas em todo o mundo, pode fortalecer a influência do socialismo e criar respostas mais eficazes para enfrentar os desafios comuns.
A tendência de desenvolvimento do socialismo mundial está intrinsecamente ligada às grandes mudanças internacionais. A adaptação a um mundo multipolar, a abordagem pragmática da China e a resposta a desafios globais são aspectos cruciais desse processo. O socialismo do século XXI deve ser dinâmico, flexível e capaz de articular uma visão relevante em face das complexidades do mundo contemporâneo.
Para os países socialistas e os povos e nações do mundo que lutam pelo socialismo, o mais importante é manter hasteada a bandeira do socialismo e da modernização socialista. Os países socialistas reúnem todas as condições para avançar na luta pelos seus ideais e objetivos, unindo seus povos e esforçando-se para pôr o povo em primeiro lugar, realizando progresso social, construindo a prosperidade comum e modernizando-se incessantemente.
No plano internacional, os partidos comunistas, as forças do progresso e da paz podem avançar na luta por uma ordem econômica e social justa, renovando seus compromissos com a paz mundial, em solidariedade com os povos ameaçados e agredidos, no combate ininterrupto ao imperialismo. Nesse contexto é importante elaborar programas e plataformas a partir dos quais se projetam as lutas dos povos, cuja unidade deve ser estimulada e preservada, pois a luta pelo socialismo depende do papel das massas e estas só poderão desempenhar este papel se estiverem unidas. Cabe aos partidos que lutam pelo socialismo considerar como elementos indissociáveis a luta pela paz, a luta anti-imperialista, a luta pelo desenvolvimento e por uma nova ordem social justa.
Hoje a humanidade está confrontada com o plano de dominação global do imperialismo, nomeadamente o estadunidense, de exercício da hegemonia mundial por meio de uma guerra de amplo espectro, cujas consequências são as mais nefastas para a humanidade. É por este meio que o imperialismo empenha-se em impor a sua “nova ordem”, mais um “século americano” – ainda que isto a olhos vistos seja hoje uma quimera, pois tudo indica que esses planos de hegemonia serão derrotados.
Em nome dessa “ordem”, o imperialismo estadunidense emprega a força bruta, menoscaba o direito internacional, deprecia as instituições multilaterais, aplica o galso multilateralismo, militariza a vida do planeta, atropela e instrumentaliza as Nações Unidas, tudo em nome da primazia dos seus interesses, em detrimento da paz e da soberania dos povos.
O movimento pelo progresso e a paz se afirma opondo-se a essa estratégia de dominação. Sua plataforma é a antípoda a esses planos, é um programa de luta essencialmente voltado para a emancipação nacional e social, ao desenvolvimento nacional, à paz, à cooperação internacional e ao multilateralismo genuíno.
A solidariedade internacional é elemento essencial dessa luta, é a expressão do internacionalismo de massas, da diplomacia popular, um traço de união entre todos os momentos da história das lutas dos povos por sua soberania e independência, muitas das quais resultaram em revoluções populares vitoriosas.
O internacionalismo e a solidariedade entre povos estão intrinsecamente ligados à luta pela paz e ao patriotismo popular. Só é internacionalista aquele que luta pela emancipação nacional e social de seu povo. E só são verdadeiramente patrióticas as forças políticas que têm consciência de que os combates pela independência nacional não terão consequência se não estiverem vinculados com as lutas dos demais povos irmãos. Não há contradição entre o patriotismo e o internacionalismo, muito menos entre estes e a luta pela paz.
Esta visão tem muito a ver com o escopo da luta nacional. Na época do imperialismo, as classes dominantes locais associadas às potências hegemônicas exercem seu poder por meio de políticas neoliberais e opressivas e de mecanismos supranacionais que não correspondem às aspirações dos povos. Esta é uma razão a mais para as forças do progresso, da paz e do socialismo serem internacionalistas. Porque essas políticas da burguesia internacional associada com as burguesias locais em grande medida se uniformizam, uma vez que são as únicas correspondentes ao estágio atual do capitalismo.
O Brasil atualmente tem um governo progressista, defensor da soberania social e de transformações sociais, liderado pelo presidente Lula. O governo enfrenta enormes obstáculos interpostos pelas classes dominantes, que há muito abandonaram os interesses nacionais, ataram seus destinos aos do imperialismo e ao seu sistema econômico. Nessa medida, a burguesia monopolista-financeira brasileira traiu os interesses nacionais, tornou-se incapaz de conduzir qualquer processo de caráter democrático, ou nacional e soberano. Não é possível ser patriota defendendo as políticas que a grande burguesia brasileira defende.
A política das elites nacionais é de aviltamento, fragilização e comprometimento da soberania nacional. O nacionalismo da classe dominante é falso.
Os comunistas brasileiros lutam pela independência nacional e simultaneamente apoiam a luta de todos os povos por sua emancipação nacional e social. São solidários com as nações e povos socialistas que sustentam firmemente a grande bandeira do progresso social, da construção da nova sociedade, mais humana, justa, culta e civilizada. A luta pelo socialismo é tarefa estratégica de todos os trabalhadores e povos oprimidos. Somente o socialismo libertará a Humanidade de séculos de opressão, humilhações e sofrimentos.
O programa dos comunistas brasileiros põe em relevo a luta em defesa da soberania e da independência do nosso país, luta que envolve não somente os inimigos externos, cada vez mais agressivos, como também os inimigos internos, boa parte da grande burguesia e seus associados estrangeiros. Essa luta constitui uma das grandes tarefas da época em que vivemos. A conquista do socialismo é inseparável do empenho por uma pátria livre, soberana e independente. Em última instância, o internacionalismo proletário, na situação atual, é também a defesa da soberania nacional de todos os países.
Para alcançar a modernização do nosso país, é necessário organizar o povo brasileiro, todas as forças democráticas e progressistas por transformações na sociedade brasileira, conscientes de que a modernização da sociedade e a conquista do socialismo é um caminho prolongado e complexo, repleto de desafios.
Para atingir os objetivos da modernização e conquistar o socialismo é necessário construir alianças políticas com amplas forças sociais.
Nesse sentido, adquire significado primordial a defesa da soberania e da independência nacional; a exigência de democratização ampla e profunda da vida do país; a solução da questão social em constante agravamento, visando tirar o Brasil do atraso e da pobreza, garantir a liberdade para o povo, afirmar a identidade nacional e alcançar um estágio de desenvolvimento que assegure o bem-estar das pessoas.
A conquista do socialismo é obra das amplas massas, dos trabalhadores em geral, sob a liderança do Partido Comunista e demais forças políticas que lutam pelo socialismo. Exige, na atualidade, a criação de uma sólida frente nacional, democrática e popular, reunindo partidos, personalidades políticas democráticas, organizações de massas, defensores da soberania nacional. Esta frente deve ser capaz de unir o povo para realizar as transformações de que o Brasil necessita para sua modernização como nação independente e capaz de desempenhar um papel construtivo no surgimento de uma nova ordem política e econômica internacional.
Consideramos que se reveste de grande importância para a modernização e a afirmação dos países em desenvolvimento e a conquista de seus objetivos como nações progressistas e justas as contribuições da China com as recentes iniciativas que tomou, sob a liderança do presidente Xi Jinping, como as iniciativas pelo desenvolvimento global, pela segurança coletiva e pela construção da civilização global. A China renova constantemente seu compromisso com a paz mundial e a segurança coletiva. Isso tem contribuído para a busca de um novo equilíbrio no mundo, a estabilidade regional e global.
A Iniciativa de Desenvolvimento Global, a Iniciativa de Segurança Global e a Iniciativa de Civilização Global são importantes para o mundo porque visam a promover valores civilizacionais, o que tem um impacto profundo nas relações culturais e nos intercâmbios internacionais e portanto para a paz mundial e o desenvolvimento de todos.
As iniciativas chinesas, no contexto mais amplo da modernização do país, têm um impacto significativo no cenário global. À medida que a China se torna mais desenvolvida, poderosa e influente, ela gera mudanças nas dinâmicas do poder global. Essas iniciativas oferecem oportunidades econômicas e de desenvolvimento para muitos países. É crucial que a comunidade internacional se engaje com essas iniciativas porque se trata de construir a comunidade de futuro compartilhado da humanidade.
A China moderna desenvolve uma diplomacia multidimensional, abarcando setores como economia, cultura, educação e humanidades para promover a convergência de civilizações.
A modernização chinesa segue o caminho do desenvolvimento pacífico, o que trará mais certeza à paz e a estabilidade no mundo. A marcha da China em direção à modernização representa um reforço aos partidários da paz e do progresso social.
(*) Jornalista, editor do site Resistência, membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do PCdoB, onde é responsável pelo setor de Solidariedade e Paz. É também membro da direção do Cebrapaz – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz